Mesmo sob o protesto dos servidores, Senado aprova o Funpresp
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A grande
manifestação realizada nesta quarta-feira (28) pelos servidores no
auditório Petrônio Portela, no Senado Federal, não foi impeditivo
para que fosse aprovado o projeto de lei da Câmara 02/2012, que
cria o Funpresp e privatiza a previdência dos servidores público.
“Eu não tenho dúvidas que esse projeto será aprovado, pois além de
atender os interesses do governo, é uma vontade do capital”,
disse, horas antes da aprovação, a professora da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Sara Granemann, que foi uma das
palestrantes do “Seminário contra o PLC 02/12”, realizado no
Senado.
Além de
lotarem o auditório Petrônio Portela, os servidores se dividiram
entre visitas aos gabinetes dos senadores e nas galerias do
plenário do Senado. A justeza e correção dos argumentos
apresentados, no entanto, não convenceram os senadores. Não por
coincidência, o Palácio do Planalto acertou nesta quarta-feira
(28) com lideranças de partidos governistas, a liberação, em
abril, de R$ 2,5 milhões em emendas por parlamentar da base.
Segundo a agência Reuters, em junho será liberada a mesma quantia
por parlamentar aliado. |
A votação no
plenário do Senado foi acompanhada por dezenas de servidores. Apesar
de o senador Randolfe Rodrigues (PSol/AP) ter apresentado requerimento
para que a votação fosse nominal, o presidente da mesa, José Sarney
(PMDB/AP), aproveitou um momento em que Rodrigues não estava no
plenário para anunciar que a votação seria ostensiva, que é quando os
contrários à medida devem levantar a mão. No caso dessa votação,
apenas o senador Roberto Requião (PMDB/PR) posicionou-se
antecipadamente contra a aprovação.
“Foi uma
decepção. Eu não pensava que a votação fosse tão rápida. Não houve
reação”, afirmou o professor da Universidade Federal de Campina
Grande, Antônio Lisboa Leitão.
Inconstitucionalidades
Logo após a
aprovação do PLC, o senador Randolfe Rodrigues, líder do PSol na Casa,
anunciou que após a sanção da lei do Funpresp pela presidente Dilma
Rousseff o partido irá ao Supremo Tribunal Federal questionar a
constitucionalidade da proposta. Segundo Randolfe, o projeto é
“flagrantemente inconstitucional”.
O primeiro ponto
desrespeitado, segundo o senador, é o bem estar social previsto pela
Carta Magna, que tem a previdência pública como um de seus principais
pilares. Para o senador, o novo modelo proposto pelo governo promove
uma “privatização da previdência pública”. Outra inconstitucionalidade
da matéria decorreria da exigência da Constituição de que a
previdência complementar seja regulada por meio de lei complementar e
não lei ordinária, o que caracterizaria um vício formal no PLC 2/2012.
O último ponto
destacado pelo senador é a previsão constitucional de que determina
que “o regime de previdência complementar será instituído por lei de
iniciativa do respectivo Poder Executivo, por intermédio de entidades
fechadas de previdência complementar, de natureza pública” (artigo 40,
§ 15). O projeto aprovado no Senado, no entanto, prevê como de direito
privado as três entidades previdenciárias a serem criadas com o novo
regime de previdência.
Seminário
O deputado João
Dado (PDT/SP) também disse no seminário realizado no auditório
Petrônio Portela que vai questionar a constitucionalidade da lei do
Funpresp “Nós não podemos desistir. Caso o PL seja aprovado, vamos
questionar na Justiça”, adiantou, um pouco antes da votação. “Este
projeto é inconstitucional, pois não há previsão orçamentária”,
afirmou. Dado também aconselhou os servidores a votarem, apenas, em
quem defende os interesses da categoria. “Vocês têm de dar o troco
agora, nas eleições municipais”, aconselhou.
Já o deputado
Ivan Valente (PSol/SP) previu que haverá uma nova proposta de reforma
da Previdência dentro de poucos anos. “Essa proposta do governo não
tem o objetivo de melhorar as condições de vida dos servidores. O que
o governo vai fazer será jogar as contribuições de vocês no mercado
financeiro e, não se enganem, daqui a dois anos será apresentada uma
nova proposta, para atingir aqueles que não forem para o Funpresp”,
vaticinou.
Outro parlamentar
que criticou o PLC 02/12 foi o deputado Paulo Rubem Santiago (PDT/PE).
“O Funpresp vai servir, apenas, para alimentar a ciranda financeira”,
advertiu. O deputado Chico Alencar (Psol/RJ) elogiou a mobilização dos
servidores. “Vocês estão aqui para defender a dignidade do serviço
público, que um projeto como esse destroi, pois acaba com a
perspectiva de carreira”, disse.
Como
representante do ANDES-SN no seminário, a 1ª vice-presidente da
Regional Sul, Bartira Grandi, lembrou que o Sindicato sempre esteve
nas lutas contra as reformas da Previdência e que o Funpresp será um
tiro de morte no funcionalismo público, pois joga a previdência do
servidor no mercado financeiro. “Além disso, é certo que virão novos
ataques e retirada de direitos”, afirmou.
O auditor fiscal
da Receita Federal do Brasil e representante da Delegacia Sindical do
Sindifisco no Rio de Janeiro, Luis Carlos, criticou o rolo compressor
governo. “Foi para isso que a presidente Dilma lutou contra a
ditadura, para impedir que hoje um projeto tão importante como é o do
Funpresp passe pelo Congresso Nacional sem nenhuma discussão?”,
argumentou.
Além de Sara
Granemann, que criticou o Funpresp por quebrar a solidariedade entre
os servidores e por promover a exploração do trabalhador pela própria
classe, o seminário contou ainda com a participação dos auditores
fiscais Maria Lúcia Fatorelli, Roberto Piscitelli e Clemilce Carvalho.
Com informações e
fotos da Agência Senado
Fonte: ANDES-SN,
29/3/12.