Assembleia Permanente da UFRRJ rejeita por unanimidade a proposta do governo e elabora contraproposta para discussão no CNG/ANDES-SN
 

No dia 19 de julho, os professores reunidos no Gustavão rejeitaram, por UNANIMIDADE, a proposta apresentada pelo governo na última sexta-feira (13). Abaixo, segue a versão na íntegra da contraproposta aprovada pela Assembleia Permanente da UFRRJ e encaminhada para discussão no CNG/ANDES-SN, em Brasília.

Esta é a versão correta da contraproposta.

 

PARA UMA CONTRAPROPOSTA AO GOVERNO

O Governo Dilma, pressionado pela mobilização e pelas denúncias feitas pelas entidades representativas dos professores, técnico-administrativos e estudantes da educação federal, apresentou uma proposta, no último dia 13 de julho, onde tenta convencer a sociedade e, é claro, a base de nosso movimento, de que, esta atenderia às nossas reivindicações. Decorridos dois meses do início do movimento paredista, depois de repetir que nossas ações não iriam mudar o cronograma já estabelecido pelo MPOG, e demonstrar descaso com os prejuízos advindos desta demora, tanto para as instituições quanto para os milhares de estudantes, Sergio Mendonça, interlocutor do Governo, agendou uma reunião com o ANDES e o SINASEFE para apresentar a sua proposta, na forma de recomposição escalonada para os anos de 2013, 2014 e 2015. Considerando o desrespeito por parte do Governo, em apresentar somente tabelas numéricas, as entidades pressionaram para que os princípios que balizaram a construção daqueles valores fossem explicitados. O governo pediu uma pausa e, após uma hora, a equipe governamental retornou com um texto denominado “Aspectos conceituais da proposta de reestruturação das carreiras dos docentes”. Terminada a reunião, o press release, divulgado pelo governo, e reproduzido de forma acrítica por toda a grande imprensa, fazia grande alarde, mas omitia o fato de que aquela proposta reproduzia a mesma que o MPOG já vinha apresentando nos últimos anos, piorada, e ainda mais distante das reivindicações que levaram à paralisação atual. Ao que tudo indica, o Governo ignorou a pauta construída nas nossas assembleias e trouxe uma proposta que tem a mesma lógica e conteúdo das que ele vem defendendo ao longo das “oficinas” e debates realizados na mesa de negociação que, por decisão do próprio Ministério, foi implodida.

Esta inflexibilidade não surpreende. O projeto deste governo para a educação e para as instituições federais de ensino faz parte da velha e conhecida política de reforma do Estado, que vai no sentido da mercantilização, da retirada de direitos sociais, do ataque aos servidores públicos e de precarização de suas carreiras. Não é diferente do projeto que hoje reduz salários e empregos no serviço público dos países que estão no centro da crise internacional. Este é o projeto que Sérgio Mendonça e Mercadante irão defender com unhas e dentes; para arrancar qualquer conquista no sentido contrário teremos que lutar de maneira unificada e firme. A nossa greve tem mostrado força para negociar a partir da nossa pauta e do projeto de carreira que construímos e se numa greve com quase 100% da categoria paralisada não apontarmos para construir a carreira que desejamos, em que outra situação esta construção se realizaria?

O MPOG mantém o seu projeto de carreira e tenta ludibriar a base docente. No momento atual, entretanto, não cabe ao movimento grevista construir a “solução” para o Governo, a partir do teto que ele demarca (3,9 bilhões por ano, ou 1,5 dias de dívida paga aos rentistas). Precisamos construir uma contraproposta, tomando como referencia a democrática construção do nosso projeto de carreira, que se consolidou no 30º Congresso, e que temos agora a possibilidade de lutar para que se concretize.

Que proposta nos trouxe o Governo 

As tabelas e o texto enviados como proposta apresentam uma lógica que pretende fragmentar ainda mais a categoria docente, aprofundar as políticas de separação entre as unidades acadêmicas voltadas apenas para ensino e as que desenvolverão também a pesquisa, bem como ampliar o uso de critérios de avaliação produtivista e centralizada, atacando ainda mais o que restou de autonomia nestas instituições. Coerente também com as políticas de Estado, se busca achatar ainda mais os salários de ativos e aposentados. 

