Educação que o país precisa
TEMA EM DISCUSSÃO: Greve dos professores das universidades federais
OUTRA OPINIÃO – Por MARINALVA OLIVEIRA*
Os professores
federais estão em greve porque o governo insiste em não discutir os
elementos centrais de reestruturação da carreira e as condições de
trabalho nas instituições federais de ensino. Os representantes do
Executivo encerraram unilateralmente a mesa de negociação, assinando
um simulacro de acordo com uma entidade que não representa a
categoria.
O governo trata
de forma desigual professores que desempenham as mesmas funções,
propondo percentuais diferenciados e parcelados até 2015, sem
critérios objetivos, que resultarão em perdas salariais. Esta proposta
aprofunda as distorções que resultam na desestruturação da carreira,
tornando-a ainda menos atraente. Uma carreira docente estruturada e
boas condições de trabalho fazem parte da defesa das instituições
públicas e gratuitas.
Outro item da
proposta apresentada é modificar a avaliação de desempenho docente,
focalizando-a no caráter individual da produção e ampliando, assim, os
mecanismos de controle que resultam na intensificação do trabalho.
Avaliar é muito importante, porém a avaliação deve ser articulada com
os objetivos esperados das instituições e comprometida com a qualidade
e a relevância social de suas atividades. Metas meramente
quantitativas não expressam a qualidade do trabalho realizado. Os
professores federais já passam por diversos processos avaliativos ao
longo de sua vida profissional, sendo a categoria mais avaliada do
serviço público federal. A situação das instituições não será
resolvida com a criação de novo sistema de avaliação, alheio ao
caráter do trabalho docente.
Realizar ensino,
pesquisa e extensão de qualidade é meta dos docentes, que se defrontam
cotidianamente com a precarização e ausência de laboratórios,
oficinas, hospitais, escolas, creches, bibliotecas, os quais são
espaços privilegiados de formação dos futuros profissionais dos mais
variados campos de atuação. Os dados da infraestrutura das
instituições demonstram a precariedade das condições atuais. Este é o
item da pauta da greve que chamamos “condições de trabalho”, sequer
analisado pelo governo. Um projeto político comprometido com a
qualidade da educação exige uma carreira docente estruturada, melhores
salários, e condições de trabalho. Estes são os elementos fundamentais
para garantir a qualidade das atividades acadêmicas.
Os professores
federais sempre lutaram por uma educação pública, de qualidade e
gratuita para todos os brasileiros. Hoje lutam para que a expansão da
educação federal aconteça sem precarização e perda de qualidade. A
proposta de carreira e de salários apresentada pelo governo, combinada
com o atual orçamento destinado às instituições, indica que a educação
federal tende a ser destruída, como já acontece com a escola pública.
* MARINALVA OLIVEIRA é presidente do Sindicato Nacional dos Docentes
das Instituições de Ensino Superior (Andes).
Fonte: O GLOBO, 20/8/12