Curso de Formação
faz resgate histórico e aponta perspectivas de organização
Após resgatar a
história do ANDES-SN e do sindicalismo no país, curso apontou os
desafios do movimento docente e dos demais trabalhadores. Fortalecer
a paralisação nacional de 30 agosto é a tarefa mais imediata
“Onde estamos e
para onde podemos ir dentro do embate em favor do projeto de
educação que defendemos”. Assim que Josevaldo Cunha, 1º
vice-presidente da regional NE2, abriu o curso de formação sindical
promovido pelo ANDES-SN, nos últimos dias 16 e 17, na Universidade
Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ). Foi o primeiro – de um
total de cinco – que serão organizados nas cinco regiões do país,
ainda no segundo semestre de 2013, conforme deliberado pelo 58º
Conad da categoria, realizado em julho, em Santa Maria (RS).
Cunha, que é um
dos coordenadores do Grupo de Trabalho de Formação Sindical
ANDES-SN, considera a iniciativa como um dos reflexos da grande
greve nacional do ano passado. “Houve um acréscimo quantitativo e
qualitativo da participação dos docentes nas pautas”.
No primeiro dia
do evento, coube a Paulo Rizzo, 2º secretário e encarregado de
Relações Sindicais do ANDES-SN, contar um pouco da história do
movimento docente. “Tudo começou com um pequeno cartaz, fixado por
professores da USP, chamando para uma reunião de associações
docentes durante uma SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência). Várias apareceram e alguns encontros nacionais foram
realizados até no final de 1979, quando estourou a primeira greve
nacional dos professores das federais. Havia uma polêmica sobre
fundar ou não uma Associação Nacional dos Docentes de Ensino
Superior, assim como, para alguns, não era momento de paralisações.
Mas a greve nacional constrangeu esses setores”, explicou Rizzo.
Quanto ao
formato, a então recém-fundada entidade optou pela proposta de
organização “por local de trabalho”. “Os servidores já estavam em
lutas nas associações como se sindicatos fossem”, conta o diretor do
ANDES-SN. No caso dos docentes, Rizzo relatou que “não queriam
construir um sindicato atrelado ao Estado; eles queriam uma
organização nova. Uma estrutura horizontal contra a verticalidade da
estrutura sindical foi majoritária”. E, depois da redemocratização,
as associações docentes locais se converteram em seções sindicais.
O papel do
sindicato
O professor
retomou as reflexões de Karl Marx para criticar uma compreensão
“fragmentada” sobre o Sindicato. De acordo com ele, a especialização
imposta à Academia contribui para uma leitura “priorista” e não
relacionada com entidades de classe. “Qual é a função do
sindicato?”, interrogou. “O sindicato, claro, tem uma função na luta
por direitos. Mas ele também atua como mediador na relação social de
troca da mercadoria/força de trabalho. Aquelas tabelas (para
negociação salarial) que fazem muitos olhos brilharem com o salário
que defendemos, na verdade, expressam nossa visão de valor de uso da
mercadoria que é nosso trabalho”, defendeu.
Desafios
Na segunda etapa
do curso, Antônio Libério, 2º vice-presidente da Regional Leste do
Sindicato Nacional, elencou uma série de desafios para o movimento
docente. De acordo com Libério, o primeiro deles é fazer a base da
categoria se reconhecer como classe trabalhadora. “Nosso ‘chão de
fábrica’ não é o tradicional. Pelo fato de não fazer um serviço
braçal, parte de nossa categoria não se reconhece trabalhadora.
Somos um sindicato de intelectuais”, apontou.
O segundo
problema se refere aos professores recém-ingressos na universidade,
que chegam muitas vezes sem vivência sindical e acabam por aceitar
mais facilmente o produtivismo acadêmico. “O produtivismo ‘casa’ com
esses docentes que não se colocam na discussão da classe. É um
desafio para o Sindicato trazer esses professores novos na
carreira”, afirmou.
As
especificidades da base do ANDES-SN, que agrega três setores –
Federais, Estaduais/Municipais e Particulares – foi apontada por
Libério como mais um fatos complicante. Ele destacou também a
particularidade do setor das Federais, que abrange professores do
ensino básico, técnico e tecnológico (EBTT) e do magistério superior
(MS).
“Mesmo dentro dos
setores já há diferenciações entre estados, entre municípios, de
realidade. Quando juntamos os três setores, então, essas diferenças
tendem a se acentuar. O Sindicato é para todos e unir todos em
objetivos comuns é um grande desafio. No caso das federais, não é a
toa que defendemos uma carreira única. Isso nos fortalece enquanto
categoria e enquanto sindicato. E justamente por isso o governo
mantém essa fragmentação”, avaliou Libério. O diretor do ANDES-SN
pontuou que, recentemente, a criação do Proifes – braço sindical do
governo dentro do movimento das federais – constitui-se como mais um
obstáculo a ser enfrentado.
Por último, o
docente tratou da organização por local de trabalho na atual
conjuntura de expansão do sistema de universidades. “Há uma grande
dificuldade porque muitos dos problemas de assédio moral, de
condições de trabalho, acontecem no campus descentralizado. É
preciso reconhecer que temos essa dificuldade em acompanhar esses
campi longe da sede. Muitas vezes não temos condições de estar lá,
especialmente com uma diretoria pequena”, observou.
As lutas do
sindicalismo nacional
Para Atnágoras
Lopes, da Coordenação da Executiva Nacional da CSP-Conlutas, o
abandono da trajetória socialista, pelo PT, e a completa ausência de
embate da CUT são elementos que somam forças no processo de
reorganização da classe trabalhadora. “O próprio dirigente do
Partido dos Trabalhadores afirma que a carta assinada do PT ao povo
brasileiro, após os dez anos no poder, não expressou ruptura, mas
mudanças programáticas que se iniciaram em 1995, durante o governo
FHC. A CUT que surge das lutas, nos anos 90, passou a ser a CUT da
colaboração. Hoje, a central é declaradamente chapa branca”.
O representante
da CSP-Conlutas citou como exemplo a luta contra o PL 4330, das
terceirizações. “A preocupação da CUT é dizer que vai negociar até o
fim com os setores patronais. A nossa necessidade é o sindicalismo
que mantenha a mobilização permanente da classe trabalhadora. Eles
negociam pra evitar a mobilização. Além disso, seus grandes
dirigentes estão no governo. Houve cooptação”, afirmou. Para
Atnágoras Lopes, interessam à CSP-Conlutas as lutas unitárias, com
as demais centrais sindicais. “Isto ajudará no processo de
fortalecimento da nossa central, mas não abrimos mão do embate e da
mobilização”.
Paralisação
nacional em 30 de agosto
Nesse contexto,
Atnágoras reforça que o dia 30 de agosto possui uma importância
ímpar. A aposta é que a paralisação seja superior à do dia 11 de
julho. Colocar a classe trabalhadora em movimento torna-se tarefa
primeira da CSP-Conlutas e de seus sindicatos filiados.
*Com edição do
ANDES-SN, 23/8/13.
Fonte: Adufrj - SSind