Universidade federal permite até triplo emprego, diz TCU
Pelo menos 3.000
servidores de 19 universidades e institutos federais foram flagrados
em situação trabalhista irregular desde o ano passado.
Análise: Instituições devem investir em profissionalização e
avaliação
Entre os
problemas mais frequentes estão o segundo emprego de professores
contratados pelo regime de dedicação exclusiva e a acumulação de
jornadas, com cargas horárias muito acima do considerado factível.
As
irregularidades foram levantadas por um pente-fino realizado pelo TCU
(Tribunal de Contas da União) desde o ano passado, e ainda em curso,
nas 93 universidades e institutos federais do país.
Alguns servidores
chegam a ter três empregos, com carga declarada superior a 120 horas
semanais.
A maior parte das
segundas ocupações desses servidores é exercida nos governos
municipais e estaduais.
A Folha levantou
os problemas apontados nas 19 primeiras auditorias concluídas (veja no
quadro).
Um dos casos mais
graves é o da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), onde
foram apontados 664 servidores (professores e técnicos) com um segundo
emprego irregular, o que equivale a 7% do efetivo, incluindo
pensionistas.
"Vários
servidores ocupam cargos indevidamente e acreditam que a acumulação
não será detectada ou, se o for, que não haverá maiores
consequências", afirma o TCU no relatório da auditoria na UFRN.
Para o órgão, o
modelo de dedicação exclusiva é motivo de dor de cabeça. No relatório,
o TCU pondera que o regime é uma "particularidade (...) que pode
facilitar a ocorrência de acumulação indevida".
Entre as
instituições já auditadas estão a UFBA (federal da Bahia) e a UFRGS
(federal do Rio Grande do Sul) -nesse último caso, contudo, foram
levantados apenas seis casos de irregularidades.
TRÊS EMPREGOS
Os professores
têm a prerrogativa de acumular dois empregos formais, desde que o
profissional não seja de dedicação exclusiva à universidade. Mas,
segundo a lei, as cargas horárias das duas funções precisam ser
compatíveis. O TCU desconfia que em muitos casos elas não são.
Em alguns
exemplos, a irregularidade parece evidente. É o caso de 40 servidores
da UFT (Universidade Federal de Tocantins), que foram flagrados em
dois e até três empregos.
"Há casos de
servidores ocupando dois cargos, com jornada semanal de 107 horas",
informa o relatório.
Esse último caso
requereria uma jornada diária de 20 horas de trabalho, com uma folga
semanal. Em alguns casos, os empregos eram em cidades diferentes, a
mais de 200 quilômetros de distância.
Foram
identificados, ainda, servidores que apresentaram declarações "falsas
ou omissas" de que haviam deixado um dos empregos para assumir o cargo
na universidade.
Nesses casos, o
tribunal determinou que fosse aberto processo administrativo para
sanar a irregularidade e, se for o caso, requerer o ressarcimento dos
valores pagos a mais aos servidores.
Editoria de arte/Folhapress
OUTRO LADO
O Ministério da
Educação afirma que, diante da autonomia universitária, cabe a cada
uma das instituições adotar medidas próprias para coibir as
irregularidades e punir os responsáveis.
O presidente do
Conif (conselho das instituições federais de tecnologia), Denio
Rebello Arantes, afirma que as auditorias do TCU são "fundamentais
para a aplicação da transparência pública".
"A fiscalização
pelas instituições da rede não é tarefa simples, inclusive porque não
possuem as ferramentas adequadas para o cruzamento de dados nem
autorização para isso", completa.
A Andifes
(associação de reitores das universidades federais) informa que
desconhece o resultado das auditorias e que não vai se posicionar
sobre o assunto.
Procurada, a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte não respondeu.
Já a federal de
Goiás diz que tomou medidas depois de ser notificada e que vai
responder a todos os questionamentos do TCU.
O IF Baiano
(Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano) afirma
que criou uma comissão para instaurar um processo administrativo
disciplinar que irá apurar as infrações.
O IFBA (Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia) informa que, após
ser notificado pelo TCU, "determinará que os servidores identificados
em situação irregular apresentem justificativas e comprovações nos
prazos previstos internamente".
A federal do
Recôncavo da Bahia diz que quatro servidores tiveram problemas e três
apresentaram a documentação que atesta o contrário.
O Instituto
Federal do Amapá afirma que "o que esta no acordão é verídico, e
infelizmente é a realidade" e que alguns funcionários, para fugir de
processos administrativos, "estão se antecipando com pedido de
demissão".
Segundo o
Instituto Federal de Rondônia, foram exigidos todos os documentos
necessários no ato da posse dos servidores e os que apresentaram
problema já resolveram suas situações. A Universidade Federal de
Roraima informa que 80% dos casos relatados no processo do TCU já
foram solucionados.
As outras
universidades e institutos que não tinham situações apontadas pelo TCU
como pontuais foram procuradas e não responderam.
Fonte: Folha de
S. Paulo, Dimmi Amora e Flávia Foreque, 17/10/12.