PROFESSORES ESTRANGEIROS GANHAM BEM MAIS QUE BRASILEIROS
Salários no país são duas vezes menores que os pagos na OCDE
Comparados aos
professores que lecionam em países da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), os salários dos docentes brasileiros
são expressivamente mais baixos. A OCDE é uma organização
internacional e intergovernamental que agrupa os países mais
industrializados da economia do mercado.
Segundo
resultados da Pesquisa Nacional Amostra de Domicílios (PNAD) de 2010,
calculados pela Metas - Avaliação e Proposição de Políticas Sociais,
um docente brasileiro do fundamental 2 (6º a 9º anos) ganhou, em
média, US$ 16,3 mil por ano em 2009. Enquanto isso, pesquisa da OCDE
revela que profissionais com mesma formação e tempo de experiência
receberam US$ 41,7 mil, nos países que integram a Organização. Quando
observados os dados referentes a professores da rede pública
brasileira, a diferença fica ainda mais gritante, uma vez que esses
receberam, em 2009, média anual de U$ 15,4 mil.
O presidente da
Sedufsm e diretor do ANDES-SN, Rondon de Castro, analisa que tais
dados revelam a propaganda falaciosa divulgada pelo governo federal.
“Mesmo com a crise econômica que afeta grande parte dos países da
Europa, os docentes de lá recebem mais do que o dobro da remuneração
recebida pelos docentes daqui. O governo Dilma não exita em agitar que
a crise não chegou ao nosso país, entretanto, vemos os trabalhadores,
cada vez mais, pagando uma conta que não é sua. Se não há crise, qual
outro motivo alegado para não valorizarmos os professores?”, questiona
Rondon.
Para
pesquisadores brasileiros, como a economista Fabiana de Felício, da
consultoria Metas, é difícil selecionar bons professores se a
profissão não é valorizada. “É uma atividade desgastante e [dar aula
é] um compromisso inadiável. Tem de pagar um salário compatível [para
que valha a pena ser professor]”, diz Fabiana.
Diferença com
outros profissionais
Na mesma pesquisa
avaliada pela Metas, problematiza-se a diferença salarial existente
entre professores e os demais profissionais no Brasil. Os dados
apontam que o salário médio de um professor da rede pública com curso
superior e com, pelo menos, 15 anos de experiência (US$ 15,4 mil) não
chega a metade (48,5%) da remuneração dos demais profissionais (US$
31,7 mil). Quando se fala em profissionais do fundamental, a diferença
é um pouco menor. O salário anual médio de um professor da rede
pública (US$ 13,1 mil) é 54,7% do médio das demais profissões (US$
24,4 mil) com a mesma formação e o mesmo tempo de serviço.
Essa
característica de diferenciar remunerações, entretanto, não é aplicada
apenas no Brasil. Mesmo os países mais ricos da OCDE pagam a seus
professores 85% do valor com que remuneram os demais profissionais da
etapa equivalente ao fundamental 2.
O pesquisador da
Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), Rubens
Barbosa de Camargo, diz que os números já foram piores em nosso país.
"Com a introdução do Fundef [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério] que depois virou o
Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação], o professor deixou de ter
salários acintosos", diz Camargo.
Contudo, em
comparação com os países da OCDE, o Brasil é o terceiro país que menos
investe por aluno no pré-primário (US$ 1,696) e no secundário (US$
2,235), além de ser o quarto colocado no primário (US$ 2,405).
PNE
No texto original
do Plano Nacional de Educação (PNE), a remuneração dos professores é
elencada como a 17ª das 20 metas apresentadas para a educação:
“valorizar o magistério público da educação básica a fim de aproximar
o rendimento médio do profissional do magistério com mais de onze anos
de escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais com
escolaridade equivalente”, diz trecho do documento.
O PNE, que estava
planejado para ter sua vigência entre os anos de 2011 e 2020, ainda se
encontra na Câmara dos Deputados. A razão é a falta de consenso quanto
ao investimento que deve ser aplicado na área da educação. Movimentos
sociais e ligados à educação reivindicam a aplicação de 10% do Produto
Interno Bruto (PIB) exclusivamente na educação pública.
Um relatório
elaborado pela Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo
(Adusp) informa que os salários dos professores consomem 1,5% do PIB
atualmente. Camargo acredita que com 2% do PIB seria possível fazer
com que os professores alcancem a média dos outros trabalhadores. Na
avaliação dele, a valorização do magistério passa ainda por melhoria
nas condições de trabalho, como infraestrutura de qualidade e
diminuição do número de alunos por sala.
Fonte: UOL,
Edição: Bruna Homrich (estagiária); Fritz Nunes (Jornalista), 3/10/12.