CSP-Conlutas
aprova luta contra privatização do petróleo para próximo período
A luta contra a
privatização da Petrobras foi aprovada como centro da atuação da
CSP-Conlutas para o próximo período, em reunião da Coordenação
Nacional da Central realizada no último final de semana, no Rio de
Janeiro.
O tema foi
apresentado pelo membro da Secretaria Executiva Nacional Zé Maria de
Almeida, que defendeu a política como parte do processo das
mobilizações da juventude em junho que contagiou as lutas dos
trabalhadores. “Mobilizações fizeram com que as correlações de força
se modifiquem, os trabalhadores e a juventude estão numa ofensiva
neste momento; há uma disposição de lutas neste momento”, afirmou.
O dirigente
explicou que essa análise deve-se à multiplicidade das lutas de
diversas categorias que vem ocorrendo neste momento e lembrou as
duras greves dos profissionais da educação do Rio de Janeiro, Rio
Grande do Sul e do norte do país; das campanhas salariais com
bancários, trabalhadores do Correios e metalúrgicos do interior de
São Paulo em greve; dos vários setores do funcionalismo público que
lutam contra a implantação da Ebserh, que privatiza os hospitais
universitários; assim como as lutam contra a opressão que cresceram
neste momento e as ocupações dos movimentos populares. “São inúmeras
as expressões desse processo de mobilização”, reafirmou.
Ele resgatou
ainda a importância de a CSP-Conlutas buscar a unificação dessas
lutas em todos os lugares possíveis, assim como dar um passo em
relação à politização destas. “Além das reivindicações específicas,
precisamos levantar a bandeira de que é necessário romper com o
modelo econômico aplicado hoje pelo governo Dilma”.
Além das
bandeiras aprovadas em consenso pelas Centrais Sindicais, a
CSP-Conlutas, juntamente com A CUT Pode Mais, a Feraesp e o Setor
Majoritário da Condsef, aprovaram reivindicações conjuntas que
exigem que o governo atenda as bandeiras dos trabalhadores, entre
elas o não pagamento das dívidas externa e interna e reverta essas
verbas para saúde, educação, transporte públicos e moradia.
Para falar sobre
o tema, a Central convidou o dirigente do Sindicato dos Petroleiros
do Rio de Janeiro, Emanuel Cancela. Entre outras questões, ele
rebateu o discurso do governo de que a privatização da bacia de
Libra, do pré-sal brasileiro, traria desenvolvimento ao país. “Foi a
Petrobras quem construiu as plataformas e todo o processo na
extração em águas profundas, nenhuma outra empresa fez isso. Assim,
essas empresas não vão trazer desenvolvimento como diz o governo”.
Cancela também
falou das iniciativas que já estão ocorrendo e estão programadas na
campanha nacional contra a privatização do petróleo. Entre elas, o
acampamento em frente ao Edise, prédio central da Petrobras no Rio
de Janeiro e os próximos passos da campanha.
Zé Maria defendeu
a campanha da Petrobras como atuação política central neste momento
para todas as entidades ligadas à CSP-Conlutas. “Vamos combinar as
reivindicações específicas de cada uma das lutas, com a campanha
contra a privatização do petróleo brasileiro”, disse. Cancela
lembrou que o tema do petróleo unifica os brasileiros. “A campanha
pelo “O petróleo é nosso” ainda na década de 50 unificou diversos
setores da sociedade brasileira”, disse. Zé Maria acredita que esse
tema é importante para fazer debate político, facilita diálogo e
permite fazer uma forte campanha nacional. “Precisamos ganhar
corações e mentes contra a privatização”.
Após as
exposições, o tema foi aberto para debate, momento em que foram
abordadas diversas mobilizações que vêm acontecendo pelo país,
comprovando que são muitas as lutas. Representantes de diversas
entidades também falaram das iniciativas que estão acontecendo
contra a privatização do petróleo em seus estados.
Campanha
O dirigente da
FNP (Federação Nacional dos Petroleiros), Clarkson Nascimento,
apresentou duas datas importantes da campanha contra a privatização
do petróleo: 3 de outubro, dia da comemoração dos 60 anos da
Petrobras, e 17 de outubro, com paralisações e protestos contra a
privatização. “É importante que haja iniciativas em cada estado
nessas datas”, salientou.
A CSP-Conlutas
organizará atividades nos dois dias, assim como já incorporou o
calendário aprovado por diversas entidades contra o leilão de Libra.
24 de setembro –
início de um acampamento no Rio de Janeiro;
3 de outubro – no
aniversário de 60 anos da Petrobrás, os movimento sociais realizarão
atos pelo país afora e iniciam um acampamento também em Brasília;
7 de outubro –
realização de ato político-cultural no Rio de Janeiro, com
participação de artistas e intelectuais;
14 a 18 de
outubro – a luta contra os leilões de petróleo nos estados;
17 de outubro –
marchas nas principais capitais do país contra o leilão de Libra;
21 de outubro –
grande manifestação nacional contra a entrega de Libra na cidade
onde for realizado o leilão.
