Manifestantes querem instalação de Comissão da Verdade universitária
Ato pede que USP
investigue crimes cometidos contra “subversivos” durante a última
ditadura militar (1964-1985). Entre as denúncias a serem apuradas,
está a delação de funcionários, estudantes e professores aos militares
pelas Congregações das Faculdades
Estudantes,
funcionários e professores da Universidade de São Paulo (USP) realizam
um ato nesta quarta-feira, às 17h30, para entregar à reitoria milhares
de assinaturas que pedem a instalação de uma comissão da verdade na
USP. O Fórum Aberto Pela Democratização da Universidade é quem
organiza a iniciativa. Ele pede que a USP instale uma comissão
autônoma, independente e paritária para investigar os crimes cometidos
contra os uspianos considerados “subversivos” pela última ditadura
militar (1964-1984).
De acordo com
investigações do Fórum, dos 475 mortos e desaparecidos reconhecidos
pelo Estado brasileiro, pelo menos 47 pessoas tinham ligação com a
Universidade. O Fórum conta com a participação de dezenas de centros
acadêmicos, coletivos políticos e entidades de representação de classe
de alunos, funcionários e docentes e exige a apuração de denúncias
como a suposta delação de uspianos aos militares pelas Congregações
das Faculdades.
O ato desta
quarta-feira acontece no Auditório do Instituto de Oceanografia da USP
e deve contar também com a participação de familiares das vítimas da
ditadura. “A ideia é entregar o abaixo-assinado para que a reitoria
tome providências. Enviamos um convite para ela, mas até o momento não
temos um posicionamento definido da sua participação no ato”, explica
a professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH), Elisabetta Santoro, integrante do Fórum.
De acordo com
ela, a abertura de uma comissão na USP tem o apoio da Comissão da
Verdade nacional e estadual. “Queremos colaborar de forma efetiva com
essas investigações e contribuir com as comissões municipal, estadual
e nacional. Então, se a comissão uspiana não for feita com rapidez
pode existir um descompasso”, acrescenta, lembrando que a Universidade
de Brasília (UnB) já instalou sua própria comissão.
Em ato no dia 17
de outubro, a integrante da Comissão Nacional da Verdade, Rosa
Cardoso, endossou o pedido da Comissão Estadual da Verdade para que a
USP reveja a demissão da professora Ana Rosa Kucinski. A professora
foi demitida em outubro 1975 por “abandono de função”, no entanto
estava desaparecida desde 1974 após ser presa por militares.
Reitoria
Indagada sobre o
interesse da reitoria em promover esse debate na Universidade, a
professora Elisabetta Santoro se mostra cética. “Se nós acreditássemos
que o reitor poderia fazer isso de sua iniciativa, não teríamos feito
uma campanha tão forte. Esperamos que todo o esforço desses últimos
meses seja suficiente para pressionar a instituição a passar o passado
a limpo”, explica.
O atual reitor da
USP, João Grandino Rodas, quando era integrante da Comissão Especial
sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) da ditadura militar,
votou contra a culpabilidade do Estado em dez casos, incluindo o da
estilista Zuzu Angel e do secundarista Edson Luís de Lima Souto. Por
diversas vezes, teve voto igual ao do general do exército Oswaldo
Pereira Gomes.
Rodas firmou um
convênio que permitiu o livre acesso da Polícia Militar ao campus e
processou 51 uspianos, entre estudantes e funcionários, em razão da
ocupação da reitoria de novembro do ano passado. Os processos são
baseados no regime disciplinar da USP de 1972 que, entre outras
coisas, proíbe manifestações políticas dentro do campus.
Participação de
religiosos
Já a Comissão
Nacional da Verdade deve instalar um grupo de trabalho para investigar
a atuação de religiosos que combateram ou se aliaram à última ditadura
militar (1964-1985). A equipe deve ser coordenada por Paulo Sérgio
Pinheiro e terá a participação de pesquisadores autônomos e teólogos.
Um dos primeiros
depoentes deve ser Anivaldo Padilha, pai do ministro da Saúde
Alexandre Padilha. Anivaldo teve que se exilar em 1971, depois de ter
sido preso e torturado em razão da delação de pastores da igreja em
que freqüentava.
Serviço:
O quê: Entrega de
abaixo-assinado para a reitoria da USP
Onde: Praça do Oceanográfico, 191, Cidade Universitária, São Paulo
(SP)
Quando: 07/11, às 17h30
Fonte: Brasil de
Fato, Aline Scarso, 6/11/12.