Greve deste ano foi a mais longa e intensa da categoria, avalia
ANDES-SN
A greve realizada
este ano pelos docentes das Instituições Federais de Ensino (IFE) foi
a mais longa e intensa da categoria, causada, principalmente, pela
insatisfação dos professores com a desestruturação na carreira e as
precárias condições de trabalho, mas também fruto do intenso trabalho
de mobilização realizado desde 2010. Essa é a avaliação política
preliminar que a diretoria do ANDES-SN faz da paralisação de quatro
meses protagonizada pelos professores da IFE. (leia
aqui)
“Mas, para
avaliar um movimento paredista de tamanha envergadura é necessário
remontar ao tempo. Esta é uma avaliação preliminar e necessita de
distanciamento temporal e maturação para avaliar a complexidade e a
conseqüência dos fatos”, afirma a Diretoria Nacional no documento.
No texto, a
direção do ANDES-SN recupera toda a movimentação que houve desde 2010,
quando a Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento
entregou para o ANDES-SN uma minuta de projeto de lei sobre
estruturação da carreira dos docentes federais do magistério. Foi a
primeira vez, desde a década de 80, que o governo materializava uma
posição sobre o tema.
Desde o começo
foi possível reconhecer as divergências entre o entendimento do
Sindicato Nacional e o do governo, que foram expressas nas cartas
385/10 (leia
aqui) e 400/10 (leia
aqui), que criticavam, ponto a potno, mas principalmente o
conceito sobre o qual se assentava a proposta do governo.
A partir de
discussões na base, a categoria aprovou, em janeiro de 2011, no 30º
Congresso do ANDES-SN, em forma de projeto de lei, uma proposta do
movimento docente para a reestruturação da carreira. Essa proposta foi
protocolada nos ministérios da Educação e do Planejamento.
Em 2011, o
governo, como de costume, negou-se a negociar com o conjunto dos
servidores e tratou de pontos pontuais com algumas carreiras. No final
de agosto, o ANDES-SN assinou um acordo com o governo, que recuperava
direitos relativos a princípios ordenadores da proposta de carreira do
Sindicato Nacional e fazia algumas inflexões rumo à proposta de
carreira do ANDS-SN. Também foi possível negociar a incorporação de
gratificações de cunho produtivista ao vencimento básico e uma pequena
correção geral da tabela. Também foi acordada a criação do Grupo de
Trabalho que iria tratar sobre uma proposta de reestruturação da
carreira.
Discussões
Depois de várias
protelações, foi realizada uma oficina, no dia 8 de dezembro do ano
passado, em que ficaram claras as divergências entre as propostas do
ANDES-SN, Proifes e governo. Alegando que o falecimento do secretário
Duvanier Paiva atrapalhou o andamento dos trabalhos, o governo marcou
nova reunião do GT Carreira para o finalzinho de março, véspera final
do prazo previsto no acordo para que o GT se extinguisse. Com muito
custo, o governo se comprometeu a realizar nova reunião do GT nos dias
13, 19 e 25 de abril.
Nesse meio tempo,
a Direção Nacional buscava negociar, junto com o Fórum dos Servidores
Públicos Federais, o atendimento de uma pauta unificada. Como nos anos
anteriores, o governo disse que não negociaria a reposição de perdas e
que só tinha margem para corrigir algumas distorções em determinadas
carreiras.
A diretoria do
ANDES-SN, paralelamente às discussões do GT e do Fórum dos SPF, passou
a percorrer o país para enraizar a pauta de reivindicações e mobilizar
a categoria em torno da ação do Sindicato no GT Carreira. Na avaliação
do Sindicato, era possível afirmar que o inimigo era forte e a disputa
se daria entre projetos estratégicos para a educação pública no país.
A partir dessa análise, a Diretoria Nacional passou a trabalhar
politicamente para a construção da greve nacional.
Estava posta a
necessidade de começar uma greve forte e coesa em todas as IFE para
mostrar ao governo o tamanho da indignação da categoria. “Já não basta
denunciar o descaso do governo com os professores das universidades
públicas federais e o descumprimento dos compromissos firmados. Para
garantir seus direitos, os docentes de todo o país deverão voltar às
ruas”, incitava o Informandes Especial de março.
Em abril, a
Direção Nacional defendeu a paralisação. “A categoria não agüenta mais
esperar pelos bons tempos, que nunca chegam. É hora de se preparar
para a luta. Cabe, agora, o debate nas assembleias gerais, a
mobilização e a construção da greve pelos professores”.
