Crescem as
manifestações contrárias à Ebserh
Em
todo país, atos e protestos demonstram a insatisfação dos servidores
em relação à adesão das universidades à Empresa Brasileira de
Serviços Hospitalares
O processo de
adesão à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) pelas
universidades do país tem causado grande repercussão nos estados
brasileiros. Além do resultado do Plebiscito Nacional sobre a
Empresa, divulgado oficialmente em 24 de abril, em que mais de 60
mil pessoas se posicionaram contrárias à Ebserh – em um total de
aproximadamente 63 mil votos -, os servidores e trabalhadores dos
hospitais, a comunidade acadêmica, a população usuária do Sistema
Único de Saúde (SUS) e as entidades contrárias à privatização da
saúde têm se mobilizado em manifestações realizadas em todo país.
Em resposta à homologação da assinatura de contrato entre o
Hospital das Clínicas em Vitória (Hucam) e a Ebserh pelo
Conselho Universitário no último dia 25, os servidores do
hospital paralisaram as atividades por tempo indeterminado a
partir da manhã de segunda-feira (6). De acordo com matéria
publicada no site G1, o Sindicato dos Trabalhadores nas Ufes
(Sintufes) explicou que a medida implicará no afastamento de
funcionários. No dia 24 de abril, cerca de 150 servidores
que trabalham no Hucam participaram de uma reunião para
esclarecer dúvidas sobre a adesão, mas, segundo a
reportagem, não ficaram satisfeitos. No dia 30 de abril, a
categoria decidiu pela paralisação.
“De fato, a corda só quebra do lado mais fraco. O reitor
assinou um contrato com a Ebserth, uma empresa
privada, não concordamos. Foi
colocada uma lista na página
da Ufes de mais de 100
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trabalhadores que serão afastados do hospital, uma unidade que não
tem a quantidade de funcionários
necessária e esses terão que sair porque a Ebserh se nega a ficar
com esses trabalhadores. O reitor não pensou nas consequências que
isso vai ter para a saúde pública e para o ensino”, explicou a
diretora do Sintufes, Janine Teixeira, em entrevista ao G1. A
diretora acrescentou que a greve continuará até que seja aberto um
canal efetivo de negociação para os trabalhadores poderem permanecer
no local de trabalho.
Segundo
levantamento recente feito pela Frente Nacional Contra a
Privatização da Saúde, 17 universidades aderiram à Ebserh. No
entanto, os números não coincidem com o da Empresa, que afirma que,
ao todo, 19 universidades já fizeram a adesão. De acordo com dados
da Frente, das 32 universidades que têm hospitais universitários,
cinco já assinaram contrato com a Ebserh: a Universidade Federal do
Piauí (UFPI), em agosto de 2012; a Universidade Federal do Triângulo
Mineiro (UFTM) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA), ambas em
janeiro de 2013; a Universidade de Brasília (UnB), em maio deste
ano; e a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em 15 de
abril de 2013. Destes, dois contratos são investigados pelo
Ministério Público. No caso da UnB, o Ministério Público Federal do
Distrito Federal (MPF/DF) entrou com ação de nulidade da ad esão e
do contrato entre a universidade e à Empresa. Em relação à UFTM, o
MPF instaurou inquérito civil público para apurar irregularidades no
contrato. Das cinco universidades, três já possuem filiais da
Ebserh, segundo a Frente Nacional contra a Privatização da Saúde:
UnB, UFTM e UFMA.
Há denúncias
ainda de que algumas universidades aderiram à Ebserh sem aprovação
do Conselho Universitário. Segundo dados da Frente, das 17 que
fizeram a adesão, 12 foram aprovadas pelo Conselho – UnB, UFPI,
Universidade Federal da Bahia (UFBA), UFMT, Universidade Federal do
Amazonas (Ufam), Universidade Federal de Pelotas (Ufpel),
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM) em 2012 e Universidade Federal de Juiz
de Fora (UFJF), Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS),
Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal da
Paraíba (UFPB) em 2013.
Os Conselhos
Universitários da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) não aprovaram à adesão
à Empresa. Nas Universidades Federais do Maranhão (UFMA), de Alagoas
(Ufal) e do Espírito Santo (Ufes) a situação é mais grave. Segundo a
Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde, as três
universidades aderiram à Ebserh sem aprovação dos conselhos.
