Vale recebe prêmio de pior corporação do mundo
Murilo Ferreira,
presidente da Vale, recebeu, em mãos, na última quarta-feira (31),
pela Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale o prêmio Public
Eye Awards, concedido a empresa, no início do ano, pela suas numerosas
violações dos direitos socioambientais, bem como acusações de evasão
fiscal e dívidas bilionárias.
Ao receber o
prêmio, Murilo Ferreira disse que não considera prêmios desse tipo,
por envolver organizações estrangeiras, que, na sua opinião, “querem
bloquear o desenvolvimento do Brasil”.
A reunião foi o
primeiro encontro entre o presidente da Vale e a Articulação dos
Atingidos. Na ocasião, as organizações relataram os casos nacionais e
internacionais de violações de direitos cometidos pela empresa. Foram
solicitados a Murilo Ferreira um posicionamento formal das denúncias
apresentadas, o detalhamento das ações concretas para a solução dos
problemas e as perspectivas de mudança da postura empresarial.
Ao ser
questionado sobre a participação da Vale nas violações cometidas por
Belo Monte e TKCSA, Murilo Ferreira se desresponsabilizou das
acusações, alegando que embora as reconheça – as violações – a Vale
não teria controle sobre esses projetos. “TKCSA e Belo Monte estão
fora do meu controle. Somos sócios minoritários. Dentro da TKCSA só
podemos ir ao banheiro, quando podemos”.
No caso da Serra
da Gandarela, o presidente da Vale informou que o projeto Apolo está
parado por falta de recursos, mas sua assessora confirmou que a
Companhia continua realizando prospecções e pesquisa na última serra
intacta de Minas Gerais.
Murilo Ferreira
se omitiu diante as questões levantadas sobre a duplicação da estrada
de ferro Carajás, violação dos direitos trabalhistas e sobre a
preservação dos recursos hídricos.
E ainda disse,
que são infundadas as acusações de envolvimento da Vale nos
assassinatos de trabalhadores, na Guiné. Quanto a Moçambique, o
presidente se limitou a reconhecer que haveria problemas com os
assentamentos de Moatize e não especificou que medidas a empresa vem
tomando para solucioná-los.
Denúncias
Em Piquiá, no
município de Açailândia, no Maranhão, a população sofre com vínculo
ambíguo e predatório da Vale com as guseiras, envolvidas em trabalho
escravo, desmatamento e poluição. Há indícios de um aumento
significativo no número de mortes devido a câncer nos pulmões na
região.
Em Minas Gerais,
no quadrilátero ferrífero, a Vale já destruiu a maior parte das áreas
de cangas ferruginosas que, associadas à formação geomorfológica,
protegem os mananciais de água. A atividade predatória põe em risco a
segurança do abastecimento público de água, no Estado.
Foram
apresentadas também denúncias de práticas anti sindicais da Vale e o
descumprimento do Termo de Acordo de Conduta (TAC), junto à
Organização Internacional do Trabalho (OIT), na unidade de Araucária,
no Paraná.
Reivindicações
Dentre as
reivindicações da Articulação estavam a solicitação de que as obras de
duplicação da ferrovia Carajás aconteçam, como previsto em lei,
somente após a realização de audiências públicas em todos os
municípios afetados pela construção, e com a consulta prévia das
comunidades tradicionais diretamente impactadas.
Também foi
solicitado que a empresa se retirasse do consócio de Belo Monte. Em
Altamira e na região do Xingu, as populações indígenas e ribeirinhas
têm sofrido diversas violações de direitos por conta da construção da
hidreléctrica. Além disso, a região sofre com a intensificação do
tráfico e exploração sexual e violência de mulheres, crianças e
adolescentes.
Vale e TKCSA
A Vale é sócia da
TKCSA e fornecedora exclusiva do minério de ferro. Desde 2010, os
moradores do entorno da TKCSA são obrigadas a conviver e respirar
partículas derivados do funcionamento da empresa que até hoje funciona
sem licença de operação. São muitos os relatos de problemas
dermatológicos e respiratórios (constatados em relatório da Fiocruz.).
Esses mesmos
moradores convivem com o barulho frequente dos trens, rachaduras nas
casas pela trepidação e a poeira de minério deixada pelos trens. Além
disso, os pescadores estão proibidos de pescar desde 2006, por conta
das áreas de exclusão de pesca criadas com o funcionamento do porto.
Internacional
Em âmbito
internacional, a Vale é responsável no processo de expropriação e
deslocamento compulsório de mais de 1300 famílias, em Moçambique.
Recentemente, seis pessoas foram assassinados em uma mobilização de
operários que reclamavam a falta de cumprimento da Companhia de acordo
trabalhistas. Lideranças locais acusam a Vale de ter fornecido
veículos usados para reprimir os manifestantes.
Public Eye Awards
Em 2012, a Vale
venceu o prêmio internacional Public Eye Awards, conhecido como o
Nobel da vergonha corporativa mundial e concedido a empresas com
graves passivos sociais e ambientais por voto popular. O prêmio foi
anunciado durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. A
Vale foi a vencedora com 25.041 votos, ficando à frente da japonesa
TEPCO, responsável acidente nuclear de Fukushima.
Articulação
Internacional dos Atingidos pela Vale
A Articulação
Internacional dos Atingidos pela Vale é composta por populações e
comunidades atingidas, movimentos sociais, organizações e centrais
sindicais de diversos países que sofrem violações de direitos
cometidos pela Vale.
Fonte: Justiça
Global e [Andes-SN (5/11/12)].