Os movimentos sociais e a crise do Capital
Em Porto Alegre, organizações e altermundistas discutem perspectivas
sobre a crise
O Fórum Social
Temático teve início no dia 24 de janeiro, em Porto Alegre e nas
cidades do entorno da capital gaúcha. Entre diferentes atividades, o
primeiro dia de debates ficou marcado pela visão das organizações
sociais a respeito da crise estrutural do capitalismo.
A mesa “Hacia um
nuevo periodo historico”, coordenada pelo sociólogo venezuelano
Edgardo Lander, iniciou com a provocação a diferentes dirigentes de
organizações internacionais sobre os seguintes eixos temáticos: o tema
da desigualdade, da crise ambiental e do impasse da democracia no
atual cenário político. Houve bastante confluência entre as análises
feitas pelos conferencistas.
Lander também
argumentou que hoje no mundo há mais de 1000 bases militares
pertencentes aos EUA, além de uma hegemonia do capital financeiro, que
impõe seu programa, por meio das agências de risco. Esse domínio passa
a desmontar o Estado de Bem-Estar Social. Para Lander, é necessário
“confluir movimentos que surgiram anteriormente e os novos movimentos”
João Pedro
Stedile, pela Via Campesina Internacional, afirmou que o poder do
Capital financeiro hoje é superior à capacidade de intervenção dos
Estados nacionais. O que se demonstra com o dado de que 150 trilhões
de dólares circulam hoje no mundo com o lastro de apenas 55 trilhões
de dólares baseado na produção real.
No olhar da Via
Campesina, a crise é estrutural, a exemplo do que foi visto no final
do século 19 e também no período entre guerras mundiais, no século
vinte. O agravante, ressalta Stédile, é o fato de a crise ser
mundializada, alcançar uma população hoje vivendo nas metrópoles,
tendo conseqüências também na alimentação e no meio ambiente. As
transnacionais e o capital financeiro buscam, atualmente, lançar-se
sobre os recursos naturais para garantir altas taxas de lucro – um
lucro extraordinário, obtido a partir de um preço superior ao valor de
bens da natureza, que são finitos. Transnacionais, capital financeiro
e os meios corporativos, na avaliação de Stédile, são os principais
inimigos a ser derrotados.
Descolonização
Gustave Massiah,
representante do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial,
enxerga os atuais movimentos de resistência que ocorrem hoje,
sobretudo ao Norte da África, como um segundo processo de
descolonização, situação que ocorre fora do eixo dos países centrais e
dos países emergentes.
Massiah também
definiu que a luta mundial contra o neoliberalismo está em sua quarta
etapa. A primeira aconteceu contra a imposição do pagamento da dívida
pública nos países periféricos, nos anos 1980. Na década seguinte
(1990), de acordo com ele, foi a vez da luta contra o desemprego e
contra os efeitos do Livre-Comércio. Uma terceira fase da luta foi
aberta com o Fórum Social Mundial (FSM), nos anos 2000; a quarta fase
aberta com o estopim na Tunísia e os movimentos que se vem
desenvolvendo desde então.
“Em 2001, se
começou a se nominar o Capital Financeiro e suas consequências,
mostrou-se que as desigualdades chegaram a um nível insuportável,
traduzido na ideia de 1% e 99% (...) Não há espaço na sociedade do
Capital Financeiro”, afirma.
Ditaduras
apoiadas pelo Ocidente
O marroquino
Hamouda Sorbbi comentou sobre as mobilizações populares que ocorreram
ao Norte da África e na região denominada como Maghreb, envolvendo
países como Marrocos, Tunísia, Egito e Argélia, que viviam “ditaduras
apoiadas pelo Ocidente”, nomeia.
Em entrevista ao
Brasil de Fato, Sorbbi comentou que existe uma articulação entre
organizações na região norte da África, que permite visualizar a
região como um todo, para além das fronteiras nacionais, e aponta que
as lutas existem há décadas na região. As lutas no seu país, Marrocos,
remontam à década de 1980.
Ao contrário do
Marrocos, Egito e Tunísia, na avaliação do ativista, foram países onde
trabalhadores com maior nível econômico sofreram impactos da crise, o
que permitiu mobilizações mais explosivas, o que não aconteceu no
Marrocos.
Participaram
ainda do debate a australiana Nicola Bullard, falando sobre os
mecanismos que não resolvem o problema ambiental, caso da economia
verde – além de um integrante do movimento “Ocupe London”.
Assembleia dos
Movimentos Sociais
Um dos momentos
para aprofundamento da perspectiva dos movimentos sociais sobre a
crise e, ao mesmo tempo, para apresentar as propostas de lutas comuns,
será organizado no dia 28 de janeiro, durante a “assembleia dos
movimentos sociais”, que deve reunir os movimentos brasileiros
atuantes na Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), passando por
organizações internacionais e também aquelas no campo da Alternativa
Bolivariana para as Américas (Alba). Esse processo buscar pautar a
Rio+20 por meio da Cúpula dos Povos, que acontecerá paralelamente ao
evento oficial, em junho de 2012. Mais que isso, pretende organizar um
calendário comum de ações.
Fonte: Brasil de
Fato, Pedro Carrano, 26/1/12.