Além de propor um reajuste, projetado até 2015, que não cobre nem a previsão inflacionária, a proposta apresentada em 13 de julho não resolve as distorções provenientes das mudanças impostas a partir de 2006 e mostra que toda a lógica se mantém fiel ao velho projeto governista. Olhando a amplitude, o interstício e a variação salarial apresentados nas tabelas do Governo, se vê que os degraus entre níveis são variáveis, com distorções significativas, como o abismo entre valores da classe de Adjunto, se comparados à de Associado. A remuneração por titulação proposta é fixa e representa um percentual alto nos vencimentos. O reenquadramento dos aposentados para atender à paridade não estão atendidos. A questão das perdas, devido ao represamento de um grande número de ativos e aposentados na classe de Adjunto IV também não é tratada. Os percentuais de dedicação exclusiva não são corrigidos. O projeto de carreira proposto pelo governo continua exatamente com a mesma lógica.  

A estrutura de carreira proposta pelo Governo mantém a de Magistério Superior (MS) separada da de Educação Básica, Técnica e Tecnológica (EBTT). Além disso, propõe a criação de um “Plano de Carreiras de Magistério do Ensino Básico Federal”, incluindo as instituições ligadas ao Ministério da Defesa e os professores de ex-territórios, o que, além de ampliar a fragmentação da carreira, deve ser olhado com cuidado, pois poderia ser usado para incluir, no futuro, os professores dos colégios de aplicação, retirando estes companheiros da base docente das IFES, conforme intenção já manifestada pelo governo. A proposta mantém também a diferenciação nominal de classes, como auxiliar, assistente, adjunto e associado e incorpora na mesma carreira o titular, exigindo um teto máximo de 20% do quadro docente da IFES. Em uma contraproposta não podemos abrir mão da carreira única, incluindo todos os docentes das IFES. Também não podemos aceitar a ingerência na autonomia das instituições e contrapor qualquer teto estabelecido pelo MEC para estas vagas. 

Com relação aos itens referentes do regime acadêmico, a proposta governamental, além de atacar o que resta de autonomia nas IFES, vem tornar ainda mais agudas as dificuldades que os professores têm encontrado no seu cotidiano. Propõe o aumento da carga mínima obrigatória de aula de 8 para 12 horas semanais, ferindo a LDB e avançando, por um lado, ainda mais no tempo e na exploração do trabalho dos que já realizam pesquisas e, ao mesmo tempo tornando ainda mais difícil, para os que ainda não contam com estruturas e recursos adequados, estabelecer as condições necessárias para avançar nas suas linhas de pesquisa.  Sabemos bem o que significa hoje manter, a contento, projetos e publicações científicas, com números de turmas cada vez maiores e salas de aula cada vez mais cheias, mantendo a qualidade acadêmica à custa de nosso tempo familiar e de descanso. 

Mostrando o quanto é importante manter o seu projeto, o governo tenta alterar a Dedicação Exclusiva (DE) admitindo a percepção de Retribuição por Projetos Institucionais de Pesquisa, Extensão, com recursos próprios (a ser disciplinado pelo MEC no prazo de 180 dias). Estas mudanças podem ter um efeito significativo no controle das linhas de pesquisa, abrindo a possibilidade de um grupo de docentes, remunerado de forma diferenciada por corporações e empresas, que têm no mercado o seu único referencial, passarem a dar a direção dos projetos e da produção intelectual, principalmente nas áreas de interesse do capital. Fica evidente o prejuízo para a autonomia acadêmica e para a condução de linhas de interesse para a toda a sociedade. 

Para garantir a sua lógica e controle, a proposta do governo prevê que o MEC (SIC) ficaria responsável em estabelecer os critérios de avaliação para desenvolvimento na carreira. 

O Governo ignora a questão das condições de trabalho 

Nas assembleias que discutiram nossa mobilização ao longo de 2011/2012, ficou clara a urgência de se enfrentar a crise gerada por uma expansão sem planejamento, onde o ingresso de milhares de novos alunos antecedeu a contratação de quadros docentes e técnico-administrativos, bem como a criação de estruturas condizentes com estas novas demandas. Uma expansão, onde o ingresso de novos professores antecedeu a criação de instalações, gabinetes, laboratórios e instrumental, que permitisse o trabalho docente adequado. Não é à toa que boa parte do debate naquelas assembleias se constituiu muito mais de denúncias, amplamente divulgadas e ainda não resolvidas, das péssimas condições de ensino, pesquisa e extensão. 

