Servidores se reúnem para discutir previdência privada e direito de
greve
Mais de cem
servidores públicos federais se reuniram neste sábado (3) para debater
a privatização da previdência pública e o direito de greve no setor
público no Seminário organizado pela Coordenação Nacional das
Entidades dos Servidores Federais (Cnesf).
O encontro faz
parte da agenda de mobilização dos servidores públicos, que já deram
início à campanha salarial de 2012. No domingo, a Cnesf realizou a
plenária nacional da entidade para organizar as próximas ações em
relação à da campanha salarial 2012 dos SPF e encaminhar os temas
discutidos no sábado.
Previdência
Complementar
Para fundamentar
o debate sobre a criação da previdência complementar dos servidores
foram convidadas a auditora federal Lucieni Pereira, 2ª
vice-presidente do Sindilegis, e a professora Sara Granemann, da Seção
Sindical da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Adufrj).
As palestrantes
fizeram uma explanação sobre a privatização da previdência social, com
a criação da Funpresp sob o aspecto político e jurídico. Explicaram
ainda como a criação dos fundos de pensão para os servidores públicos
afeta, não só aqueles que entrarem após a aprovação do projeto, mas
também os que estão na ativa e os já aposentados. Ao final, fizeram um
apelo às entidades para que fortaleçam a luta contra o PL.
Sara destacou que
os fundos de pensão no país investem atualmente quase 50% do montante
que arrecadam (R$ 350 bilhões, próximo ao orçamento da Seguridade) na
compra de títulos do estado brasileiro, fazendo crescer
exponencialmente a dívida brasileira.
Desta forma, os
fundos são responsáveis, com outros capitais pela manutenção das taxas
de juros do país. Caso os servidores públicos venham a aderir à
previdência complementar, serão também responsáveis pelo desmonte do
Estado brasileiro.
A professora
lembrou ainda que, caso aprovada, a previdência complementar precisará
de um quadro de 400 mil associados em cinco anos, para que possa levar
recursos suficientes para o mercado. “Será desencadeada uma forte
campanha de pressão pelo governo Dilma para que os atuais servidores
públicos da ativa se filiem ao fundo”, alertou.
“A Previdência
Social é o pacto mais belo que a classe trabalhadora conseguiu
construir dentro da lógica do capital. Por isso, para os inimigos da
classe trabalhadora, esse pacto precisa ser destruído economicamente e
ideologicamente”, avaliou Sara.
A diretora do
Sindilegis, Lucieni Pereira, apontou os aspectos jurídicos do projeto
de lei que privatiza a previdência e contou aos presentes que uma ação
de inconstitucionalidade já está sendo preparada, para caso o PL seja
aprovado no Senado.
“Temos que tentar
barrar o projeto no Senado ou conseguir com que os Senadores
modifiquem o texto para que ele retorne à Câmara”, orientou.
Lucieni lembrou
que só quem ganha acima do teto do INSS é que vai ter direito da
contribuição patronal da União ao Funpresp. “Além disso, a previdência
complementar é só para aposentadoria e pensão. Se um servidor ganha
acima do teto do INSS e é afastado por problemas de saúde, ele passa a
receber o valor do teto sobre o qual contribui como salário e não sua
remuneração integral, como acontece atualmente. Ou seja, se o servidor
recebe R$ 10 mil, irá ganhar menos de R$ 4 mil enquanto estiver
afastado. Isso afeta tanto os novos quanto aqueles que já estão na
ativa”, explicou.
A auditora
reforçou ainda que enquanto na maioria dos países que adotam a
previdência complementar, os benefícios são definidos, no Brasil
apenas a contribuição será definida, e o trabalhador não terá como
saber o quanto irá receber. “A Alemanha, por exemplo, foi contra esse
modelo de contribuição definida”, observou.
Ela lembrou
também que quase todos os países possuem esquemas garantidores que
protegem os benefícios em caso de insolvência. “No Brasil, se o fundo
quebrar o trabalhador vai rezar para que o governo injete dinheiro
para resgatar a instituição, com medo de ficar sem sua aposentadoria.
