Seminário Internacional discute auditoria da dívida e crise financeira
mundial
Para discutir as verdadeiras causas da crise financeira, ambiental,
alimentar e social que aflige todos os continentes e que têm como pano
de fundo a especulação financeira e o modelo de acumulação
capitalista, a Auditoria Cidadã da Dívida realiza o III Seminário
Internacional Latino-Americano “Alternativas de Enfrentamento à
Crise”, de 4 a 7 de outubro, em Brasília (confira
aqui a programação), com apoio e participação do ANDES-SN.
O evento contará com a participação de representantes de diversas
nacionalidades, o que permitirá conhecer experiências de outros países
na luta pela transparência e acesso a informações acerca do
endividamento público e pela auditoria da dívida, e também traçar
medidas para a articulação de ações concretas, na vanguarda de uma
nova arquitetura financeira mundial.
O primeiro dia do encontro será destinado a uma reunião fechada entre
as entidades envolvidas no movimento pela Auditoria Cidadã da Dívida
Pública, onde os participantes terão a oportunidade de trocar
experiência e traçar planos comuns de ação nos diversos países. Como
resultado das discussões, os presentes irão formular a Carta de
Brasília, documento que será apresentado ao final do evento.
Segundo Helvio Mariano, 1º tesoureiro do ANDES-SN, existe relação
direta entre a alegada falta de recursos para investimentos sociais e
a política econômica do atual governo. “Em 2010, cerca de 45% dos
recursos da União foram destinados para pagamento dos juros e
amortização da dívida pública, comprometendo investimentos em áreas
como Saúde e Educação”, conta o diretor do Sindicato Nacional,
explicando por que o ANDES-SN e outras entidades participam deste
movimento.
Para o dirigente, o impacto da crise financeira internacional e o
pagamento da dívida estão também relacionados à aplicação de parte do
Produto Interno Bruto (PIB) na educação. “O que acontece no mundo tem
influência também nas políticas internas do país. Enquanto nós
pleiteamos a aplicação imediata de 10% do PIB na Educação pública, o
governo alega não haver recursos. As verbas, tanto federais quanto
estaduais, existem, mas são utilizadas para pagar a dívida”, observa
Mariano.
O diretor do ANDES-SN aponta ainda a importância da discussão
conjunta, proposta pelo seminário, de cobrar das grandes potências
econômicas mundiais a anistia da dívida dos países do terceiro mundo.
“Recursos que poderiam ser usados para investimentos em melhorias
sociais são destinados a pagar dívidas públicas, muitas delas
ilegais”, comenta.
Objetivos
Segundo Maria Lucia Fattorelli, auditora fiscal da Receita Federal e
coordenadora do evento, apesar do tema único, o seminário tem vários
focos, objetivando atingir representantes das diferentes esferas
sociais. “Para as entidades da sociedade civil, sindicatos e
movimentos sociais, queremos mostrar como o endividamento público,
exclusivamente financeiro, está por trás do massacre às políticas
sociais no Brasil, assim como em outros países”.
De acordo com a auditora fiscal, é importante que as entidades
conectem nas suas lutas específicas, o enfrentamento ao problema
histórico e crescente da dívida pública. Além disso, percebam a
importância da articulação latina americana. “É difícil um país
sozinho enfrente a situação. Precisamos no articular regionalmente. Já
identificamos mecanismos para a transferência da crise para o Brasil e
outros países da América Latina. Precisamos nos prevenir”, alerta.
Representantes do Executivo, Legislativo e Judiciário também foram
convidados a participar do seminário. A expectativa é exigir dos três
poderes medidas no sentido de dar mais transparência e buscar soluções
para o problema.
“Queremos que o Executivo reveja sua política priorização de pagamento
de uma dívida que nunca foi auditada. Outra providência que será
cobrada é enviar para o Congresso o projeto que cria o Banco do Sul,
medida já em andamento em outros países, como a Argentina”, conta
Fattorelli.
Maria Lucia ressalta que uma das prioridades do evento é mostrar para
o governo brasileiro a necessidade do país em encaminhar logo o
projeto. Segundo ela, o Brasil está muito atrasado em relação ao
encaminhamento da criação do Banco der Sul. Para a auditora, isso tem
reflexos sérios na economia do país.
“Há pouco tempo o Estados Unidos anunciava um possível calote. Nossas
reservas estão aplicadas em bancos naquele país. Se estivessem aqui
não estariam dando prejuízo e ainda serviriam para sustentar políticas
de investimento na nossa região e ao invés de contribuírem para
financiar guerras norte americanas”, esclarece.
O movimento da Auditoria Cidadã da Dívida quer também que o
Legislativo e o Ministério Público (MP) retomem e aprofundem as
investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da dívida.
Maria Lucia conta que vários indícios de ilegalidade e ilegitimidade
foram levantados durante as investigações. “Esse trabalho tem que ter
continuidade, pois estamos pagando uma dívida ilegal”.
Neste mesmo sentido, a auditora fiscal afirma que o movimento pretende
pressionar o Supremo Tribunal Federal para que a Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (Adpf) nº 59/2004, impetrada
pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seja julgada. A Adpf
pleiteia que o STF obrigue o Congresso Nacional a realizar a auditoria
da dívida, prevista no Artigo 26 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (Adct).
Participação
internacional
Entre os participantes internacionais convidados para o III Seminário
Internacional Latino Americano “Alternativas de Enfrentamento da
Crise” está a deputada grega Sofia Sakorafa, a única parlamentar que
votou contra o acordo da Grécia com o Fundo Monetário Internacional
(FMI), no início do agravamento da crise financeira de seu país.
Ela traz ao encontro a sua experiência no enfrentamento do problema na
Europa, assim como o belga Eric Toussait, cientista político e
presidente do Comitê pela Anulação da Dívida do Terceiro Mundo
(Cadtm), e o norueguês Kjetil Abildsnes, assessor econômico da Church
Aid e um dos principais assessores do governo, durante a iniciativa
do país em anular a dívida que cinco outras nações tinham com a
Noruega.
Para discutir a importância do Banco do Sul e também a bem sucedida
experiência da auditoria da dívida no Equador, o evento conta com
participação de Pedro Paez, presidente da Comissão Técnica
presidencial equatoriana para o desenho da nova arquitetura financeira
regional e Banco do Sul.
Em 2009, o presidente equatoriano, Rafael Corrêa, cancelou grande
parte da dívida do país, representada pelos bônus Global 2012 e 2030.
Os dois bônus juntos correspondiam a 85% da dívida externa comercial
do Equador. Um total de 91% dos detentores dos bônus aceitou a
proposta equatoriana de reconhecer apenas entre 30 e 35% do valor
total da dívida. Os mais de 65% reduzidos chegaram a cerca de US$ 2
bilhões. A economia total equivaleu a mais de US$ 7 bilhões até 2030.
Fonte: ANDES-SN
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