Livro de sul-africano mostra o que a Copa não trouxe para a África do
Sul
Quais os
benefícios que serão gerados para a população brasileira pela Copa de
2014? A julgar pelo que aconteceu na África do Sul, que sediou a Copa
de 2010, serão pífios. É o que mostra o livro South Africa’s World
Cup: A Legacy For Whom? (Copa do Mundo da África do Sul: um legado
para quem?), lançado recentemente pelo líder sindical sul-africano
Eddie Cottle.
Em entrevista ao
jornalista Alexandre Praça, da revista Le Monde Diplomatique Brasil,
Cottle afirma que os grandes beneficiários com a Copa foram a Fifa e
grandes conglomerados empresariais. Não houve, por exemplo, o tão
esperado aumento do turismo para a África do Sul. O pior é que agora o
Estado está tendo de gastar para manter os caros estádios construídos
para o evento.
“Para os
trabalhadores em geral e para o público, havia uma expectativa de que
a Copa iria gerar emprego. Comentavam que haveria dinheiro fluindo
para dentro do país por meio do turismo, dos investimentos, e assim
por diante. Mas a realidade é que a Copa não forneceu tudo o que a
mídia prometia”, afirmou Cottle na entrevista.
“Neste momento, a
África do Sul e os países vizinhos estão perdendo mais investimentos
locais do que recebendo investimento estrangeiro direto. Isso porque a
Copa do Mundo não traz investimento estrangeiro direto”, constata.
Para o
sindicalista, que liderou as greves realizadas pelos trabalhadores da
construção civil durante a construção dos estádios, as copas do mundo
são veículos para a acumulação de capital privado em uma escala
global, em que a Fifa atua como facilitadora. “Em termos de acumulação
de capital, não há nada igual, nem mesmo nos velhos tempos do
imperialismo ou na globalização moderna. A Copa recebe toda essa
atenção precisamente porque os ultrapoderosos são aqueles que mais se
beneficiam dela”, denuncia.
Cottle sustenta
que a Copa trouxe um legado negativo para a África do Sul, pois a Fifa
e seus parceiros tiveram a garantia de grandes lucros sem terem de
pagar impostos para o país. Sem contar que os sul-africanos precisaram
oferecer muita coisa, como a garantia de que as ruas estariam “limpas”
da pobreza durante os jogos e de que não poderia haver projetos de
construção durante todo o mês da Copa. “Ou seja, perdemos uma
contribuição para o PIB. Isso nunca é mencionado”, criticou.
Ele também afirma
que apesar de uma despesa de 40 bilhões de rands (R$ 9 bilhões), mais
de 60% do consumo gerado pela Copa foi gerado pelos próprios
sul-africanos.
Outra crítica
feita pelo sindicalista é sobre a qualidade dos gastos. “Nós gastamos
dinheiro em estádios que se tornaram elefantes brancos. Cerca de 4,5
bilhões de rands [R$ 1 bilhão] foram gastos no Green Point, na Cidade
do Cabo, mas não precisávamos daquele estádio. Foi um desperdício de
infraestrutura”, contabiliza. Ele também argumenta que daqui a 15
anos, a África do Sul terá de comprar da Alemanha uma nova cobertura
para os estádios, que terão se desgastado. É o dinheiro saindo da
periferia para beneficiar o centro da economia mundial.
“É justificável
aplicar esse volume de recursos com base em uma suposição? Porque é
suposição, não ciência. Você não está dizendo: “Se eu gastar 1 bilhão,
garanto que nos próximos dez anos vamos ter 200 milhões de turistas”
e, portanto, seria possível calcular a quantidade de dinheiro que
vamos ganhar. Isso não é possível. É pura economia da suposição”,
questiona Cottle na entrevista.
A entrevista, que
foi publicada em novembro pela Le Monde Diplomatique Brasil, pode ser
lida aqui.
Fonte: ANDES-SN,
4/1/12.