Diretor da Ebserh diz que hospitais federais não contratarão mais pelo
RJU
Para os que
assistiram a exposição da equipe da Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares (Ebserh), na tarde desta terça (2), na sala dos conselhos
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ficou a impressão que a
adesão dos hospitais universitários à empresa não representa uma
opção, mas uma espécie de “faca no pescoço”, conforme o termo
utilizado pelo presidente da Sedufsm, professor Rondon de Castro. A
conclusão se dá a partir das próprias palavras do diretor geral de
Assistência da empresa, professor Celso Ribeiro de Araújo, que fez uma
explanação sobre os objetivos da Ebserh no final da tarde desta terça,
a integrantes do Conselho Administrativo (Conad) do Hospital
Universitário e convidados.
Quando
questionado pelo diretor do Centro de Ciências da Saúde (CCS), Paulo
Burmann, sobre o que aconteceria no caso de a universidade não aderir
à Ebserh, Araújo esclareceu que os recursos existentes hoje para
reestruturação dos hospitais, através do programa Rehuf, continuarão
existindo. Entretanto, disse ele, existe uma decisão do governo
federal de não contratar mais servidores da saúde para os hospitais
federais através do Regime Jurídico Único (RJU), o que inviabilizaria
novas contratações por essa modalidade. Para alguns hospitais, isso
pode significar até mesmo fechar as portas, apontou o dirigente.
Perguntado, após
a sua palestra, sobre as justificativas para haver essa postura de
exclusão do modo RJU para os servidores públicos da área da saúde,
Celso Araújo debitou as dificuldades na rigidez da legislação para o
servidor concursado. Segundo ele, toda a vez que se tenta alguma
flexibilidade quanto à jornada de trabalho de um médico ou de outros
profissionais da área de saúde, se incorre em ilegalidade, por isso a
seleção via CLT, que permite jornadas flexíveis. Um outro ponto
alegado pelo diretor é o fato de haver uma demanda muito grande para a
contratação de funcionários para os hospitais, mas que não poderia ser
atendida através do concurso público convencional, tendo em vista os
limites previstos pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Responsabilidade
sanitária
O argumento do
diretor é questionado pelo servidor técnico-administrativo do HUSM e
membro do Conselho Municipal de Saúde, Salvador Penteado. Segundo ele,
existe um projeto de lei tramitando pelo Congresso Nacional que
instituiria a Lei de Responsabilidade Sanitária. A partir dessa
legislação, se permitiria que a contratação de servidores para a saúde
pública, em todos os níveis, fosse excluída dos limites da chamada
responsabilidade fiscal. “Mas eu não vejo esse projeto ser tratado
como prioridade pelos governos”, enfatizou Penteado.
Um outro tema que
teve pedido de esclarecimento ao diretor se refere à cedência de
servidores da universidade à Ebserh, no caso dela vir a ser a gestora
do HUSM. Conforme Celso Araújo, assim como a universidade tem a
liberdade de escolher se adere ou não à empresa, o servidor também
pode fazer essa opção. Entretanto, no caso de ele não concordar com
essa cedência, pode vir a ser colocado à disposição para trabalhar em
outros órgãos públicos, ressaltou ele.
Em vários
momentos de sua fala, o professor Celso Araújo buscou destacar os
investimentos que o governo federal tem feito nas universidades e nos
hospitais universitários. Procurou neutralizar as críticas quanto a
uma possível privatização. Segundo ele, a lei que criou a Ebserh vedou
a possibilidade de estabelecer convênios com planos de saúde. Contudo,
deixou claro que as instituições que aderirem à Ebserh serão avaliadas
a partir de planos de metas estabelecidas de comum acordo entre as
partes. Para ele, instituir um programa de “qualidade” no setor
público não significa privatizar.
Autonomia
Questionado pelo
presidente da Sedufsm sobre a quebra da autonomia a partir do processo
de gestão de uma empresa dentro da universidade, o diretor da Ebserh
alegou que já houve interferência nessa autonomia a partir da nova
Constituição, promulgada em 1988, que enquadrou os hospitais
universitários, antigamente cumpridores apenas da função de
hospitais-escola, tendo sido destinados também ao papel de hospitais
assistenciais através do Sistema Único de Saúde (SUS).
Para alguns dos
participantes da reunião ouvidos pela Sedufsm, o que se viu foi a
exposição de uma proposta que tem um verniz opcional, mas que na
essência, coloca para a universidade e para os HUF uma obrigatoriedade
como espécie de tábua da salvação diante das dificuldades enfrentadas.
Não apenas porque paira no ar uma ameaça de estrangulamento das
condições de trabalho em caso de não adesão, como também pelos
atrativos financeiros, tendo em vista que os salários para os
profissionais que atuarem na empresa são bastante convidativos e
estabelecidos, conforme Araújo, a partir de uma pesquisa de mercado
efetuada pela consultoria da Price Waterhouse.
Em sua
intervenção, quase ao final do encontro, depois de quase três horas, o
reitor da UFSM, Felipe Müller, mais uma vez frisou que não haverá
assinatura de contrato antes que passe pelos conselhos superiores da
instituição. No entanto, fez questão de ressaltar que o que está
previsto hoje na lei que criou a Ebserh é bem melhor do que estava na
Medida Provisória (MP) 520. Mesmo refutando teses alarmistas sobre o
futuro do HUSM em caso de não adesão, Müller lembrou que não aderir
pode significar uma grande problema para o hospital, pois os
terceirizados teriam que ser demitidos e não haveria possibilidade de
novas contratações no curto prazo.
Driblando os
temas mais polêmicos, a diretora do HUSM, Elaine Resener, em sua
intervenção, preferiu saudar o diretor da Ebserh, Celso Araújo.
Segundo ela, há muito tempo era esperada a visita dele, que fica na
UFSM até quinta (4), realizando a vistoria no hospital. O diretor está
acompanhado por mais dois assessores que trabalham na empresa, em
Brasília: Regildo Augusto Lima e Luiz Vicente Aquino.
Texto: Fritz R.
Nunes
Assessoria de Imprensa da SEDUFSM
Fonte: SEDUFSM,
3/10/12.