Professores paralisam atividades pelo cumprimento do Piso
Assim como no ano
passado, a principal reivindicação de luta dos professores deste ano é
para que governos e municípios cumpram a lei do piso, que exige o
pagamento do salário básico e que um terço da jornada de trabalho seja
usada para que o profissional prepare suas aulas, corrija provas e
trabalhos. O movimento nacional reivindica também o direcionamento de
10% do PIB para o investimento em educação. “De minha parte, a
expectativa é grande com essa paralisação. Os professores estão
percebendo que se não houver uma grande greve, não será aprovado o
piso”, conta a professora de Filosofia da rede estadual de São Paulo,
Rosi Santos.
O estado de São
Paulo paga o piso salarial aos professores. Na capital paulista é
preciso trabalhar 30 horas por semana para receber um salário que
varia de R$ 1.700 a R$ 2.292 para quem tem licenciatura plena e entre
R$ 1.063 a R$ 1.897 para o professor com a formação de nível médio. No
entanto, o custo de vida mais alto do país, somado às crescentes
remunerações por bônus, fragmentação da categoria em diversos níveis,
classes superlotadas, repartição de férias e ondas de violência nas
escolas, não fazem da profissão uma tarefa fácil para o professor
paulista. Além o disso, o estado não garante um terço da jornada para
a preparação de atividades. De acordo com a CNTE, para jornadas de 24,
30 e 40 horas o estado direciona somente 17% para atividades
extraclasses.
Fora da lei
A situação nesse
quesito é ruim no país inteiro. Em Macapá (AP), por exemplo, os
trabalhadores têm direcionados apenas 16% do tempo para isso. Os
estados de Alagoas, Espírito Santo, Maceió, Minas Gerais, Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul garantem entre 20% e 25%. Bahia,
Goiás e Mato Grosso cumprem os 30%, mas em Goiânia (GO), por exemplo,
um professor chega a ter uma jornada de 60 horas, de acordo com a
CNTE.
Em relação ao
cumprimento dos pisos, o quadro também é desolador. O maior salário é
pago pelo Distrito Federal, R$ 3.903 por 40 horas para um professor
com licenciatura plena. Mas no Ceará, por exemplo, a remuneração de um
professor de nível médio não chega a R$ 370, para uma jornada de 20h.
Quem trabalha 40h, com o mesmo nível, ganha R$ 739.
Em Alagoas,
também para nível médio e 20 horas de aula, o salário é de R$ 593. Nas
mesmas condições de nível e jornada, o Amazonas paga R$ 616; a Bahia,
R$ 552; Goiás, R$ 503; Maranhão, R$ 427; Mato Grosso do Sul, R$ 662;
Piauí, R$ 593; Paraná, R$ 542; Rio Grande do Sul, R$ 395; Santa
Catarina, R$ 609. No Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro
pagam-se respectivamente R$ 912 (para 25h), R$ 369 (para 24h) e R$ 680
(16h).
Diante dessa
conjuntura, um movimento nacional dos professores coloca a categoria
em outro patamar. Apesar de fortes mobilizações no ano passado, a
desarticulação dos movimentos gerou problemas locais como a não
conquistas das reivindicações, a repressão violenta pelos governos
desde o PT ao PSDB, PMDB, PSD e PPS, e o corte de ponto pela Justiça
como ocorreu em Minas Gerais, minando uma greve que durou 112 dias.
Condições
Matheus Lima,
diretor estadual da Apeoesp, sindicato do professorado paulista,
destaca a crescente perda de vagas para os cursos de licenciatura nas
universidades e um nível de aprendizado muito baixo das crianças e
adolescentes nas escolas. “Nos últimos anos, as pessoas têm desistido
mais dos cursos de educação devido ao contexto tão ruim em que ela se
encontra. Isso acaba resultando na falência tanto dos docentes, quanto
dos educandos”, conclui.
As redes também
contam com milhares de professores temporários, que não têm as mesmas
condições de trabalho e salários dos efetivos. Ambos enfrentam uma
lida dura, conforme relata a professora Rosi Santos. “As condições são
péssimas, as escolas não possuem uma estrutura básica para o
desenvolvimento ensino e por consequência o aprendizado não acontece.
Há anos não recebemos um aumento significativo, chego a dar aula pra
50 alunos por sala e o governo não respeita um terço da jornada
dedicado à atividade pedagógica”. Para melhorar, é preciso lutar,
garante a professora. “E saber que a efetivação do piso não é só uma
reivindicação econômica, mas garante que o professor tenha tempo para
preparar suas aulas, pensar melhores enfoques e formas de
aprendizado”, afirma.
Fonte: Brasil de
Fato, Aline Scarso; [Andes-SN], 15/3/12.