UFBA RACHA COM FEDERAÇÃO QUE ACEITOU OFERTA DO GOVERNO E MANTÉM
GREVE
Os professores de instituições federais baianas decidiram na
terça-feira (7) não aceitar a oferta do governo e dar continuidade à
greve em Assembleia convocada pelo Apub (Sindicato dos Professores das
Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia). O Apub faz parte
da Proifes (Federação de Sindicatos de Professores de Instituições de
Ensino Superior), que aceitou a proposta do Ministério do
Planejamento.
São também filiados à federação
os professores da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e UFRGS
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul),
que decidiram encerrar a greve.
Com 310 votos a favor, 29 contrários e três abstenções, a decisão foi
tomada após cerca de quatro horas de assembleia - que foi marcada por
tumultos e agressões verbais diante do racha que se estabeleceu entre
a direção do sindicato e do comando de greve.
Renúncia
Com os ânimos acirrados e gritando “renuncia”, os grevistas ainda
colocaram em votação a destituição da direção da Apub como pauta para
uma assembleia que será realizada no próximo dia 15 de agosto. Com o
auditório já esvaziados, os professores conseguiram aprovar a pauta
(145 a favor e 14 contra). A desfiliação da Apub ao Proifes também foi
sugerida pelos docentes, mas não chegou a ser encaminhada para
votação.
“No dia 2 de agosto, nós enviamos uma contra proposta ao comando
nacional. A proposta oferecida não reestrutura a carreira. Todos os
professores com mestrado e associados terão perda salarial em 2015. A
segunda proposta do governo é pior que a primeira”, destacou o
professor Jair Batista, do comando de greve.
“Vamos encaminhar essa decisão para o comando nacional para que force
a reabertura de negociação com o governo”, complementou. Segundo o
professor, o comando de greve foi estabelecido após assembleia com 400
docentes no dia 29 de maio e era formado por 21 representantes e dois
diretores da Apub. No entanto, os dois representantes do sindicato se
retiraram do comando de greve.
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Professor
discute com presidente da Apub (sentada, de costas) durante
assembleia que decidiu pela manutenção da greve |
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"Situação peculiar"
Batista ressaltou ainda o embate gerado entre o comando de greve a
direção da Apub. “Temos uma situação peculiar na Bahia. A base a favor
da greve e a direção do sindicato contra. O comando de greve repudiou
a atitude do Proifes de assinar o acordo com o governo. Foi uma
conduta política nefasta”, disse.
De acordo com o comando de greve, mesmo após o repúdio, a direção da
Apub não levou a Brasília o resultado da assembleia. “A professora
Silvia Ferreira [presidente do Apub] se comprometeu em assembleia a
defender o que fosse decidido. Só que ela foi para o conselho
deliberativo e não defendeu nenhuma deliberação aprovada em
assembleia”, afirmou.
A presidente da Apub, Silvia Lúcia, combateu as acusações, mas admitiu
que o posicionamento da direção do sindicato é da não continuidade da
greve. “As acusações são válidas, mas eu não concordo. Eu levei para a
mesa de negociação o que foi aprovado em assembleia. O problema é que
em uma mesa de negociação se avança. Não posso levar só a decisão do
comando”, disse a presidente da Apub.
Metralhadora de brinquedo
Durante a assembleia, Silvia foi vaiada várias vezes e ainda ganhou de
um professor uma metralhadora de brinquedo. “Foi feita uma consulta do
Proifes nacionalmente e 74% das respostas foi de que concordavam com a
proposta do governo. Não é uma greve local, é nacional. O
posicionamento da Apub é acompanhar o encerramento do Proifes que é o
encerramento da greve. O governo já encerrou as negociações.A Andes
sabe entrar numa greve, mas não sabe sair e não apresenta
contra-proposta”, emendou Silvia.
A presidente da Apub foi ainda acusada pelos grevistas de convocar uma
assembleia “tendenciosa”, com ponto único sobre “encerramento da
greve”. Ao dar início à assembleia, sob protestos, ela voltou atrás e
acatou pedido dos grevistas para que a pauta fosse “greve, avaliação,
encaminhamento”. Silvia ainda foi contra que integrantes do comando de
greve fizessem parte da mesa. Mas, com novos protestos e vaias, também
voltou atrás e aceitou.
O clima ficou ainda mais tenso quando a presidente da Apub disse para
os grevistas que convidou representantes do Ministério Público
Federal, do Ministério Público do Trabalho e da Ordem dos Advogados
(seção Bahia). A direção da Apub foi ainda questionada pelos grevistas
sobre o contrato de seguranças para os diretores. Representante do
sindicato, o professor João Augusto admitiu que foram contratados
seguranças por conta das “abordagens dos professores”.
Discussão
Filiada à Apub, a professora Regina Antoniaze disse que não se sente
representada pelo sindicato. “Me sinto representada pelo comando de
greve. A assembleia é soberana e a Apub não respeitou isso. A direção
da Apub nos traiu”, disse.
Para o professor Paulo Fabio, o único a falar ao microfone que era
contra a continuidade da greve, a proposta do governo é
insatisfatória, mas razoável. “A proposta não atende ao conjunto das
reivindicações, mas isso não é motivo para a continuidade. As
assembleias não tem gerado contra-propostas. Os professores mantem a
proposta inicial. A proposta do governo não reestrutura a carreira,
mas avança. A reestruturação da carreira é uma luta que deve
prosseguir, mas não devemos condicionar isso à greve”.
Realizada na faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da
Bahia. Participaram da assembleia cerca de 350 docentes da UFBA e da
UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) e do IFBA (Instituto
Federal da Bahia). A paralisação começou em 29 de maio.
Fonte:
Anderson Sotero/ Do UOL, em Salvador