Violência contra jovens negros em pauta
O Brasil ocupa lugar de destaque em um ranking nada glamoroso: é o
quarto colocado, entre 92 países, na taxa de homicídios entre crianças
e adolescentes, segundo dados do Mapa
da Violência 2012: Crianças e Adolescentes do Brasil.
Um olhar mais atento sobre este número, combinado a uma análise do Mapa
da Violência 2012: os novos padrões da violência homicida no Brasil,
revela uma realidade que envergonha: são os jovens negros os que mais
morrem no país. Em 2010, 49.932 pessoas morreram vítimas de homicídios
no Brasil. Deste total, 26.854 eram jovens, a maioria (74,6%) negra e
do sexo masculino (91,3%). De 2000 a 2009, a diferença entre jovens
brancos e negros, vítimas de homicídios, saltou de 4.807 para 12.190
mortes.
Preocupada com a questão, a Coordenação
Nacional de Entidades Negras (Conen)
lançou semana passada uma carta
compromisso em
que propõe aos candidatos às eleições municipais incluir na lista de
prioridades a questão da juventude negra no país. Segundo o Conen, o
Brasil é um dos países mais violentos do mundo, apresentando números
de morte por arma de fogo que superam Iraque, Israel, Palestina,
Colômbia, Afeganistão, Sudão e Paquistão juntos, de acordo com dados
de 2004 a 2007. A diferença, como explica a Coordenação Nacional, é
que, ao contrário destes países, nós não vivemos em uma guerra civil.
A carta da Conen aponta diretrizes fundamentais para todo e qualquer
comprometimento com a causa das políticas públicas voltadas à
juventude negra. A intenção é que os candidatos às eleições se
mobilizem para ações públicas mais eficazes contra a violência, em
articulação com o Estado, movimentos sociais e toda a sociedade civil.
Além da campanha, o governo federal já está finalizando o Plano
Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Juventude Negra, com
previsão de lançamento para novembro. O Plano é ação articulada da Secretaria
de Direitos Humanos com
aSecretaria
Geral da Presidência da República, Secretaria
Nacional de Juventude (SNJ)
e Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR).
A violência contra a juventude negra é tema que entrou na pauta da
cena pública em 2007, quando o Fórum
Nacional da Juventude Negra (Fonajune)
lançou a campanha nacional “Contra
o Genocídio da Juventude Negra”. Considerando a
urgência da questão em vista do grande número de violências sentidas e
vivenciadas todos os dias, um espaço de luta por políticas públicas
para a juventude negra é cada vez mais necessário.
O Plano pretende atuar em quatro frentes: desconstrução da cultura da
violência; inclusão e garantia de direitos; transformação de
territórios; e aperfeiçoamento das instituições, onde se pretende
ações diversas – campanha de sensibilização; formação de jovens
agentes da paz; ampliação do programa Escola Aberta; promoção de
usinas culturais; formação de servidores públicos e agentes de
segurança; enfrentamento do racismo em instituições; dentre outros.
A secretária adjunta da Secretaria Nacional de Juventude, Ângela
Guimarães, chama atenção para o fato de as políticas públicas voltadas
à juventude negra ainda não ocuparem lugar de prioridade nos programas
dos candidatos às eleições. Embora seja um forte tema às vésperas das
eleições, Guimarães questiona a falta de visibilidade nos discursos
municipais. Explica que ainda que o Estado faça uma leitura mais
consciente da questão com o novo Plano, e tome pela primeira vez essa
pauta como sua, os estados e municípios precisam estar mais envolvidos
no processo para que consigam de fato ser coerentes.
Representando o Conselho
Nacional de Juventude (Conjune),
a secretária relatou ainda que a violência contra a juventude negra
passa por três condicionantes que precisam de atenção urgente: raça,
gênero e território. Determinadas localidades que historicamente foram
menos assistidas e tiveram menor presença do Estado em aspectos de
infraestrutura sofrem com os altos índices de violência, afirma.
Uma campanha para desconstruir os esteriótipos sobre juventude, e
sobre juventude negra, será inciada em novembro com a divulgação do
Plano. Para Guimarães, a intenção é romper com o silêncio e com essa
aceitação que banaliza a violência. Do ponto de vista da Política
Nacional de Juventude, os movimentos sociais vêm ao
longo dos anos trazendo importantes temáticas, como o enfrentamento à
política de extermínio e violência contra jovens negros, ao mesmo
tempo que lutam por mais
participação dos negros dentro das universidades e
espaços públicos.
Para a Secretaria Nacional da Juventude as expectativas com o
lançamento do Plano Nacional são grandes. É importante que as
políticas e medidas sociais de enfrentamento da vitimização juvenil
ganhem espaço, na mídia e nos planos políticos, somando forças à carta
compromisso criada pelo Conen. Para o Conjune, a esperança é que um
Plano político que nasça sob o signo da participação social tenha, no
centro de suas ações, mais força e coragem para romper estruturas
sociais que alimentam discursos de ódio e ações de violência no
cotidiano.
Fonte: Canal iBase, Beatriz Noronha do Incid, 18/9/12.