De acordo com a 1ª vice-presidente da Regional Sul do
ANDES-SN e uma das coordenadoras do Grupo de Trabalho
Seguridade Social/Assuntos de Aposentadoria do ANDES-SN
(GTSSA), Maria Suely Soares, os debates levantados a partir
da criação da Ebserh são extremamente importantes no que se
refere à manutenção da autonomia universitária e contra a
privatização da saúde e de outras políticas públicas. “Não
podemos admitir a privatização do sistema público. O que
está acontecendo está dentro de um contexto de processo de
privatização”.
Para Maria Suely, as recentes matérias veiculadas pela mídia
que abordam questões de corrupção nos |
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hospitais têm
como objetivo dizer o sistema público não funciona. “Estão
orquestrando novas denúncias para mostrar o que está acontecendo nos
hospitais públicos e colocar a Ebserh como uma solução, mas não
entendemos que ela seja uma solução. A Ebserh é uma modificação nos
hospitais que vai tornar a situação ainda mais grave. Eles querem um
sistema de compras centralizado que vai abrir mais oportunidades de
corrupção”, exemplifica.
Entre os outros
prejuízos, a diretora do ANDES-SN ressalta a situação dos servidores
e a “dupla porta” no atendimento nos HU. “A ideia é substituir os
servidores por empregados, contratados por CLT. Eles acreditam que o
funcionário será mais eficiente, o que não é verdade, porque o
funcionário ganhará menos e terá que ter mais empregos para
sobreviver. A tendência é baixar salários e exigir mais das
pessoas”, explica. Maria Suely afirma ainda que o atendimento aos
usuários que possuem planos de saúde será priorizado. “Com a Ebserh,
haverá mais facilidade em ativar os convênios dos planos de saúde,
atender quem tem plano em detrimento dos usuários do SUS, dando
prioridade a quem paga. O governo se desobriga ainda mais de manter
o SUS”, esclarece.
A diretora do
ANDES-SN ainda alerta para a tendência de privatização de outras
políticas públicas. “O PLP 92 está retornando. A lei prevê a criação
de fundações não só na área da saúde, mas também da educação. Ela
vem no mesmo sentido da Ebserh. Consideramos tudo isso muito grave e
somos contra. Estamos nessa luta contra a contratação da Ebserh
pelas universidades, que o governo está tentando fortalecer com o
PLP 92”, conclui.
Além da intensa
mobilização para a realização do Plebiscito, o ANDES-SN tem
intensificado as ações nos estados. “Reforçamos para as Seções
Sindicais que fiquem atentas com as medidas que visem à adesão à
Ebserh pelas universidades, para que possamos entrar com ações no
Ministério Público no sentido de impedir a adesão”, afirma o
encarregado de Assuntos de Aposentadoria e coordenador do GTSSA do
ANDES-SN, Almir Menezes Filho.
Mobilização no
Rio de Janeiro
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Nesta
quinta-feira (9), será colocada em apreciação a adesão à
Ebserh nos Conselhos Universitários da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (Unirio). As entidades contrárias à
Empresa, entre elas o ANDES-SN, por meio das Regionais e das
Seções Sindicais, têm convocado a comunidade acadêmica e a
população a fazerem pressão para que as universidades não
façam a adesão à Ebserh. Dois atos serão realizados,
simultaneamente, na manhã de quinta, a partir das 8h, em
frente às reitorias da UFRJ e da Unirio. Confira
aqui o panfleto que será distribuído durante as
manifestações.
As ações de resistência à Ebserh também foram intensificadas
na Universidade Federal Fluminense (UFF) pela Aduff – Seção
Sindical do ANDES-SN -, Sintuff e DCE, após manifestação
favorável da Administração da Universidade em relação à
adesão do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) à
Empresa. |
No dia 29 de
abril, a Aduff publicou um vídeo que mostra o processo de realização
do Plebiscito em Niterói, que retrata a participação da população e
dos usuários do SUS nos debates promovidos pela comunidade acadêmica
e entidades contrárias à Ebserh. (confira
o vídeo)
Nesta terça-feira
(7), estava previsto um ato na Câmara dos Vereadores do Rio de
Janeiro para dizer não ao projeto da prefeitura que cria a RioSaúde,
Empresa Pública de Saúde do Rio de Janeiro. Segundo a coordenadora
da Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde, Maria Inês Bravo,
a votação do projeto que cria a RioSaúde já foi adiada três vezes, e
deveria ocorrer nesta terça. “Vamos pressionar os vereadores e
entregar o manifesto assinado por várias entidades”, conta.
