Servidor protesta por salário e arranca Frente anti-fundo de pensão
Com atos na porta
do ministério do Planejamento e no Congresso, entidades do
funcionalismo unem-se contra governo. Cobram reajuste salarial e
retirada da proposta que acaba com aposentadoria integral na
categoria. Frente parlamentar pró-servidor reúne 200 assinaturas.
Governo diz que negociará para evitar greves, mas reforma da
previdência é prioridade absoluta.
Brasília – Os
servidores públicos federais comemoraram o que consideram ter sido
três vitórias nesta quarta-feira (15), ao lançarem campanha por
reajuste salarial. Unificaram 29 das 32 entidades em torno de
reivindicações. Viram cerca de 200 deputados assinarem proposta de
criação da Frente Parlamentar em Defesa do Serviço Público. E
arrancaram do ministério do Planejamento promessa de que a primeira
rodada de negociações se dará ainda na primeira semana de março.
Pela manhã, os
servidores promoveram um ato em frente ao ministério, que os
organizadores dizem ter mobilizados cerca de 300 pessoas. Eles
reclamaram de dificuldade para negociar, pois apresentaram suas
reivindicações aos três poderes em janeiro, mas ainda não ouviram uma
resposta.
“No ano passado,
duas categorias de servidores realizaram greves de, em média, 120 dias
e não foram recebidos sequer uma única vez pelo governo”, disse um dos
coordenadores da Central Sindical e Popular (Conlutas), Paulo Barela.
“Nós estamos
apontando o dia 28 de março como data limite para que o governo
estabeleça negociações de fato. Caso contrário, convocaremos uma greve
geral para abril”, afirmou Pedro Armengol, da Central Única dos
Trabalhadores (CUT).
O ex-secretário
de Relações do Trabalho Duvanier Paiva, responsável por dialogar com
servidores nos dois mandatos do ex-presidente Lula e no primeiro ano
do governo Dilma, morreu em janeiro, por falta de atendimento médico
nos hospitais de Brasília. Ainda não há substituto, o que atrapalha as
negociações. Segundo a ministra Miriam Belchior, o novo secretário
será definido em breve.
“[Nós] Apostamos
no diálogo como bom caminho para chegarmos a um acordos”, afirmou
Miriam, que ainda tem esperança de impedir uma greve. De acordo com
ela, o governo está esperando que o Congresso aprove projeto que abre
R$ 1,6 bilhão no orçamento para aumento de salário de algumas
categorias do funcionalismo.
Na campanha
salarial, os servidores reivindicam, principalmente, fixação da
data-base da categoria em 1º de maio e pelo menos reajuste geral com
base na inflação.
Reforma da
previdência
A campanha também
serve como resistência a um projeto do governo que extingue a
aposentadoria integral de futuros servidores, fixa para a categoria um
benefício previdenciário máximo igual (R$ 3,8 mil) ao dos
trabalhadores que recebem pelo INSS e cria um fundo de pensão
complementar para quem quiser ganhar mais.
Segundo as
entidades que representam servidores, o projeto vai tornar a carreira
menos atraente, e isso vai prejudicar a qualidade dos serviços
públicos.
Para o governo,
porém, o projeto é prioridade absoluta, pois corrigiria uma distorção
(aposentadoria de servidor dá mais déficit do que no INSS) e ajudaria
o Estado a economizar recursos para ser usados em outras áreas.
A proposta só não
foi votada pelos deputados nos últimos dias por falta de entendimento
entre alguns líderes partidários. A tendência é que seja votada dia
28, depois do carnaval.
O fundo de
previdência do servidor foi, o principal tema de debates durante o
lançamento da Frente Parlamentar em Defesa do Serviço Público, na
Câmara, na tarde desta quarta-feira (15).
Para o deputado
Ivan Valente (SP), presidente nacional do PSOL, a primeira grande
missão da Frente será barrar a votação. “Este projeto significa a
privatização da previdência pública brasileira.”
Secretário-geral
da Frente, o deputado Roberto Policarpo (PT-DF), que é servidor do
Judiciário, se comprometeu a votar contra o projeto, considerado
prioridade máxima pelo governo Dilma. “Muitos deputados ainda estão na
dúvida e, por isso, estão sensíveis à pressão dos servidores”, disse
ele, recomendando mobilização da categoria. Os servidores do
Judiciário estão há seis anos sem reajuste.
A vice-presidente
da Frente, deputada Liliam Sá (PSD-RJ), também anunciou sua posição
contrária ao projeto. “Esta semana fiz um pronunciamento criticando
este projeto, que considero um absurdo”.
O deputado Chico
Alencar (RJ), líder do PSOL e tesoureiro da Frente, acrescentou que o
projeto prejudicará os futuros servidores públicos. “O argumento do
governo para aprovar o projeto é que ele não prejudicará os servidores
atuais, mas os futuros. Então, prejudicará alguém. E nossa luta não é
só para o agora. Nosso sonho é arrancar melhorias até 2050”.
O presidente da
Frente, o deputado Edson Santos (PT-RJ), ressaltou a importância da
iniciativa e a pluralidade partidária que a configura. Mas não
declarou se será favorável à criação do Fundo. “Essa frente se
pretende plural e o mais ampla possível para intermediar as
reivindicações dos servidores públicos federais”, afirmou.
Fonte: Ag. Carta
Maior, Najla Passos, 15/2/12.