"Cura gay" e
universidade federal à distância vão à contramão de clamor popular
Parece que nem
mesmo o forte clamor popular por mudanças e por democracia,
repercutindo no mundo inteiro, é suficiente para sensibilizar os
poderes em Brasília. Demonstrando falta de sensibilidade às
reivindicações populares, como o fim da homofobia e mais qualidade
para a educação pública, novas ações do Executivo e do Parlamento
seguem na trilha da precarização das políticas públicas e de
incitação ao preconceito.
Entre essas
medidas estão o anúncio do ministério da Educação de que irá enviar
ao Congresso Nacional um Projeto de Lei propondo a criação da
primeira universidade federal de educação à distância e a aprovação,
na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados,
do Projeto de Lei que determina o fim da proibição, pelo Conselho
Federal de Psicologia, de tratamentos que se propõe a reverter a
homossexualidade, conhecido como o projeto de "cura gay".
Universidade
Federal de Educação à Distância
O ministro da
Educação Aloizio Mercadante afirmou nesta segunda-feira (17) que o
MEC deve enviar ao Congresso Nacional em agosto um Projeto de Lei
propondo a criação da primeira universidade federal de educação à
distância do Brasil. Segundo o ministro, a proposta vem para
aumentar a capacidade de absorção da demanda por ensino superior no
país.
Para o ANDES-SN,
oficializar uma universidade de ensino à distância é mais uma medida
na área da educação que tenta esconder a precarização da educação
federal, ao mesmo tempo legitimando a Educação à Distância (EaD)
numa base única, o que traz consequências negativas para a qualidade
da formação superior no Brasil. "A Educação à Distância não tem
qualidade do ponto de vista social. Uma aula presencial é
completamente diferente de uma aula virtual. A relação
professor-aluno também é totalmente prejudicada: numa sala de aula
você consegue identificar os alunos, entender suas particularidades.
Na virtual você não sabe nem quem está do outro lado", afirma a 2ª
vice-presidente da regional Rio de Janeiro do ANDES-SN, Elisabeth
Barbosa.
A diretora do
ANDES-SN também observa que, enquanto a Educação à Distância está
chegando com muita intensidade no Brasil e em outros países da
América Latina por interesse comercial, já vem sendo repensada em
países como os Estados Unidos. "O Ensino à Distância numa
perspectiva de formação superior é surreal. Educação é
transformação. Como transformar algo que para você é desconhecido?
Nestes casos, a relação professor-aluno no processo pedagógico
inexiste", completa Elisabeth.
Projeto de “Cura
gay”
Já nesta
terça-feira (18), a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos
Deputados, presidida pelo deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP),
aprovou o projeto de lei que determina o fim da proibição, pelo
Conselho Federal de Psicologia, de tratamentos que se propõem a
reverter a homossexualidade. A votação do projeto vem sendo adiada
há várias semanas, por causa de protestos de militantes do movimento
LGBTT e manobras parlamentares contra o projeto.
O projeto de
decreto legislativo, de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO),
suspende dois trechos de resolução instituída em 1999 pelo Conselho
Federal de Psicologia (CFP). O primeiro trecho suspenso afirma que
"os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham
tratamento e cura das homossexualidades". O outro trecho anulado
pela proposta determina que "os psicólogos não se pronunciarão, nem
“participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação
de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em
relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem
psíquica".
De acordo com o
2° vice-presidente do ANDES e coordenador do GT da entidade que
discute relações etnicorraciais de gênero e diversidade sexual, Gean
Santana, a aprovação do projeto representa um grande retrocesso, que
pode reforçar mais ainda a homofobia e as consequências nefastas que
ela tem para gays e lésbicas. "Se se abre essa possibilidade,
estamos dizendo que os homossexuais são doentes e que precisam ser
curados e cria-se, assim, um estigma de doente em relação àqueles
que já enfrentam diariamente uma série de preconceitos", afirma o
diretor, que lembra ainda que há mais de vinte anos a
homossexualidade deixou de ser classificada como doença na
Classificação Internacional de Doenças (CID).
“Por conta dessa
não compreensão, temos até hoje sujeitos que não conseguem lidar de
forma tranquila com a sua sexualidade. E isso não é por causa da
homossexualidade, pelo contrário, isso é consequência da homofobia
que está institucionalizada em diversos espaços da sociedade, como
religiões e no próprio Estado. É enorme, por exemplo, a quantidade
de cidadãos gays e lésbicas que se suicidam ou tentam o suicídio, a
maioria jovens”, alerta Santana.
*com informações
da Folha de São Paulo
Fonte: ANDES-SN, 19/6/13.