Câmara aprova 10% do PIB para a educação, mas com prazo até 2023
A destinação de
10% do Produto Interno Bruto (PIB) foi aprovada nesta terça-feira (26)
em reunião da comissão especial do Plano Nacional de Educação da
Câmara dos Deputados. O relator queria que fosse destinado apenas 8%
do PIB, mas devido à pressão dos movimentos sociais, a comissão elevou
para 10%, porém, com o condicionante de que o percentual máximo seja
atingido em 10 anos e não imediatamente, como defendia o ANDES-SN e
outras entidades do setor da educação. Durante a votação, integrantes
do Comando Nacional de Greve (CNG) acompanharam a sessão da comissão
especial.
A professora
Laura Fonseca, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e
integrante da Campanha pelos 10% do PIB para a educação pública, já!,
argumentou que a Câmara prorrogou o prazo para que o percentual seja
atingido. “Enquanto nós reivindicamos que seja aplicado imediatamente,
para que se comece a resgatar já a educação pública, o projeto
aprovado prevê que se chegue a 10% do PIB até 2023”, criticou.
Laura também
criticou o fato de que num momento em que o setor da educação federal
─ através do ANDES-SN, Fasubra e Sinasefe ─ realiza uma das maiores
greves da sua história e clama por maior destinação de recursos para
este setor, “nem assim a Câmara e muito menos o Executivo se mostram
sensibilizados em ampliar substancialmente e imediatamente os recursos
para a educação pública.”
Ela também
criticou a fala do ministro Aloizio Mercadante de que será difícil
viabilizar politicamente a destinação dos 10% para a educação. “Com
essa declaração ele demonstrou claramente a opção política do governo
em destinar o dinheiro público à banca, ou seja, ao sistema financeiro
em detrimento de maior aplicação de recursos nos serviços públicos
essenciais para melhorar a vida da população brasileira”, ponderou.
“Além disso,
Mercadante sinalizou uma intenção de se continuar seguindo os mesmos
passos que foram dados em relação ao PNE anterior, que previa a
aplicação de 7% até 2010, mas este percentual nunca passou dos 5%. O
governo federal, por sua vez, na previsão de orçamento para 2012,
destina apenas 3,18% do orçamento para a educação e 0,43% para ciência
e tecnologia”, no entanto, 47,19% vão para juros e amortização da
dívida, argumentou Laura.
Responsabilidade
educacional
Análise feita
pela Auditoria Cidadã da Dívida avalia que a luta pelos 10% precisa
continuar, pois o texto aprovado pelos deputados remete para futura
lei complementar a deliberação sobre a forma pela qual os estados e
municípios – que respondem pela maior parte dos recursos da educação –
disporão de recursos para atingir a meta.
Outro ponto
criticado pela Auditoria é que a sociedade civil defendia a aplicação
dos 10% em investimento público direto na educação. O texto aprovado
alterou para “investimento público em educação pública”, que abrange
outros gastos.
“Também não estão
especificadas na lei quais são exatamente as despesas que serão
contabilizadas para fins de atingimento dos 10% do PIB, razão pela
qual se pode repetir o ocorrido na área da saúde, onde os governos
costumavam incluir despesas não propriamente ligadas diretamente à
esta área social. Foram necessários 10 anos para que fosse aprovada,
no ano passado, legislação que regulamentou os gastos específicos da
saúde. E nem assim os governos estaduais têm cumprido a norma”,
critica o economista Rodrigo Ávila Auditoria Cidadã.
Há, portanto, o
risco de que boa parte dos 10% do PIB sejam cumpridos artificialmente,
por meio da contabilização de despesas com aposentadorias e pensões de
servidores da educação, bolsas de estudo, e até despesas com juros,
amortizações e encargos da dívida da área educacional.
Ávila lembra que
enquanto a Lei de Responsabilidade Fiscal criminaliza o administrador
público que não paga os juros e a amortização da dívida, o PNE não
prevê qualquer punição para os governantes que não cumprirem a meta
aprovada. Ele argumenta que no ano passado, o governo federal gastou
R$ 708 bilhões com juros e amortizações da dívida pública o que
representou 17% do PIB, ou seja, mais que o triplo dos recursos
necessários para se elevar imediatamente o gasto com educação de menos
de 5% para 10% do PIB.
Responsabilidades
A comissão
rejeitou uma emenda que estabelecia regras claras sobre as
responsabilidades de cada ente federado na aplicação de verbas em
educação. A autora de uma das propostas, deputada Professora Dorinha
Seabra Rezende (DEM-TO), argumentou que a União investe apenas 20% do
total que é aplicado em educação no País. O restante fica a cargo dos
estados e dos municípios. Para a deputada, a União deveria arcar com
pelo menos 30% do valor global.
A divisão prévia
de responsabilidades também foi defendida pelo deputado Ivan Valente
(Psol-SP), que criticou a rejeição dos destaques. “Para atingir os 10%
do PIB, a União tem de se comprometer mais, já que ela detém 70% da
arrecadação fiscal do País”, argumentou.
Salários
A comissão
aprovou um destaque que antecipou a meta de equiparação do salário dos
professores ao rendimento dos profissionais de escolaridade
equivalente. O relatório do deputado Ângelo Vanhoni (PT/PR) previa o
cumprimento dessa meta até o final da vigência do plano. O destaque,
por sua vez, estabelece a equiparação até o final do sexto ano do PNE.
Aprovado na
comissão especial da Câmara, o projeto do PNE seguirá para o Senado e
caso não sofra mudanças, nem apresentado requerimento para que seja
votado em plenário, irá à sanção presidencial.
A comissão de
integrantes do CNG que acompanhou a votação foi composta pelos
professores Marinalva (Adufcg), Aparecida (Adufu), Eder (Apur),
Adriana (Sesdufsm), Lênio Marques (Apubh), João Antônio (Adfunrei) e
Francisco (Aduferpe).
Com informações
da Agência Câmara
Fonte: ANDES-SN,
27/6/12.