GREVE GERAL
DOS ACADÊMICOS DE MEDICINA DA UFRJ MACAÉ
Fazendo uso
de seus direitos, os alunos do curso de Medicina da Universidade
Federal do Rio de Janeiro - Campus Macaé (UFRJ-Macaé), torna
público através desta carta manifesto sua insatisfação pela
presente situação instalada no âmbito do ensino, a qual
compromete diretamente a sua formação acadêmico-profissional.
O Curso
teve início há três anos (2009), como parte do Programa de
Reestruturação e Expansão da UFRJ, sendo executado através de um
anteprojeto apresentado pela Faculdade de Medicina, onde foi
“discutida no âmbito dos Departamentos, no Conselho
Departamental e em seguida na Congregação da Faculdade de
Medicina no dia 27/08/2007”*, no qual foi “aprovada por
unanimidade na sua Congregação a criação de nova turma em Macaé
com características inovadoras no seu projeto pedagógico”*, de
acordo com as Novas Diretrizes Curriculares propostas pelo MEC e
“baseados na bem sucedida experiência de trabalho articulado com
as prefeituras locais e o governo estadual”*.
Contudo, o
que se observou em Macaé foi a não preocupação em se estabelecer
uma infraestrutura, física e humana, coerente com a magnitude do
projeto.
Tendo em
vista que o plano de implantação se deu com dois anos de
antecedência à realização do vestibular prestado pela primeira
turma, era de se esperar que o mínimo de articulação e
planejamento tivesse sido efetivado para a implantação do
campus, mas não foi o que ocorreu! O que os alunos encontraram
em seu primeiro contato com o campus foi: prédios inacabados,
ausência de laboratórios e um número escasso de professores,
além de uma rede de saúde sem condições apropriadas para receber
as práticas de ensino do curso. Atualmente a situação não se
inverteu, pelo contrário, agravou-se. Entre outras situações,
destacam-se:
Não há
hospital conveniado em Macaé que tenha médico diarista. Sem
médico diarista, NÃO há como montar um programa de Residência
Médica. Sem residência médica não há internato. Sem internato
não há curso de Medicina.
A falta do
programa de residência médica em Macaé fez com que recebêssemos
a menor nota pelo MEC no quesito de articulação com a rede de
saúde e infraestrutura. ESTE FATOR INVIABILIZA A POSSIBILIDADE
DE NOS FORMARMOS!!!
A
quantidade de professores é incompatível com o número de alunos.
Esta dificuldade é sentida no ambiente hospitalar, onde há
grupos de até 15 alunos por professor - três vezes mais do que o
proposto pelo curso.
Os alunos
estão sendo alocados em unidades que não atendem a mínima
demanda de pacientes nas diversas especialidades, comprometendo
o aprendizado.
A rede de
saúde de Macaé não comporta de forma estrutural e didática o
número de alunos, o qual aumenta a cada semestre. O número de
leitos é insuficiente de acordo com o MEC. Como alternativa
cogitou-se a utilização de Hospitais de outros municípios da
região (Carapebus, Quissamã, Barra de São João). Contudo, estes
também têm suas limitações em leitos e estruturas.
Não existe
um programa de anatomia adequado para um curso de Medicina.
Permanece a utilização de um laboratório provisório, sem
cadáveres formolizados e contando com poucas peças plastinadas.
O ciclo
básico carece de correlações clínicas e não prepara o aluno para
enfrentar o período profissionalizante do curso. As aulas
práticas são inexistentes ou insuficientes, apesar do grande
número de horas previsto no projeto pedagógico. Disciplinas
essenciais simplesmente NÃO FORAM LECIONADAS.
Não existe
um número de disciplinas eletivas suficiente para cumprirmos as
horas exigidas para a formação. Das três eletivas já oferecidas
(Imunizações, Sinais e Sintomas e Inglês Instrumental), duas já
não existem mais.
Compor o
corpo docente tem sido um grande problema. Concursos são
realizados com o objetivo de estabelecer o quadro completo de
professores para a realização do período. Ainda assim, há o
déficit de docentes, tanto por deficiência na contratação,
quanto por evasão, no decorrer do semestre. Os processos de
contratação têm demorado muito no campus de Macaé, sem nenhum
tipo de priorização de processo por parte da instituição, mesmo
cientes de nossa carência.
Em diversas
disciplinas a abertura de concursos não soluciona o problema da
falta de professores. Citamos como exemplo a disciplina de
Radiologia, em que o concurso ficou aberto por 6 meses e não
houve inscritos.
No ano de
2011 um grupo de alunos procurou o Ministério Público com a
intenção de sanar os problemas que já vinham ocorrendo. Foi
proposto pelo ministério um Termo de Ajuste de Conduta (TAC),
concordado pela Universidade, no qual os itens supracitados
foram expostos. Prazos para solução foram estabelecidos. O TAC
foi assinado, os prazos já expiraram mais de uma vez e nada
aconteceu.
Não temos
um campo de prática estruturado, nem docentes suficientes, muito
menos uma cultura médica local que nos auxilie. Foi observado
que, na cidade de Macaé, os profissionais não querem abrir mão
de seus salários e rotinas pra se "sacrificarem" ou se
comprometerem com a nossa formação.
Ao final
disso tudo, para piorar, recebemos o comunicado de que o
coordenador e a vice-coordenadora do curso de Medicina pediram a
exoneração do cargo por não acreditarem mais na viabilidade e no
sucesso do curso. Diante de todos esses acontecimentos e da
possibilidade de se formarem médicos com déficits gravíssimos,
os acadêmicos não tiveram outra opção, senão a declaração de
greve geral por tempo indeterminado, uma vez que não é mais
possível sustentar a situação do jeito que ela está.
Pedimos o
apoio de todos para reverter o quadro caótico em que nos
encontramos e assim, manter a tradição de excelência sustentada
pelos 200 anos da Faculdade de Medicina e 90 anos de UFRJ.
Discentes
do Curso de Medicina da UFRJ-Macaé.