Depois de Belo Monte, operários de Fortaleza fazem greve para garantir direitos
 

Os operários da construção civil de Fortaleza estão em greve desde a última segunda-feira (7). A categoria reivindica 17% de reajuste salarial, aumento para cesta básica para R$ 80, plano de saúde e segurança nas obras, entre outras reivindicações. Os patrões oferecem um reajuste salarial de apenas 6,5% e R$ 49 para a cesta básica. A proposta patronal de reajuste salarial subiu para 7,47%, mas o valor da cesta básica continua o mesmo.

Como não um acordo em relação à proposta, o Tribunal Regional do Trabalho decidiu na noite dessa quinta-feira (10) instaurar o dissídio coletivo, o que significa que a justiça é quem vai decidir sobre o acordo. Diante dessa nova realidade, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria na Construção Civil da Região Metropolitana de Fortaleza (STICCRMF) convocou uma assembleia da categoria para a tarde desta sexta-feira (11) para deliberar sobre a continuidade da greve.

Durante essa semana, 80% da categoria aderiu à greve, paralisando todas as grandes obras em Fortaleza. Em uma das manifestações, realizadas na terça-feira (8), os operários carregavam sacos com um quilo de feijão para mostrar que o reajuste de R$ 5 proposto na cesta básica não dava para comprar nem um quilo do cereal.

“Estamos sofrendo muito. Enquanto trabalhamos quase como escravos nas obras, os donos das empreiteiras ficam cada dia mais ricos”, reclamou o operário Jozias Davi, em entrevista à TV Metrópole, que está disponível no site da CSP-Conluntas.

Belo Monte

Para Atnágoras Lopes, da Executiva Nacional da CSP-Conlutas, o desdém com que o Sindicato da Construção Civil de Fortaleza tem se comportado nas rodadas de negociação da campanha salarial dos trabalhadores da construção civil de Fortaleza demonstra o quanto esse setor patronal ignora suas responsabilidades diante da garantia dos mínimos direitos dos trabalhadores.

Para Lopes, o pior é que a postura dos empresários tem a conivência do governo federal na medida em que no “Termo Nacional Para o Aperfeiçoamento das Relações de Trabalho na Indústria da Construção”, lançado em 1º de março deste ano pela presidente da República Dilma Rousseff, foi fruto de um acordo entre o Palácio do Planalto e o setor empresarial.

Em nome da CSP-Conlutas, Atnágoras Lopes acompanhou a última greve realizada pelos trabalhadores da Usina Belo Monte, no Pará, que é uma das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A greve foi encerrada no começo de abril após a justiça do trabalho julgá-la ilegal.

“Após três ou quatro dias, intervindo em apoio ao movimento, chamou-me atenção a presença inerte de um representante da Secretaria Geral da Presidência da República, que vagava pelas áreas pertencentes ao Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) durante a greve”, criticou Lopes, em artigo publicado no site da CSP/Conlutas.

Ele lembrou que cabe ao governo federal garantir, em suas obras, ao menos as mínimas condições de trabalho. “Na obra de Belo Monte, as condições de trabalho são tão precárias que fogem da esfera trabalhista e passam à agressão dos direitos sociais e humanos. Lá, os operários não têm o direito de visitar suas famílias antes de 180 dias trabalhados e, pasmem, aos trabalhadores ajudantes, solteiros a maioria, nem este direito é concedido”, criticou.

Segundo Lopes, essa greve conviveu com forte aparato da repressão policial, federal e estadual, em todas as áreas controladas pelo CCBM. “Ou seja, o consórcio conta com o apoio efetivo dos governos e dos aparelhos de repressão. Chegou a instalar uma delegacia no canteiro de obras. Neste cenário, conviveu-se com um arsenal de perseguições, assédios, prisões e demissões de trabalhadores e lideranças dessas lutas”, denunciou.

“É preciso cobrar do Governo Dilma que intervenha pelo atendimento das reivindicações dessa categoria em todo o país, ou manterá esses trabalhadores subjugados aos mais baixos níveis de respeito aos direitos trabalhistas, sociais e humanos. Ao não tomar uma atitude, ou promover iniciativas ineficazes, como o “Termo Nacional de Compromisso”, o governo coloca-se ao lado das empreiteiras e de sua ganância”, criticou o líder da CSP-Conlutas.

 

 

Fonte: ANDES-SN, 11/5/12.

 


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