MEC financiará curso de medicina em faculdade privada
Durante a 82ª
Reunião Plenária do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras
(Crub), ocorrida no último dia 24, o ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, anunciou que o Ministério da Educação (MEC) pretende
financiar a abertura de cursos de medicina em faculdades privadas. Tal
abertura seria, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste, visando
suprir a demanda de médicos nessas localidades. A ideia é que o edital
seja lançado até o início de 2013, oferecendo linha de crédito do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) às
instituições que demonstrarem interesse. Para a Sedufsm e alguns
docentes da Ufsm, entretanto, os resultados dessa medida são
duvidosas, uma vez que essa não tocará nos reais problemas da saúde
brasileira.
Para o presidente
da Sedufsm e diretor do ANDES-SN, Rondon de Castro, o problema não
reside na falta de médicos, mas na errática distribuição desses pelo
país. “Esses [os médicos] acabam se concentrando nas áreas urbanas,
densamente povoadas, e deixando desassistida boa parte do país. Mas
tal realidade ocorre devido à falta de condições de trabalho e de
infraestrutura”, explica Rondon. O ex-presidente da Sedufsm e docente
do departamento de Ciências Econômicas, Ricardo Rondinel, compartilha
de opinião semelhante, expondo dois motivos para a falta de
profissionais de medicina nas duas regiões citadas: são regiões
pobres, ou seja, não apresentam demanda, estando essa concentrada no
centro-sul do país; e o baixo nível dos salários oferecidos pelo setor
público. O professor destaca também que, embora fossem altos os
salários, a falta de infraestrutura não permitiria a grande atração de
médicos para as regiões.
“A solução para o
Norte e o Nordeste é o SUS (Sistema Único de Saúde). Investir em
Medicina Preventiva e Curativa, com salários diferenciados, maiores,
para profissionais que trabalhem lá. Também deveria ser criado um
serviço civil de graduandos em Medicina, em que os médicos seriam
obrigados a trabalhar nas regiões Norte e Nordeste em troca de bolsas,
antes de receber seus diplomas”, opina Rondinel.
Corroborando a
ideia de que o problema não é a falta de profissionais de medicina no
país, o professor do departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Edson
Nunes, diz que, no Brasil, há mais cursos de medicina do que nos
Estados Unidos. O docente explica que a recomendação da Organização
Mundial da Saúde (OMS) é de um médico para cada 1000 habitantes e
contrasta com a desigual distribuição dos profissionais em nosso país:
enquanto regiões como a norte apresentam um médico para cada 2.000
habitantes – desrespeitando o que recomenda a OMS -, regiões como a
sudeste e sul chegam a dispor de um médico para menos de 100
habitantes. “A abertura de novos cursos de medicina já está se
tornando habitual, quase corriqueiro neste país, cuja intenção nem de
longe visa à melhoria da saúde da população com a formação de novos
profissionais médicos; ao contrário, o objetivo é única e
exclusivamente político-eleitoreiro”, critica Morais.
Consequências do
apoio ao privado
Rondon de Castro
problematiza o apoio do governo aos empresários da educação,
entendendo que a criação de faculdades privadas desincumbe o poder
público da tarefa de fornecer, para a sociedade, profissionais da área
da saúde, jogando isso para a iniciativa privada. “Tal medida irá
atrair pessoas que podem ter acesso ao ensino privado, ou seja, a
classe média alta. Sem fazer uma política de condições de trabalho,
esses profissionais continuarão concentrando-se nas grandes cidades, o
que pode provocar competitividade entre eles, consequente arrocho de
salários e deficiência no atendimento à população”, explica.
Durante a reunião
com a Associação dos Reitores, Mercadante afirmou que existem, em
processo de análise pelo MEC, pedidos para a criação de cerca de 2,5
mil vagas de Medicina. “Não temos condições de atender as demandas que
são apresentadas, porque nós vamos entrar numa canibalização ou numa
concentração. Canibalização, porque às vezes você só tem um
equipamento do SUS e cursos públicos e privados disputando aquela
infraestrutura. Isso prejudica a formação e a qualidade do serviço.
Além disso, há uma concentração muito elevada. Queremos desconcentrar
a formação e pensar o Brasil como um todo. Por isso vamos mudar a
política”, disse o ministro.
Reuni
O professor
Rondinel diz que, a partir do plano de expansão das Instituições
Federais de Ensino Superior (Ifes) – o Reuni - foi oferecida verba
para a expansão de vagas em qualquer curso. Ele exemplifica a falta de
política dessa expansão através da UFSM, que, em cursos que apresentam
mais demanda, como Medicina e Direito, praticamente não ampliou vagas,
enquanto em outros cursos, que apresentam relação candidato-vaga igual
ou menor a um, foram ampliadas as vagas. Outro exemplo citado pelo
professor é a Unidade Descentralizada de Silveira Martins (UDESSM),
que não possui sequer candidatos. “E o maior exemplo disto é que a
última greve nas IFES foi puxada pelas novas universidades, que têm
condições precárias, por falta de docentes, servidores, prédios,
laboratórios”, diz Rondinel.
Caráter
excludente da faculdade privada
Edson Nunes de
Morais explica que, para o assalariado, as chances de cursar Medicina
em uma universidade privada são muito reduzidas, uma vez que os custos
são exorbitantes. “Abrir novas escolas médicas continua sendo uma ação
não justificável por parte dos seus mentores políticos, especialmente.
Tais atitudes já não são mais reprimidas pelas entidades como
sindicatos médicos, associações médicas e conselhos regionais de
medicina, que, antigamente, pela força de seus movimentos coletivos,
conseguiam restringir o ímpeto de políticos mal intencionados”, diz o
docente, que acredita estar presente, nesse processo, uma lógica:
quanto mais escolas sem qualidade, mais doentes continuarão doentes.
“Portanto, que se
reprima mais esta iniciativa do governo, com a força da sociedade, das
entidades representativas dos profissionais da área da saúde,
especialmente da área médica. O respeito à vida constitui a essência
do trabalho do médico. Lutemos por isso”, conclui Edson.
Texto: Bruna
Homrich (estagiária) com informações de Andifes/O Globo
Edição: Fritz
Nunes (Jornalista)
Fonte: Sedufsm