É um modelo draconiano”, ressaltou.
As falas das
palestrantes foram saudadas pelos presentes. Muitos destacaram a
qualidade das exposições, o que permite aos servidores rebater os
argumentos dos burocratas do governo. Para Paulo Barela, coordenador
da CSP-Conlutas, os servidores precisam se unir e atacar todas as
frentes na luta contra a privatização da previdência. “A lógica do PL
1992 cumpre com um papel estratégico no capital, que é jogar para a
classe trabalhadora a resolução da crise, como vem sendo feito na
Europa e nos Estados Unidos”, destacou.
Direito de greve
No período da
tarde, o professor Daniel Romero, do Instituto Latino Americano de
Estudos Sócio Econômicos (Ilaese) apresentou as diferentes propostas
em pauta que tratam do tema direito de greve no serviço público.
Segundo ele, o
direito de greve é o mais importante da classe trabalhadora, pois é
através dele que se conquista e garante outros direitos. “Assim como é
importante para a classe trabalhadora, é importante para o capital
regulamentar, institucionalizar esse direito para, na prática, impedir
seu exercício”, observou.
Romero disse que
tem se evidenciado no Brasil um fortalecimento da criminalização dos
movimentos sociais e sindicais, com anuência dos governos ditos de
esquerda. “Este governo não tem feito nada para desmontar esse caráter
autocrático, ao contrário, tem reforçado. Se olharmos a história, esse
caráter se fortalece nos momentos de maior crescimento econômico, era
Vargas, governo Militar e a fase atual”, contou.
O professor
explicou que isso se dá pelo caráter preventivo da burguesia, que
prepara o país para uma radicalização da crise internacional, que
possa atingir o país. “A burguesia é muito eficaz na desmobilização
dos movimentos sociais”, ressaltou.
Ele apresentou as
três propostas que estão em pauta na discussão do direito de greve, a
construída pelo deputado Nelson Marquezelli (PTB/SP), que proíbe o
direito de greve, a do Ministério do Planejamento (em parceria com
centrais sindicais como a Força Sindical e a CTB) e a do Ministério do
Trabalho.
Para o
representante do Ilaese, as três propostas são um retrocesso ao que já
existe. “Na medida em que o governo estabelece o direito, ele cria
exceções para regulamentar esse mesmo direito. Não creio que o
executivo acolha uma dessas propostas, mas apresente um texto que seja
uma mistura das três”, avaliou.
Na opinião de
Romero, o movimento sindical tem que criar uma proposta alternativa
que fortaleça a autonomia, a unidade e a negociação de trabalho com
acordos coletivos.
Várias das falas
dos participantes foram marcadas pela oposição à discussão do direito
de greve uma vez que, na avaliação de muitos servidores, isso permite
a institucionalização da greve, delegando ao estado a regulamentação
de um direito dos trabalhadores.
Outra polêmica
foi a discussão sobre o imposto sindical. Na opinião de João Paulo
Ribeiro, diretor da Fasubra e coordenador da CTB, os sindicatos
precisam de uma fonte fixa de financiamento e se o trabalho for feito
de forma séria, não há porque não se estabelecer o imposto sindical
também para os servidores.
A fala do
representante da CTB foi combatida por muitos dos presentes. Reinaldo
Barros, do Sindifisco-PA, classificou o imposto sindical como uma
excrescência, que faz adormecer os diretores, que não precisam ir à
base convencer os trabalhadores a se sindicalizar.
Luiz Henrique
Schuch, 1º vice-presidente do ANDES-SN, destacou que o imposto
sindical serve para sustentar organizações cartoriais, que não se
preocupam em organizar a base e fazer a luta dos trabalhadores.
“Se cairmos na
esparrela de, em nome desse processo, aceitarmos retrocesso em nossas
conquistas sindicais, e discutirmos unicidade e imposto sindical,
estaremos reforçando o cartório que libera a carta sindical e não os
sindicatos, que efetivamente fazem a luta dos trabalhadores”, observou
o diretor do ANDES-SN.
Fonte: ANDES-SN,
5/3/12.