Greve
A categoria
respondeu ao chamado e no dia 17 de maio a greve começava com a adesão
de 33 IFE. Como rastilho de pólvora, a paralisação cresceu em número
de adesões, em pouco tempo já eram 47 das 49 IFE em greve, inclusive
naquelas que eram base do Proifes. Com ações na rua e devido à justeza
da causa docente, a mobilização dos professores consegue pautar o tema
para além dos muros das instituições, aglutina outros setores,
desmascara a entidade oficial e influencia outros setores dos SPF.
O governo se viu
obrigado a reconhecer a greve e a estabelecer uma mesa de negociações,
contrariando, inclusive, uma postura que tinha tomado ano passado de
não negociar com categorias em greve. Após 57 dias do início da greve,
o Ministério do Planejamento apresenta a primeira proposta, montada
sob as mesmas premissas daquela apresentada pelo governo em agosto de
2010, e que foi amplamente rejeitada pela categoria. O Comando
Nacional de Greve (CNG/ANDES-SN) entrega ao governo, a partir das
deliberações da base, um documento com uma análise detalhada dos
elementos que levaram os docentes a rejeitar a proposta, indicando
qual seria o caminho para as negociações avançarem.
O governo, no
entanto, numa atitude antissindical, resolve encerrar as negociações
de forma unilaterial, assinando um simulacro de acordo com o Proifes,
mesmo sabendo que esse ente não representava a categoria a greve. A
greve continuou.
Nesse segundo
momento, a paralisação é marcada por ações como audiências públicas
com parlamentares sobre a pauta de reivindicações, o que leva
deputados e senadores a cobrarem do governo a reabertura de
negociações.
O CNG/ANDES,
também a partir de uma deliberação da base, apresenta a sua
contraproposta, atendendo aos limites de piso e teto constantes na
proposta do governo, mas de acordo com os princípios do plano de
carreira aprovado pela categoria no 30º Congresso do ANDES-SN. Esse
novo texto foi protocolado nos ministério da Educação e do
Planejamento, e na Presidência da República. “Em nenhum desses espaços
governamentais o movimento docente obteve resposta, mostrando a
intransigência e a indisposição em negociar por parte dos
representantes do governo federal”, pontua a análise política do
ANDES-SN.
Durante o mês de
agosto, o governo tentou isolar e enfraquecer o ANDES-SN, fechando
acordos com as outras entidades representativas dos trabalhadores da
educação federal: Fasubra e Sinasefe. Outras entidades representativas
de servidores também assinaram acordos com o governo, já que estava
imposto o prazo de 31 de agosto para que as previsões orçamentárias
fossem incluídas no orçamento. Diante dessa realidade, a categoria
deliberou encerrar a greve de forma unificada no período entre 17 a 24
de setembro.
Para o ANDES-SN,
embora as reivindicações dos docentes não tenham sido atendidas em seu
núcleo central, o governo não foi feliz em seu intento, pois a greve
demonstrou a capacidade de reação da categoria.
“Elementos
importantíssimos ficam de saldo”, avalia a Direção Nacional. Entre
eles, a qualidade e a amplitude da greve, com a paralisação do
conjunto das atividades docentes de ensino, pesquisa e extensão,
inclusive em programas que raramente se envolvem em movimentos
grevistas. “O envolvimento amplo de docentes recém-contratados e o
retorno daqueles que outrora atuaram mais intimamente no âmbito
sindical, incluindo muitos aposentados. Ampliação das filiações em
várias instituições com conseqüente enraizamento do sindicato na
categoria. Consideráveis avanços na inserção do ANDES-SN na base, em
contrapartida ao processo de fragilização do Proifes”, pontua a
avaliação política.
Desafios
Além de fazer um
retrospecto do processo de construção da greve, o texto também lista
os desafios impostos pela nova realidade, como táticas para enfrentar
o projeto de lei 4368/12 e os Grupos de Trabalho criados no simulacro
de acordo; o enfrentamento às condições de trabalho e o processo
organizativo do Sindicato Nacional.
O texto diz ainda
que o Sindicato Nacional está vivendo um processo rico de
enfrentamento com as políticas governamentais federal e estaduais e
que em todos esses embates fica explicitada a disputa de projetos
educacionais em curso, ou seja, “o projeto privatista do governo
contra o nosso projeto de educação pública”.
Ao final do
texto, a direção do ANDES-SN conclama a categoria a continuar a luta,
pois se as várias incidências para destruir a carreira não foram
vitoriosas, também não foram vencidas. “Os desafios continuam, mas a
disposição de luta dos docentes, estudantes e técnico-administrativos
têm sido permanente e alimentada pela indignação de vivenciar tão
perto o descaso dos governantes com a promoção de uma verdadeira
política educacional, que possa responder ao clamor do povo
brasileiro. A luta continua, é justa, boa e necessária”, defende o
ANDES-SN.
Fonte: ANDES-SN,
28/9/12.