Faltam docentes para as federais
A prolongada
greve dos docentes das universidades federais está trazendo à tona os
principais problemas das 59 instituições mantidas pela União. Esse foi
um dos setores privilegiados pelo governo do presidente Lula, que
deixou o cargo se gabando de ter criado mais universidades que
Juscelino Kubitschek. Nos oito anos em que comandou o País, Lula criou
14 instituições. Em cinco anos de governo, JK criou 10.
A diferença é
que, enquanto as universidades de JK foram criadas para atender as
capitais dos Estados menos desenvolvidos, as de Lula foram, em sua
maioria, abertas onde não havia demanda. Em vez de fazer um cuidadoso
estudo sobre as reais necessidades da rede pública de ensino superior,
o governo Lula gastou R$ 4 bilhões inaugurando universidades sem
instalações adequadas e matriculando alunos antes de serem construídas
bibliotecas e laboratórios.
No entanto,
problema mais grave, que está sendo revelado pela greve que paralisa
os cursos de graduação de 56 das 59 universidades federais, é a falta
de professores preparados e com doutorado para compor o corpo docente.
As áreas mais afetadas são as de economia, engenharia, psicologia,
saúde e pedagogia. O caso da Universidade Federal do ABC, criada em
2004 no principal reduto eleitoral do PT, é exemplar. Dos últimos 90
concursos realizados pela instituição, 32 não tiveram candidatos
aprovados - um índice de 35%. Na Unicamp, uma universidade estadual
que está entre as melhores do País, só 1% dos últimos concursos
terminou sem candidatos aprovados.
Segundo
levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo, de todos os processos
seletivos realizados pelas universidades federais entre 2011 e 2012,
59 terminaram sem nenhum aprovado. Em alguns desses concursos, não
houve sequer candidatos inscritos. Nos demais, os candidatos não
atingiram a nota mínima em quesitos básicos, como prova didática,
prova escrita, análise de currículo e apresentação de um plano de
trabalho. Em média, 1 em cada 4 processos seletivos realizados entre
2011 e 2012 terminou sem aprovados.
Na Universidade
Federal de São Paulo, foram realizados 116 processos seletivos, dos
quais 24 não tiveram um único professor aprovado. Na Universidade
Federal de São Carlos, foram realizados 26 concursos, dos quais 3
terminaram sem aprovados. Para os reitores, apesar de as universidades
federais mais antigas e tradicionais oferecerem boas condições para
atividades de pesquisa e extensão, os baixos salários pagos pelo
Ministério da Educação (MEC) não atraem candidatos qualificados. O
salário inicial de um professor de uma universidade federal em regime
de tempo integral e dedicação exclusiva é de R$ 7.627. No final de
carreira, o salário é de R$ 12.225. "Com esse salário e carreira, quem
quer ser professor em federal?", indaga a presidente do Sindicato dos
Professores da Unifesp, Virgínia Junqueira. Nas universidades federais
recém-criadas, o problema não é só salarial. Além dos baixos
vencimentos, elas não oferecem condições de trabalho e estão situadas
em locais distantes.
Falando com a
condição de anonimato, alguns dirigentes do MEC alegam que a criação
desenfreada de novas universidades, pelo governo Lula, não foi
precedida de um projeto de expansão da capacidade da rede pública de
ensino superior para formar doutores. Quando não são contratados pela
iniciativa privada, os doutores formados pelas federais preferem
trabalhar nos órgãos de ponta do governo federal - um analista
financeiro iniciante na Controladoria-Geral da União, por exemplo,
recebe R$ 13.000. E quem quer seguir a carreira acadêmica tende a
prestar concurso nas universidades estaduais mais conceituadas, como a
UERJ (Rio de Janeiro), a UEL (Londrina) e a USP, Unicamp e Unesp.
Para o secretário
de Ensino Superior do MEC, Amaro Lins, a escassez de professores
qualificados tende a diminuir à medida que as novas federais
instalarem programas de pós-graduação. Mas, além de levar tempo, isso
esbarra em outro problema. Se não há docentes nem para a graduação,
haverá professores em número suficiente para os novos cursos de
doutorado?
Fonte: O Estado
de S. Paulo, 10/7/12.