Com proposta do governo, apenas 10% dos docentes podem ter ganho real
até 2015
A proposta apresentada pelo governo federal na última sexta-feira (13)
aos professores em greve sequer recompõe as perdas inflacionárias dos
salários de grande parte da categoria. Esta é a análise preliminar do
Comando Nacional de Greve do ANDES-SN, que foi encaminhada para a base
e será analisada durante esta semana nas assembléias locais nas
Instituições Federais de Ensino. Confira
aqui análise completa no Comunicado Especial do CNG.
Uma das reivindicações que levou os docentes a deflagrarem a greve,
que completa dois meses nesta terça (17), é a reestruturação do plano
de carreira da categoria, de forma que o mesmo seja simplificado e
traga conceitos que valorizem a atividade acadêmica. Veja
aqui a proposta de reestruturação de carreira do ANDES-SN.
No entanto, na visão do CNG, o governo faz um jogo de números
maquiados e agrava a desestruturação, que já existe na carreira atual,
consolidando-a em uma soma de distorções. Por exemplo, reforça a
descaracterização da remuneração por titulação, firmando valores
nominais sem nenhuma lógica, não incorporada ao vencimento básico.
“Para se ter uma ideia, os professores em regime de dedicação
exclusiva não têm garantia de uma remuneração adequada e constante”,
aponta Marinalva Oliveira, presidente do ANDES-SN.
Apesar da proposta inicial não contemplar as reivindicações da
categoria, o ANDES-SN tem a expectativa de que a reunião de
sexta-feira seja o início da negociação com o governo. “Este processo
começou após mais de 55 dias de greve e se deve à força de pressão do
movimento. E, como todo processo de negociação, exige diálogo e tempo
para discussão. Na próxima segunda, dia 23, levaremos ao governo a
resposta da categoria, que virá das assembléias na base”, disse
Marinalva.
Perdas salariais
Os valores nominais contidos na tabela tomam como base os salários de
julho de 2010 e projeta, também em valores nominais, o que seria o
resultado em 2015, omitindo toda a corrosão inflacionária do período,
superior a 35%, de acordo com os cálculos do Comando, tomando como
referência o ICV/Dieese, e uma projeção futura com base na média dos
últimos 30 meses.
Desta forma, são cinco anos de inflação que foram desconsiderados
pelos ministros Miriam Belchior e Aloizio Mercadante ao noticiar em
entrevista coletiva, na sexta (13), que os docentes teriam até 45,1 %
de reajuste.
Além disso, o pretenso reajuste inclui os 4% do acordo assinado em
agosto de 2011, que só foi cumprido, após forte pressão do movimento,
em maio de 2012, retroativo a março deste ano.
Para algumas classes, justamente onde está concentrado um grande
número de docentes, há redução de até 8% do valor real da remuneração,
como é o caso do professor mestre adjunto 4/DIV4 e do professor doutor
associado 1/DV1, ambos em regime de dedicação exclusiva (DE). A
proposta apresenta apenas pequeno ganho real para a classe de
professor titular, topo da carreira, que hoje representa menos de 10%
da categoria.
No que diz respeito à progressão entre níveis, as discrepâncias são
enormes: enquanto um professor assistente/DII, com mestrado, em regime
de DE, após dois anos de interstício, cumprindo todos os requisitos e
aprovado em um processo de avaliação para passar do nível I para o
nível II teria uma compensação remuneratória de apenas R$ 58,29 (o que
correspondente a menos de 1% do que recebia antes), o professor
associado/DV com doutorado, teria, nas mesmas condições, uma
compensação remuneratória de R$ 798,51, correspondente a mais de 5%.
Aspectos conceituais
Os aspectos conceituais apresentados pelo governo reforçam a
hierarquização verticalizada, a lógica do produtivismo medidos pelo
atendimento de metas de curto prazo e da competição predatória, as
quais têm sido veementemente rejeitadas pela categoria.
Na visão do CNG do ANDES-SN, “tal postura é incompatível com a
construção do padrão unitário de qualidade da universidade pública e
autônoma, na qual o trabalho acadêmico seja exercido sob a égide do
preceito constitucional de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão”.
Os pontos conceituais apresentados pelos ministérios do Planejamento e
da Educação negam ainda a definição de critérios, relações e índices
necessários a reorganização e a constituição de direitos, remetendo
apenas para tabelas de valores nominais, inconstantes em relação aos
regimes de trabalho e discriminatória ao retirar do corpo do
vencimento a valorização da titulação dos professores.
No sentido inverso, investe em fixar novas barreiras à progressão dos
professores na carreira, além de remeter ao próprio poder central (na
figura do MEC) a regulamentação futura de todos os critérios e
procedimentos, agredindo a autonomia universitária. Além disso, limita
a ascensão ao topo da carreira – a classe de professor titular - a 20%
do quadro docente da instituição.
Não há relação proporcional entre regimes de trabalho, resultando em
que cada docente receba percentual diferente pelo regime de dedicação
exclusiva. Por exemplo, enquanto um professor mestre assistente
2/DII2, receberia 20% a mais pela DE, a retribuição correspondente a
esse mesmo regime de trabalho seria de 40% para o professor titular
doutor e de 54% para o professor auxiliar1/DI1 graduado. Além disso,
talvez venha a ser a única carreira no serviço público federal na qual
a remuneração do regime de 40h não será o dobro da remuneração do
regime de 20h.
Mobilização
Na avaliação do CNG do ANDES-SN, a greve entra agora num outro
momento, que é dar sequência ao enfrentamento, com a intensificação o
diálogo com a categoria e a sociedade, principalmente para
desmistificar a proposta do governo, destacando seu significado de
consolidação dos retrocessos já existentes no plano de carreira
docente, na desestruturação e desqualificação da remuneração, na
legalização da intensificação do trabalho, que precariza as condições
do seu exercício.
“A tarefa é manter e radicalizar a greve. Nesta semana, isto
significa: intensificar o movimento e desmascarar a proposta do
governo”, conclui o comunicado do CNG.
Agenda
O Comando Nacional de Greve do ANDES-SN participa nesta semana do
acampamento na Esplanada, em Brasília, organizado pelo Fórum das
Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais. No dia 18,
quarta-feira, será realizada Marcha Nacional, para a qual os Comandos
Locais de Greve devem enviar caravanas de todo o país.
Fonte: ANDES-SN, 16/7/12.