Guerra das Malvinas já começou perdida, diz Altamira
Jornalista argentino abriu debate do Cultura na Sedufsm
A Argentina
jamais ganharia a Guerra das Malvinas, uma guerra para o qual o país
não estava sequer preparado, afirmou Jorge Altamira, jornalista,
escritor e militante argentino, durante a palestra na terça (27), à
noite, durante a abertura da 51ª edição do Cultura na Sedufsm, que tem
como tema os 30 anos da Guerra das Malvinas.
Cerca de 80
pessoas compareceram à exposição, que também foi transmitida pela
internet, em tempo real. Um total de 11 pessoas se conectou ao link de
transmissão no site da Seção Sindical dos Docentes da Universidade
Federal de Santa Maria para assistir ao evento.
Conforme o
analista argentino, o que queriam os militares, que comandavam o país
em uma ditadura ferrenha, era que a partir da ocupação do arquipélago,
o governo inglês se dispusesse a negociar. Contudo, alguns fatores não
foram levados em conta pelos argentinos, entre eles, o fato de o
governo britânico, à época dirigido pela “dama de ferro”, Margareth
Thatcher, encontrar-se em uma crise política grave, com alto índice de
desemprego e a primeira ministra com baixa popularidade. A guerra foi
o pretexto para unir a população em torno de Thatcher.
A guerra não era
uma questão apenas militar, mas política, disse o jornalista. Ela
também não seria vencida pelos argentinos porque os Estados Unidos não
deixariam, argumentou ele. Nesse ponto, os militares argentinos
tiveram que recuar, pois eles corriam pelos menos dois riscos graves:
1- A Inglaterra, ameaçada de perder sua frota naval e a própria
guerra, poderia usar mísseis atômicos contra cidades argentinas; 2- A
possibilidade de uma intervenção norte-americana no conflito,
inclusive com o uso de tropas.
Altamira, cujo
nome de registro é José Saúl Wermus, é uma das importantes lideranças
políticas de oposição na Argentina, sendo o principal expoente do
Partido Obrero (PO). Nas últimas eleições (2011), como candidato a
presidente da República, Jorge Altamira alcançou 700 mil votos,
perfazendo um total de 4% dos votos. Segundo ele, boa parte da
esquerda argentina acabou aderindo à candidatura de Cristina Kirchnér.
Esse governo é classificado por ele como “instável” politicamente e a
presidente é vista como alguém que está “combatendo o tempo inteiro”.
No entanto, diz ele, isso é só aparência, mas não o conteúdo.
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Em relação à
posição do atual governo sobre as Malvinas, Jorge Altamira considera
que, apesar do discurso belicista e em defesa da soberania, o que
estaria por trás é a tentativa de negociar possíveis dividendos a
partir da exploração do petróleo na região das Malvinas. Ele frisa que
o próprio arquipélago não é mais uma concessão apenas inglesa e sim de
toda a Comunidade Europeia. Ressaltou ainda que as Malvinas se
transformaram em uma “grande plataforma petroleira” do Atlântico Sul,
a apenas 500 km do continente argentino e às vésperas de receber em
suas águas conglomerados financeiros de todo o mundo.
Questionado sobre
sua posição pessoal de como negociar a questão, caso chegasse à
Presidência da Argentina, Altamira respondeu que “não faria nada”.
Para o analista, somente um governo nos moldes revolucionário, com a
inversão completa da política que se faz hoje, conseguiria por em
prática uma política que levasse à recuperação das ilhas. Jorge
Altamira também defende a nacionalização completa da indústria
petroleira de seu país.
Perguntado sobre
os efeitos do conflito (que durou menos de três meses) para a
Argentina, além das mais de 600 mortes, o jornalista listou a crise
econômica pela qual passou o país, com a explosão da dívida externa.
As oscilações econômicas e políticas na Argentina continuam até hoje,
destaca ele, assinalando que a crise que se vive hoje é até mais grave
do que a enfrentada em 1982, quando da eclosão da guerra. Jorge
Altamira diz que a derrota precipitou o fim da ditadura militar,
todavia, antes mesmo da guerra, o regime já estava colocado contra a
parede. Ele cita que três dias antes do início do conflito houve uma
manifestação de 50 mil trabalhadores em Buenos Aires, contra a
ditadura.
Com edição do
ANDES-SN
Fonte: Sedufsm -
Seção Sindical, Fritz R. Nunes, 29/3/12.