Campus da
UNIPAMPA em Jaguarão sofre com a expansão
Falta de
professores e de democracia estão entre os problemas
Os problemas
decorrentes do processo desenfreado e não organizado de expansão das
universidades federais brasileiras, apontados há pelo menos cinco
anos pelo ANDES-SN, levaram estudantes do campus de Jaguarão da
Unipampa a desencadearem um processo de ocupação que se prolongou
por oito dias – de 4 a 12 de abril. Falta de professores essenciais
nos cursos, supressão ou diminuição dos espaços físicos para
organização e convivência dos estudantes, debilidades na assistência
estudantil e falta de democracia e transparência nas decisões da
instituição fornecem um panorama geral das condições às quais o
campus e sua comunidade acadêmica vêm sendo submetidos.
Para o 1º
vice-presidente da Regional RS do ANDES-SN e também professor do
departamento de Geociências da UFSM, Carlos Pires, com o passar do
tempo os problemas tendem a se agravar. “É uma situação que já
havíamos previsto que aconteceria, porque a expansão não tem um
programa planejado de atendimento às demandas. Essa realidade
fatalmente será evidenciada em todos os lugares onde houver
expansão”, analisou, defendendo que o caminho a ser seguido
continuará a ser o da denúncia.
Segundo Pires,
“sabemos que se não houver uma movimentação articulada do MEC
(Ministério da Educação) com as direções dessas unidades, os
problemas irão se agravar. Essas entidades estão cientes das
demandas atuais e das que virão futuramente, já que, com o passar do
tempo, a situação ficará mais grave”.
“Assim como em
quase todas as universidades no contexto do Reuni, nós sofremos de
condições muito precárias. Existe uma pauta que já é histórica, a
falta de espaços para diretórios e centros acadêmicos. Não temos o
mínimo de espaços de convivência! Temos laboratórios de teatro,
audiovisual, mais alguns outros, só que eles não podem funcionar por
falta de espaços físicos. Inclusive os materiais comprados para o
funcionamento dos mesmos estão sendo sucateados. Caiu um muro dentro
do prédio e colocaram a culpa na chuva, em um prédio de 5 anos”,
disse à Sedufsm o estudante do campus Jaguarão, Allan Cereda.
A implementação
de políticas de forma vertical também vem sendo apontada como uma
prática constante da reitoria do campus. Um exemplo ilustrado é a
construção de uma cantina para os estudantes, que, entretanto,
reivindicam um Restaurante Universitário (RU). “No nosso campus, só
na primeira fase de urbanização e cercamento (que não foi discutido
com os estudantes) foram gastos R$ 805 mil reais, quase o valor de
uma casa do estudante que custa R$ 900 mil, segundo a Pró-reitora de
assistência estudantil”, disse Cereda.
Falta de
professores
A falta de
docentes especializados em áreas específicas das graduações surge,
também, como uma das maiores debilidades do campus Jaguarão. Cereda
diz que no curso de História faltam profissionais nas áreas de
região platina, história regional e história contemporânea, o que
provavelmente levará a turma que hoje está no 6º semestre a não se
formar em quatro anos, tempo instituído para o curso. “No curso de
letras falta o mais básico, que é professor de língua materna. No
curso de pedagogia acontece o mesmo, o primordial, que é
profissional da educação infantil está faltando, a ponto dos alunos
da Pedagogia estarem fazendo estágio na educação infantil com
professores de outras áreas. O curso de PPC (Produção Política e
Cultural) também não tem o mais fundamental que é um produtor
cultural, não temos um especialista na área da administração que é
um dos eixos do curso, junto com cultura e política. No curso de PPC
o caso é mais grave, só se tem um professor neste curso; o curso é
formado de professores colaboradores. E por último, o curso de
turismo, onde faltam turismólogos. Quer dizer, na UNIPAMPA falta o
básico de cada curso”, esclarece Cereda.
Pautas da
ocupação
Durante o
movimento, os estudantes discutiram algumas pautas reivindicatórias
com a reitoria do campus, conta o estudante de História, Edivaldo de
Paula. As pautas foram: realização de concurso em todos os cursos da
Unipampa (Jaguarão); assistência estudantil como prioridade (pois
aconteceu uma obra de urbanização que custa quatro vezes mais do que
a assistência da Unipampa); Paridade no conselho que não segue a LDB
(Lei de Diretrizes e Bases); liberdade de expressão artística e não
à criminalização desses artistas; espaços físicos destinados à
convivência dos estudantes bem como às suas representações – já que
no campus há cinco cursos e apenas uma sala muito pequena para
todos; gestão democrática, para que os estudantes e trabalhadores na
Universidade construam a política da Universidade.
“Para entender o
movimento devemos colocar primeiramente o porquê dele acontecer, e
que este se deu pela lógica de sucateamento da Universidade
provocado pelo projeto Reuni, o que nós como nova universidade temos
enfrentado bem como as universidades consolidadas”, diz Edivaldo,
explicando que houve algumas pautas atendidas, como os pregões
relacionados à compra de equipamentos para a cantina, que,
entretanto, traz outros problemas. “A cantina da Unipampa irá
funcionar servindo tanto a alimentação subsidiada como uma
alimentação de cardápio, ou seja, ela vem para corroborar e
discriminar os estudantes, fazendo a diferenciação de quem come mais
caro e mais barato, trazendo a desigualdade como pauta principal”,
argumenta o estudante.
Quanto à posição
da reitoria durante o processo estudantil, Cereda diz que houve uma
resposta institucional bem evasiva quanto à carta de reivindicações,
e que, através de argumentos falaciosos – como o de que não haveria
política de fornecimento (no que tange ao funcionamento do RU) –
tentou desarticular o movimento.
Dossiê da
expansão
No último dia 24,
durante ato público em frente ao MEC, o ANDES-SN lançou a revista
“Dossiê Nacional 3 – Precarização das Condições de Trabalho”, volume
I, que desmascara a positiva propaganda governamental em torno do
processo de expansão das vagas nas universidades públicas, iniciado
em 2007. Problemas estruturais e de pessoal – falta de docentes e
funcionários – foram detectados, com base em relatórios produzidos
pelos docentes das universidades.
Texto: Bruna
Homrich (estagiária)
Edição: Fritz Nunes (Jornalista)
Assessoria de Imprensa da Sedufsm