PM volta a agredir estudantes da USP
 

Estudantes da Universidade de São Paulo (USP) denunciam mais um caso de agressão cometido pela Polícia Militar (PM) dentro do campus Butantan, na zona oeste de São Paulo. Nessa segunda-feira (9), o aluno Ciências da Natureza na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP Leste Nicolas Menezes Barreto foi agredido pelo sargento da PM André Luiz Ferreira.

O estudante acusa o policial de racismo. “Eu era o único negro lá (…) sem dúvida foi racismo. Ele foi falar comigo porque pensou que eu não era um estudante, e sim um traficante, algo assim. Tanto que se surpreendeu quando viu que eu era estudante”, relatou Nicolas Barreto para o blog Outro Brasil.

Operação

Atendendo solicitação da reitoria, os policiais tentavam desocupar o local – antigo centro de convivência da USP, hoje usado pelo DCE (Diretório Central dos Estudantes). Os estudantes eram contra a desocupação por ser esse o único espaço de convívio dos que moram no campus.

De acordo com vídeo que está na internet, após conversar com alunos presentes no local, o sargento André Luiz Ferreira pede que o estudante se identifique. O aluno diz que estuda na universidade, mas não apresenta sua identificação. O militar então puxa o estudante por cima de um balcão, e começa a dar safanões. Saca uma arma automática, aponta para o aluno e depois a guarda.

O policial joga o estudante para fora do prédio e bate nele. Os demais estudantes presentes intervêm e acusam o policial de abuso de autoridade. Nicolas Menezes Barreto apresentou posteriormente sua identificação de aluno da universidade.

A estudante de matemática da USP, Ana Paula de Oliveira, disse à reportagem que na última sexta-feira também foi agredida, no mesmo local, por guardas universitários.

“Eles estavam querendo fechar [o prédio], eu fui para fotografá-los tirando as coisas de lá de dentro, sem mandato, sem nada. A guarda estava sendo acompanhada pela polícia. Eu entrei lá dentro e comecei a tirar fotos da ação da guarda. Um guarda passou o pé em mim, e eu acabei caindo no chão. Quando levantei, quatro guardas abaixaram a porta, que acabou caindo nas minhas costas”, relatou Ana Paula ao site do CSP-Conlutas.

Segundo Ana Paula, grávida de cinco meses, todos os guardas estavam sem identificação, fardados, e de luvas de látex. Assim como Nicolas Barreto, Ana Paula também prestou queixa na delegacia de polícia. A PM, em nota enviada à imprensa, informou que o sargento André Ferreira, assim como outro policial que participou da operação, foi afastado das funções.

Adusp

Em nota disponibilizada na página da entidade, a Associação dos Docentes da USP (Adusp) repudia mais esse ato de violência da PM no campus. No texto, a entidade reafirma o que tinha sido dito em outubro, quando polícia fez uso de bombas de efeito moral e cassetetes para conter manifestação de estudantes.

“Reafirmamos o que foi dito na nota anterior porque a situação não mudou. Apesar dos problemas que tivemos em outubro, a reitoria não tem mostrado disposição para o diálogo e mantém a Polícia Militar nos campus”, afirmou o 1º vice-presidente da Adusp e 2º secretário do ANDES-SN, César Augusto Minto.

Na nota, a Adusp argumenta que a USP pode e deve se organizar de forma democrática, mostrando à sociedade a importância do respeito à diversidade, característica da universidade, que impõe o exercício da tolerância e o caminho da autoridade conquistada, “jamais o autoritarismo”.

Diz, ainda, que o polêmico convênio entre USP e PM-SP “levanta uma série de preocupações”.

O texto defende que a Universidade “pode e deve constituir e manter um efetivo que realize a segurança em seu território, devidamente formado por valores humanitários e democráticos para o convívio com a diversidade que a caracteriza e a torna singular. Para tanto, é necessário que invista na formação de um contingente de funcionários aptos a atuar nesse espaço, mostrando que casa educativa não é lugar de polícia.”

“É isto que temos visto? Seguramente, não!”, denuncia a nota. Segundo o texto, a Reitoria da USP tem optado por respaldar o autoritarismo, em flagrante violação ao ethos universitário.”

  • Veja, aqui, a nota da Adusp.
     

  • Assista ao vídeo da agressão ao estudante Nicolas Menezes Barreto.

 

 

Fonte: ANDES-SN, 10/1/12.

 


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