Atuação do
Ministério Público em Minas Gerais
O Ministério
Público Federal de Minas Gerais (MPF/MG) publicou, no último dia 9,
uma recomendação ao reitor da UFMG, Clélio Campolina Diniz, e ao
Conselho Universitário, de que não procedesse à assinatura ou
autorização de qualquer termo de adesão entre a UFMG e a Ebserh sem
antes realizar audiência pública e, caso necessário, reuniões para
“um debate mais qualificado, democrático e plural sobre os temas
nela tratados com os principais interessados, incluindo o Ministério
Público Federal e outras autoridades federais da educação e saúde,
representantes da Ebserh e sociedade civil, para esclarecer à
comunidade acadêmica e à sociedade em geral a viabilidade da
proposta, os termos do contrato, bem como as possíveis implicações
decorrentes da adesão”. No documento, o MP recomenda que, caso seja
necessário e de forma a garantir a r ealização de amplo debate, que
seja adiada qualquer decisão.
Disputa no HUPI
Em fevereiro de
2013, a Ebserh abriu concurso para contratação no Hospital
Universitário do Piauí, sob regime da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), com lotação no HU. Após a divulgação do resultado da
seleção em 9 de abril, a Justiça do Trabalho do Piauí emitiu uma
liminar que suspendia a convocação dos aprovados, movida pelo
Ministério Público do Trabalho do estado, por meio do procurador do
Trabalho Ednaldo da Silva, e concedida pela juíza substituta Nara
Zoé Abreu. No dia 26 de abril, a liminar foi cassada pelo
desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 22ª Região,
Arnaldo Boson Paes.
CFM ingressa como
amicus curiae na ADI contra a Ebserh
Após plenária
realizada em abril, o Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu
ingressar como amicus curiae na Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI) contra a criação da Ebserh, proposta pelo procurador-geral da
República, Roberto Gurgel.
Amicus curiae é
alguém ou instituição que, mesmo sem ser parte, em razão de sua
representatividade, é chamado ou se oferece para intervir em
processo relevante com o objetivo de apresentar ao Tribunal sua
opinião sobre o debate travado nos autos, fazendo com que a
discussão seja amplificada e o órgão julgador possa ter mais
elementos para decidir de forma legítima.
Após avaliar os
argumentos favoráveis e contrários, os conselheiros entenderam que a
criação da Ebserh constitui medida que implica em riscos para a
sociedade. "Entendemos que a Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares agride a autonomia do sistema educacional e pode
comprometer o funcionamento dos serviços de assistência em saúde
públicos ancorados nos hospitais universitários e de ensino",
ressaltou o presidente do CFM, Roberto Luiz d'Avila.
Violência em
manifestação na UFPE
No dia 23 de
abril, os servidores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
fizeram um protesto contra a contratação da Ebserh para administrar
o Hospital das Clínicas. Por meio de Ofício enviado ao reitor da
UFPE, Anísio Dourado, o Sindicato dos Trabalhadores das
Universidades Federais de Pernambuco (Sintufepe) denunciou a
violência contra os integrantes da comunidade universitária, por
parte da segurança patrimonial da universidade, e a presença de um
membro da segurança patrimonial da UFPE, que estava à paisana,
infiltrado no movimento, gravando a manifestação e registrando
imagens. Segundo o Sindicato, ao ser abordado, o segurança disse que
estava a serviço do sistema de inteligência institucional. “A
violência para calar os opositores, e os esquemas de arapongagem,
com elementos infiltrados nos movimentos dentro das universidades
rem onta à ditadura militar que outrora combatemos ferrenhamente,
inclusive com perda de diversos companheiros e companheiras no front
das lutas pelo estabelecimento da democracia”, diz o texto do
ofício, assinado pela coordenação do Sintufepe.
Resultado do
Plebiscito Nacional
Após ampliar o
debate e convidar a comunidade acadêmica, a população e os usuários
do SUS para a discussão, o resultado do Plebiscito Nacional Sobre a
Ebserh mostra que a grande maioria dos participantes é contrária à
Empresa – dos 63 mil votos, apenas 3 mil são favoráveis à Ebserh. Os
votos foram coletados junto à comunidade acadêmica e entre os
usuários dos Hospitais Universitários das Instituições Federais de
Ensino (IFE).
A divulgação do
resultado foi apresentada oficialmente no dia 24, durante ato
realizado pelas entidades da educação em frente ao Ministério da
Educação (MEC), após a grande Marcha que reuniu mais de 20 mil
trabalhadores na Esplanada dos Ministérios.
O Plebiscito,
realizado entre 2 e 19 de abril, foi organizado por entidades
ligadas à educação e saúde federais, entre elas ANDES-SN, Fasubra e
Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde.
*Fotos Sintufes
*Arte Adufrj SSind
Fonte: ANDES-SN, 7/5/13.