Aumento de R$
0,20 na passagem obriga paulistanos de baixa renda a pular refeições
O reajuste de R$
0,20 no preço da tarifa dos transportes públicos na cidade de São
Paulo pode parecer muito pequeno para muitas pessoas, mas obrigou a
alguns paulistanos de baixa renda a deixar de fazer refeições e a
arranjar "bicos" para conseguir pagar o novo valor das passagens.
O trabalhador que
recebe um salário mínimo do Estado de São Paulo (um pouco mais alto
do que o nacional: R$ 678) --R$ 755-- e utiliza um ônibus e um metrô
para ir e um ônibus e um metrô para retornar do trabalho terá gasto,
ao final do mês, R$ 200, mais de 26% do total de sua renda.
"Além de
trabalhar como cuidadora 26 dias por mês, ainda chego em casa e
preciso fazer bordados e crochê em panos de prato para complementar
a renda", afirmou Humbertina Lima da Silva, 47, nesta quarta-feira
(12), na praça da Sé, região central da capital, onde ontem ocorreu
um enfrentamento entre a polícia e manifestantes que pediam a
redução das tarifas.
Humbertina, que
ganha pouco menos de mil reais por mês e mora em Mogi das Cruzes (a
57 km da capital), estima em R$ 50 o valor adicional gasto com
transportes após o aumento da passagem. "Por isso os protestos pela
redução são importantes", diz.
A estudante e
auxiliar administrativa Caldineya Oliveira Santos, 23, afirma que
deixou de se alimentar entre o almoço e a hora em que chega em casa
da faculdade. "Almoço no trabalho, por volta do meio-dia, e depois
só como lá pelas 23h. Meu salário de R$ 900 não permite que eu pague
R$ 3,20 no transporte e me alimente direito", diz.
Para o gari Célio
Ferreira, 35, o novo preço prejudica muito quem tem um orçamento
limitado. "Deixo de comprar alimentos ou às vezes até mesmo uma
garrafa de água", afirmou. Segundo ele, que recebe R$ 800 por mês, o
preço justo para o transporte público seria "no máximo R$ 1,50".
Após o reajuste na passagem, Célio passou a gastar R$ 26 a mais por
mês.
O office-boy
Rodrigo Oliveira, 19, reclama que continua recebendo o vale
transporte no valor de R$ 3. "Os outros R$ 0,20 eu tiro do meu
bolso. Vira e mexe deixo de comer um lanche na rua, porque para quem
ganha R$ 700 por mês, como eu, o aumento pesa no orçamento."
Os novos gastos
foram calculados pelos próprios personagens da reportagem.
Presos no
protesto
Ao menos 20
pessoas foram presas durante o protesto de ontem na avenida Paulista
e na rua da Consolação. Até a manhã desta quarta-feira (12), 13
manifestantes continuavam presos acusados de crime de dano, lesão
corporal, desacato à autoridade e formação de quadrilha, segundo a
Secretaria de Segurança Pública do Estado.
EL PAÍS: BRASIL SE LEVANTA EM PROTESTO
CONTRA AUMENTO NOS PREÇOS DO TRANSPORTE
Os preços dos transportes públicos no Brasil
são muito altos em relação ao salário mínimo
dos trabalhadores.
(...) No entanto, a classe média, pouco
acostumada no país a manifestações de
protesto nas ruas, está aplaudindo as
autoridades, que pediram mão dura à polícia
contra as mobilizações, que estão
paralisando o tráfego em cidades já
normalmente supercongestionadas. As
manifestações criam um alarme especial. Nem
sequer diante dos grandes escândalos de
corrupção política as pessoas saíram tanto
às ruas. Uma vez mais, também aqui, se torna
realidade a famosa frase atribuída a Bill
Clinton: "é a economia, estúpido!" |
|
Fonte: UOL, SP, Gil Alessi, 12/6/13.