Sobre este ponto, o governo se cala. Não menciona a urgência em finalizar as obras já contratadas e em agilizar as novas demandas. Não se compromete com um calendário para os concursos de técnico-administrativos e docentes e sequer menciona a recuperação das instalações e o redimensionamento das verbas de custeio que garanta a manutenção dos campi e hospitais universitários.  

O governo finge que não vê a significativa mobilização do movimento estudantil, na luta por uma pauta comum às reivindicações de melhoria das condições de trabalho e ensino nas IFE, apoiando a greve dos docentes e técnicos administrativos. E assim, de forma midiática, aprontou uma exposição de sua sofrível proposta, com a única intenção de enganar a sociedade brasileira e jogar os cidadãos contra a comunidade acadêmica, que de forma legítima defende a qualidade na política para educação em nosso Brasil, como condição para a soberania da nação e emancipação de nosso povo.   

Construindo a nossa contraproposta 

A Assembleia Geral Permanente da ADUR-SSind, reunida em 19 de julho, decidiu rejeitar, por unanimidade, a proposta apresentada pelo Governo em 13 de julho e indica para o CNG os seguintes itens para a construção da nossa contraproposta: 

              1) Temos um projeto de carreira, construído pela base docente, aprovado no 30º Congresso do ANDES-SN e que incorpora fundamentos que não podemos abrir mão. Este projeto inclui uma tabela com a nossa proposta de malha salarial, que utiliza o piso do DIEESE, e que incorpora RT e VB numa só linha, mantém steps regulares de 5% e preserva os percentuais de Dedicação Exclusiva. A Assembleia da ADUR entende que os princípios e fundamentos da carreira aprovada no 30º Congresso são inegociáveis.  No entanto, o piso gerador poderá ser negociado, desde que mantida a malha e as diferenças entre níveis e percentuais que constam da tabela construída pelo ANDES-SN. Propomos que qualquer contraproposta parta desta tabela, construída pelo ANDES-SN e, se o Governo discorda dos valores que constam nela, que faça então uma nova proposta, com modificação do piso gerador, mas mantendo toda a estrutura e percentuais da nossa tabela. Significa que aceitamos que o valor que gera a tabela seja alterado, mas não o método de cálculo dos demais níveis, a partir deste valor inicial. Entendemos também que esta nova tabela deverá entrar em vigor integralmente, sem parcelamentos futuros e passar a valer para todos os professores das IFES.  

                  2) Os outros itens que consideramos inegociáveis são: 

       2.1. Todos os princípios e fundamentos que constroem a proposta de carreira do ANDES-SN, como: carreira única para todos os docentes das IFES, carreira com cargo único, paridade, reenquadramento sem perda de direitos, ingresso no início da carreira, mediante habilitação em concurso público de provas e títulos no primeiro nível, dedicação exclusiva, 13 steps com interstício de 24 meses e variação de 5% e  avaliação para desenvolvimento na carreira em cada IFE com base na autonomia universitária e no âmbito da avaliação institucional; 

       2.2. Respeito à Autonomia Universitária. Somos contrários à remuneração por projeto e ao aumento da carga mínima de 8 horas semanais de aula, definidas na LDB e que garantem a indissociabilidade entre Ensino/Pesquisa /Extensão; 

       2.3. Com relação às condições de trabalho, que o MEC estabeleça um calendário para os concursos de técnico-administrativos e docentes, que amplie o número de vagas para a contratação de docentes e técnico-administrativos, que garanta a ampliação de recursos de custeio para a expansão já realizada e prevista, que garanta os recursos para término das obras e manutenção dos campi e hospitais universitários, já existentes. O Governo deve garantir que novas expansões só ocorrerão com calendário que respeite os colegiados acadêmicos de cada instituição e que permita amplo debate por toda a comunidade universitária, onde toda a infraestrutura e a ampliação do quadro de funcionários anteceda estas novas ampliações e que sejam garantidas políticas de permanência estudantil, incluindo restaurantes universitários e alojamentos. 

 

Assembleia Geral Permanente da ADUR-RJ S.Sind. 
Seropédica, 19 de julho de 2012.

 

 


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