Em semana decisiva, governo muda estratégia para encerrar greve
Planalto substitui negociações setoriais por conversas em bloco para
agilizar acordos de aumento salarial e coloca 31 de agosto como prazo
final para sindicatos aceitarem propostas
O governo não está disposto a estender as negociações de aumento
salarial dos servidores federais com as centrais sindicais para depois
de 31 de agosto, quando vence o prazo para o encaminhamento do
orçamento de 2013 ao Congresso Nacional, que pode incluir mudanças
como novos reajustes até dezembro. “As negociações estarão encerradas
em 31 de agosto. A partir daí, ficam para uma nova negociação em
2013”, afirma ao iG o secretário de relações de trabalho do Ministério
do Planejamento, Sérgio Mendonça.
Destacado pela ministra Miriam Belchior para negociar com os
sindicatos, Mendonça indica que esta semana será decisiva para
encerrar as greves de cerca de 350 mil servidores de 30 categorias,
segundo a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal
(Condsef) – nas contas do governo, a adesão envolve de 70 mil a 80 mil
trabalhadores da União em todo o País.
Para encerrar as paralisações, o secretário afirma que o governo pode
abrir mão das negociações setoriais até agora em curso para realizar
conversas coletivas com diversas categorias ao mesmo tempo. “Optamos
nos últimos meses por negociações setoriais. Agora, tendo pautas que
atendam a todos os servidores - o que estamos analisando no orçamento
- chamaremos as entidades em blocos”, sinaliza.
A mudança de estratégia depende ainda da reelaboração da conta de
gastos com pessoal prevista para orçamento de 2013. A conta está sendo
refeita pelo Planejamento. Por ora, a única certeza é de que os R$
92,7 bilhões pedidos pelas centrais sindicais é uma fábula que o
governo não irá endossar. “Esse número está absolutamente fora de
propósito. É muito grande e inviável. Esses R$ 92,7 bilhões
representam quase metade folha de pagamento (R$ 187,8 bilhões, em
2012)”, diz.
Sindicatos: relação abalada
Mendonça avalia que o governo vive um “momento de aprendizado”, tendo
decidido acumular as negociações para julho, próximo ao prazo final
definido pela Lei de Diretrizes Orçamentárias para finalizar o
orçamento.
A justificativa é a de que era preciso tempo para medir o impacto da
crise internacional na economia brasileira antes de abrir o cofre. O
secretário reconhece que houve demora para apresentar propostas. “O
governo tem de estruturar sua capacidade de atender demandas”, avalia.
O tempo curto para negociar setorialmente é criticado pelas centrais
sindicais, que reclamam da falta de disposição do governo em discutir
reestruturações de carreira, ficando preso apenas a aumentos de
salário. “Há um erro no governo de dizer que tem limitação no
Orçamento e não dizer qual é. Deveria pegar a proposta do servidor e
falar: 'Isso eu não posso atender, mas posso fazer isso aqui'”, afirma
ao iG o secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
Sérgio Nobre.
O secretário nega que
a pressão dos grevistas estaria fazendo a presidenta Dilma Rousseff
colocar o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência)
no debate com poder de decisão.
Até agora, Carvalho tem apenas ouvido as centrais, sem poder fechar
acordos.
O que se comenta no Planalto é que a presidenta estaria querendo
retirar parte das negociações da alçada do Planejamento. Mendonça nega
a pressão. “É permanente a aproximação com a Secretaria-Geral, que tem
a determinação de ouvir os movimentos sociais. Mas a prerrogativa de
negociação é do Ministério do Planejamento”, afirma.
Punição em planejamento
Com a prioridade de manter o nível de emprego no setor privado,
sensível à retração econômica internacional, a
presidenta Dilma Rousseff engrossou o tom
na última sexta-feira, afirmando que o governo vai “assegurar empregos
para aquela parte da população que é a mais frágil, que não tem
direito à estabilidade".
Mendonça, que concedeu entrevista ao iG no instante em que Dilma
retrucava grevistas em Rio Pardo de Minas (MG), afirma que “a
preocupação é a retomada da economia e a preservação de empregos no
setor privado”.
É nesse sentido que o governo sinaliza que pode punir os grevistas com
corte de ponto e o remanejamento de pessoal para áreas mais afetadas
pela paralisação. Os professores universitários serão os primeiros
punidos com corte de pagamento.
O governo garante que não irá elevar a proposta de aumento de R$ 4,2
bilhões para a categoria em parcelas em março de 2013, 2014 e 2015. A
proposta foi aceita apenas por
parte dos professores,
que mantêm as aulas paradas em boa parte do país.
O mesmo vale para o
R$ 1,7 bilhão proposto aos técnicos administrativos
das universidades e institutos tecnológicos federais em greve. “A
proposta do governo é essa: R$ 1,6 bilhão de aumento para os
professores em 2013 e R$ 530 milhões para os técnicos”, diz Mendonça.
Fonte:
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2012-08-13/em-semana-decisiva-governo-muda-estrategia-para-encerrar-greve.html
Por Nivaldo Souza - iG Brasília