Urgência de
reforma urbana é tema de debate
No último domingo
(29), a reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas se dedicou a
debater a reforma urbana, com a participação do diretor do ANDES-SN,
Paulo Rizzo, e de Helena Silvestre, do Luta Popular.
Helena chamou a
atenção, principalmente, para a realidade e o perfil dos que lutam
por moradia nos centros urbanos. “Muitos não têm ideia de quem
somos, mas na Ocupação de Osasco, por exemplo, temos trabalhadores
químicos, metalúrgicos, gráficos e professores. São pessoas que não
conseguem pagar seu aluguel”, disse. Ela também comentou que o
modelo atual de cidade resulta em uma vida insuportável. “Entre seus
maiores problemas estão a mobilidade, a precariedade dos serviços
públicos, o que atinge diretamente os setores mais empobrecidos da
população”, ressaltou.
Para a militante
do movimento popular, o capitalismo tem uma lógica de
desenvolvimento com um modelo de propriedade que precisa ser rompido
e a luta que se realiza no território deve ser um problema do
conjunto dos trabalhadores.
“A especulação
imobiliária beneficia somente um setor do empresariado. Além disso,
o Minha casa minha vida é um projeto que visa lucros para as
construtoras. Não há preocupação efetiva com quem precisa de
moradia, esse projeto é uma perspectiva de mercado para o
empresariado do setor” critica Helena. Para isso, deu como exemplo o
fato de o Minha casa minha vida não abranger reformas já que essa
frente não interessa as construtoras. Elas querem construir”, disse.
Helena apontou
uma questão que fragiliza o movimento: “hoje importantes movimentos
capitularam ao governo petista, estão em gabinetes, em ministérios,
mas a sua base não ganhou nada”, diz ela lembrando que, por isso, a
pressão dessas bases sobre as direções e as ocupações continua. Ela
resgatou ainda a necessidade de se disputar um novo modelo de
desenvolvimento das cidades. “E isso é uma tarefa do conjunto dos
trabalhadores, nas ocupações. Na prática, pensamos isso quando
pensamos a organização das ocupações, quando pensamos no saneamento,
educação, moradia, desenvolvimento dos bairros”, diz. Além disso,
Helena defende a importância de construir espaços de democracia
direta, conselhos populares, com política de organização.
Rizzo aprofundou
o debate e apresentou cenários de o quanto o modelo de urbanidade
atual serve ao grande capital, cujas cidades são pensadas para
classes privilegiadas e como cartão de visita para o capital móvel
que circula pelo mundo em época de globalização. “São as cidades
mercado, feitas para serem vendidas como atraentes para o mercado
mundial, ou seja, a economia global é articulada com suas cidades”,
explica. Nessa nova forma de gestão urbana cada cidade deve ser
competitiva para atrair investimentos externos. As cidades são
pensadas com uma qualidade de vida que seja capaz de atrair e manter
os grupos profissionais de mais alta qualificação, com a promoção
serviços para esse grupo.
Este é um
receituário de gestão que, na pratica, está ligado à exploração da
classe trabalhadora. “Neste universo a classe trabalhadora é pensada
para trabalhar, não como os que vivem nas cidades, ficando
desprovida de uma série de direitos inclusive o direito de viver na
cidade”, afirma.
Além disso, a
classe trabalhadora deve ser atrativa como mão de obra barata com
poucos direitos, baixos salários, enfim, o trabalho precarizado. “É
por isso que grandes empresas ameaçam deixar cidades se
trabalhadores continuarem com determinados patamares salariais ou
direitos”, salienta.
Para explicar
esse modelo de cidades, o diretor do ANDES-SN deu como exemplo
trabalhos dos sociólogos Manuel Castells e Jordi Borja produzidos
para conferência da ONU que analisam a cidade de Barcelona, na
Espanha, preparada para receber os jogos olímpicos de 1992 como
exemplo das cidades atuais. “São cidades preparadas para receber
grandes eventos, organizadas como gestão empresarial, como
mercadoria”, comenta. Para ambos, a Copa do Mundo de 2014 irá expor
essas questões que foram abordadas.
“Portanto,
enquanto os governos vão querer mostrar as cidades como vitrines de
atração para o capital, temos de mostrar que a realidade é outra da
que é vendida, será preciso mostrar os problemas das cidades”,
ressalta Rizzo.
Helena defende
que seja organizada uma jornada de lutas em maio, “para disputar a
bandeira da reforma urbana com a bandeira da revolução urbana,
daqueles que lutam, daqueles que não se venderam e não se
entregaram”, afirma.
A militante do
movimento popular também resgatou a importância de a CSP-Conlutas
ser uma central que abarca os movimentos sindical e popular, mas
acredita que as questões abordadas pelo movimento popular precisam
ser abraçadas e unificadas pelos movimentos e expressar um projeto
contra o capitalismo. “A reforma urbana é uma luta de toda a classe
trabalhadora e parte dessa luta é a luta por moradia”, frisa.
* Com edição do
ANDES-SN, 1/10/13.
Fonte: CSP-Conlutas