Artistas criticam truculência do Estado em premiação e Alckmin passa
vexame
Vídeo mostra manifesto lido por pelos diretores do filme "Trabalhar
Cansa" durante premiação com presença do governador
A cerimônia de
entrega do Prêmio Governador do Estado para Cultura 2011, na
terça-feira (24), em São Paulo, foi local de mais um protesto contra a
truculência do Estado em operações policiais recentes.
Em seu discurso
de agradecimento, os diretores do filme "Trabalhar Cansa", Juliana
Rojas e Marco Dutra, que conquistou o prêmio, leram um manifesto de
cerca de três minutos. No texto, eles criticaram os episódios de
violência contra a população na Universidade de São Paulo (USP), na
chamada área da "Cracolândia" e na ocupação urbana Pinheirinho, em São
José dos Campos, interior paulista. Na plateia estava o governador do
estado e alvo das críticas, Geraldo Alckmin (PSDB).
Leia, a seguir, o
manifesto apresentado pelos diretores:
“Moção de
repúdio à política do coturno em Pinheirinho
De um lado,
pelo menos 1.600 famílias que lutam pelo direito de morar no
bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), ocupação que
tem oito anos de existência. Do outro, mais de 2.000 policiais
militares e civis cumprindo ordens da Justiça Estadual e da
Prefeitura de São José dos Campos, em favor da massa falida da
empresa Selecta, pertencente ao mega-especulador Naji Nahas.
Ainda que não houvesse outras circunstâncias agravantes no caso,
já seria possível constatar que as instâncias dos poderes
executivo e judiciário fizeram a opção, em Pinheirinho, pela lei
que protege a especulação imobiliária, em detrimento do direito
das pessoas à moradia. Vence mais uma vez a política do coturno
em prol do capital.
De um lado,
bombas, armas, gases, helicópteros, tropa de choque. Do outro,
dois revólveres apreendidos. Não há notícia de que tenham sido
usados. Uma praça de guerra é instalada – numa batalha em que um
exército ataca civis. Não há plano de realocação das famílias.
As que não conseguiram ou não quiseram fugir, ou receberam
dinheiro para passagens para outras cidades, ou estão sendo
mantidas cercadas, com comida racionada, como num campo de
concentração. A imprensa não pode entrar no local, não pode
fazer entrevistas, e os hospitais da região não podem informar
sobre mortos e feridos. O que se quer esconder? O Governo do
Estado lavou as mãos diante do caso, assim como o Superior
Tribunal de Justiça. O Governo Federal tardou em agir. A chamada
“função social da propriedade”, prevista na Constituição
Brasileira, revelou-se assim como peça de ficção, justamente
onde a ficção não deveria ser permitida.
Mais uma
vez, o Estado assume o papel de “testa de ferro” para as
estripulias financeiras da “selecta” casta de milionários e
bilionários. A política do coturno em prol do capital vem
ganhando espaço. Assim está acontecendo na higienização do
bairro da Luz, em São Paulo, preparando-o para a especulação
imobiliária; assim vem acontecendo na repressão ao movimento
estudantil na USP, minando a resistência à privatização do
ensino; assim acontece no campo brasileiro há tanto tempo, em
defesa do agronegócio. Os exemplos se multiplicam. E não nos
parece fato isolado que, hoje, a quase totalidade dos
subprefeitos da cidade de São Paulo sejam coronéis da reserva da
PM. Nós, trabalhadores artistas, expressamos nosso repúdio
veemente a esse tipo de política. Mais 1.600 famílias estão nas
ruas: a lei foi cumprida. Para quem?” |
Fonte: Brasil de
Fato, 26/1/12.
|
|