2013: pequenos
avanços, retrocessos e bons sinais
Mais além do que
obter conquistas imediatas, as mobilizações da juventude sempre são
um termômetro em qualquer sociedade. Elas prenunciam períodos de
maior conscientização política e mobilização social de todo o povo.
Portanto, eles são apenas o prenúncio do que poderá vir com mais
força se a classe trabalhadora lograr unidade e for à rua com um
programa de reformas estruturais.
Se 2013 foi um
ano muito contraditório, mas anunciou mudanças, certamente 2014 será
um ano ainda mais intenso de mobilizações e articulações das forças
populares
Somente no
futuro, quando analisarmos com mais profundidade o que aconteceu no
ano de 2013 poderemos ter elementos mais precisos do que ele
representou para a história recente da vida do povo brasileiro e
para a luta social. Porém, desde logo podemos recolher alguns sinais
principais.
No quesito
melhoria das condições de vida da população, tivemos poucos avanços.
O nível de emprego se manteve, a inflação dos preços da cesta básica
se manteve e tivemos o programa de saúde pública Mais Médicos, que
se propõe a levar profissionais aos lugares desamparados pela
atenção medica, às vezes, na periferia das luxuosas capitais.
Porém, tivemos
retrocessos na política econômica do governo, que de certa forma o
Banco Central voltou a se considerar um ente autônomo, sem
legitimidade para isso, e atua a seu bel prazer, aumentando a taxa
de juros selic para 10%. Isso significa que vai aumentar as
transferências de recursos públicos recolhidos de nossos impostos e
destiná-los para os juros dos bancos, que são, afinal, apropriados
em sua maioria por não mais de 5 mil ricaços, segundo estudos de
Marcio Pochamnn.
Faltam recursos
para democratizar a educação superior, ainda restrita aos 12% de
jovens na universidade alcançados no governo Lula. Quando o
necessário seria investir 10% do PIB nacional para educação.
Os investimentos
públicos – de todas as esferas – em transporte público faltaram. Com
isso, locomover-se nas grandes cidades é cada mais caro e
sacrificado para milhões de brasileiros, que perdem horas de suas
vidas no trânsito.
O custo dos
alugueis e imóveis dispararam, com aumentos médios de 180% em todo o
país, fruto da especulação desenfreada do capital financeiro.
Pior. Com falsos
argumentos, entregamos 40% de nossas reservas do pré-sal para
exploração compartida com duas transnacionais européias e duas
chinesas, quando a Petrobras poderia fazê-lo sozinha.
Resultado: os
ricos aumentaram seus ganhos e os trabalhadores se mantiveram na
mesma base e tiveram as condições de vida pioradas.
Na vida
institucional, os conservadores, a direita e sua bancada ruralista
fazem a festa impondo agendas retrógradas e de perdas de direitos
dos trabalhadores, dos povos indígenas, camponeses e pobres em
geral.
A conquista de
uma jornada de 40 horas semanais, já em vigor na maioria dos países
industrializados, aqui é banalizada e combatida pela maioria dos
congressistas. Eles impediram a proposta de uma reforma política, a
convocação de uma Constituinte e de um Plebiscito Popular que havia
sido proposta pela própria presidenta da República no calor das
mobilizações de junho.
No poder
Judiciário, cada vez mais discricionário, o imperador Barbosa age à
revelia de qualquer norma jurídica, com apoio da Globo e talvez,
tomara, sonhando em ser candidato a alguma coisa.
Portanto, um
balanço econômico-político- institucional de perdas para os
interesses do povo brasileiro.
Sinal no final do
túnel
Se é verdade que
a burguesia aproveitou- se de sua hegemonia na política econômica,
nos meios de comunicação e no poder político para aumentar seus
ganhos e impor sua agenda, por outro lado, o ano de 2013 foi
revelador, pois a juventude foi às ruas, durante dois meses seguidos
e demonstrou que quer mudanças!
Em princípio
barrou os aumentos das tarifas de transporte e impôs aos governos a
necessidade de investimentos públicos. Porém, as mudanças foram
insuficientes para as demandas colocadas pelas ruas. Sinal, de que
certamente voltarão.
E, mais além do
que obter conquistas imediatas, as mobilizações da juventude sempre
são um termômetro em qualquer sociedade. Elas prenunciam períodos de
maior conscientização política e mobilização social de todo o povo.
Portanto, eles são apenas o prenúncio do que poderá vir com mais
força se a classe trabalhadora lograr unidade e for à rua com um
programa de reformas estruturais.
Por outro lado,
no bojo desse clima, as forças populares de todo o país e de todos
os setores voltaram a construir um impressionante processo de
unidade popular em torno da necessidade de luta por uma reforma
política.
A reforma
política do sistema de poder nacional, que envolve judiciário,
legislativo e executivo é a porta de entrada necessária para as
demais reformas estruturais, para obtermos melhorias das condições
de vida ao povo.
Nesse sentido, se
formou no últimos meses uma ampla coalizão, com mais de 100
entidades, movimentos, grupos e setores, que vão desde a CUT e
centrais sindicais até a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic). Todos se
juntaram para organizar um verdadeiro mutirão nacional para debater
com o povo que tipo de mudanças políticas precisamos.
A ideia é
recolher as sugestões do povo em milhares de reuniões de base e
depois, no dia 7 de setembro de 2014, recolher a vontade popular, no
plebiscito para que votem se é necessário uma Constituinte soberana
e exclusiva para a reforma política.
Portanto, se 2013
foi um ano muito contraditório, mas anunciou mudanças, certamente
2014 será um ano ainda mais intenso de mobilizações e articulações
das forças populares.
Fonte: Brasil de Fato, Editorial da edição nº 564, 18/12/2013.