Pesquisador prestativo melhora produção científica dos colegas
O cientista
discreto, mas que ajuda os colegas com conselhos e dicas, pode estar
fazendo mais pela ciência do que aquele pouco colaborativo mas que é
uma estrela na profissão. Um comentário baseado em um estudo curto
publicado na revista "Nature" nesta quinta, 27 de setembro, deixa
claro o motivo.
O pesquisador
Alexander Oettl, do Instituto de Tecnologia da Geórgia (EUA), estudou
os "agradecimentos" a cientistas que não eram coautores em artigos
científicos na área de imunologia desde 1950. E descobriu que, quando
esses cientistas, todos líderes e "pesquisadores principais" (ou seja,
chefes de sua equipe de pesquisa), morriam de repente, os artigos dos
seus colegas mais jovens perdiam qualidade – medida pelo "impacto",
isto é, o número de citações que geravam em artigos de outros
pesquisadores.
Já os cientistas
cujos colegas seniores eram pouco colaborativos não chegavam a perder
qualidade, ou "impacto", na sua produção científica.
"Tradicionalmente, a ciência tem sido uma busca individual, em que as
pessoas têm sido avaliadas pela sua produção pessoal e realizações.
Mas a descoberta depende cada vez mais do trabalho em equipe, e ainda
assim os cientistas estão sendo julgados apenas pelo que eles mesmos
realizam", escreveu Oettl em artigo na "Nature".
Graças às
modernas ferramentas de computação, ele conseguiu garimpar dados de
qualidade. Checou em detalhes os arquivos de uma revista científica da
área de imunologia, o "Journal of Immunology", entre 1950 e 2007; ou
seja, mais de 50 mil artigos. E, para saber quais pesquisadores teriam
morrido no período, extraiu dados de mais de 400 mil notas na
"newsletter" da Associação Americana de Imunologistas.
Ele achou 149
"pesquisadores principais" que morreram no meio da carreira. E 63
deles estavam entre os 20% que mais recebiam agradecimentos. Eram os
que mais ajudavam seus colegas mais jovens.
"Meus resultados
sugerem que os cientistas que são prestativos têm um impacto
importante sobre as carreiras dos seus colegas – e têm sido
subestimados por um empreendimento científico que premia o desempenho
individual acima de tudo. É hora de olhar mais de perto quais
qualidades que mais valorizamos nos cientistas. Os pesquisadores que
geram inúmeros trabalhos de alto impacto podem ter pouco tempo para
discutir os problemas, criticar manuscritos ou serem mentores de
estudantes. Aqueles que produzem um fluxo de artigos medianos podem
ter um impacto muito mais positivo sobre as carreiras das pessoas ao
seu redor. Pesquisadores que procuram colaboradores podem, por vezes,
optar por um colega prestativo que não é uma grande força em seu campo
em vez de um cientista estrela de rock que raramente responde a
e-mails", escreveu o pesquisador.
Fonte: Folha de
S. Paulo,Ricardo Bonalume Neto, 27/9/12.