Cresce na Espanha a Revolução dos Indignados
O movimento que iniciou no dia 15 de maio, chamado 15-M ou a
“revolução espanhola”, cresceu quinta-feira com panelaços que reuniram
multidões em dezenas de cidades de todo o país para exigir a mudança
de um sistema que consideram injusto. A revolta cresce a cada hora.
Começou com uma convocatória nas redes sociais e internet para
repudiar a corrupção endêmica do sistema e a falta de oportunidades
para os mais jovens. A também chamada Revolução dos Indignados acusa,
pela situação atual, o FMI, a OTAN, a União Europeia, as agências de
classificação de risco, o Banco Mundial e, no caso da Espanha, os dois
grandes partidos: PP e PSOE. O artigo é de Armando G. Tejeda, do La
Jornada.
Acompanhe a Revolução dos Indignados, ao vivo, direto de Madri, pela
Soltv*
A Junta Eleitoral Central da Espanha proibiu em todo o país qualquer
manifestação desde a zero hora de sábado até às 24 horas de domingo,
dia das eleições municipais, em uma clara alusão às mobilizações do
movimento cidadão Democracia Real Já que, desde o último domingo,
ocorrem em repúdio ao modelo político e econômico vigente e que já se
espalharam em escala nacional.
Alfredo Peréz Rubalcaba, ministro do Interior, declarou que o governo
só esperava o pronunciamento da junta eleitoral para decidir se ordena
à polícia dispersar os manifestantes. Enquanto isso, milhares de
cidadãos indignados na Porta do Sol, em Madri, na Praça da Catalunha,
em Barcelona, na Praça do Pilar, em Zaragoza, e no Parasol da
Encarnação, em Sevilla, entre outras, voltaram a romper o cerco
policial e, uma vez mais, repudiaram a política, banqueiros e
empresários.
O movimento que iniciou no dia 15 de maio, chamado 15-M ou a
“revolução espanhola”, cresceu quinta-feira com panelaços que reuniram
multidões em dezenas de cidades de todo o país para exigir a mudança
de um sistema que consideram injusto. A revolta cresce a cada hora.
Começou com uma convocatória nas redes sociais e internet para
repudiar a corrupção endêmica do sistema e a falta de oportunidades
para os mais jovens e acabou se estendendo para a comunidade espanhola
na Itália, Inglaterra, Estados Unidos e México, entre outros países.
No quinto dia de mobilizações a afluência aumentou sensivelmente,
sobretudo em Madri e Barcelona, onde dezenas de milhares entoaram
palavras de ordem durante horas. Uma delas advertia: se vocês não nos
deixam sonhar, nós não os deixaremos dormir.
Os manifestantes desenvolveram métodos de organização através de
comissões por setores – saúde, alimentação, meios de comunicação, etc.
-, que decidem cada atividade. Nas assembleias gerais decide-se a
estratégia e busca-se uma mensagem política unificada que mostrem as
principais razões de descontentamento e protesto. Na quinta-feira, por
exemplo, decidiu-se manter a mobilização até o próximo domingo, quando
ocorrem as eleições locais, e, o mais importante, confirmar a
convocatória para a manifestação deste sábado.
Mais tarde, a Junta Eleitoral Central declarou ilegais as
concentrações, ao considerar que elas não se ajustam à lei eleitoral e
excedem o direito de manifestação garantido constitucionalmente. De
fato, desde o início da semana, todas as mobilizações, concentrações e
marchas da “revolução espanhola” foram declaradas ilegais pela Junta
Eleitoral de Madri. Em resposta, o número de indignados se
multiplicou.
Depois de conhecer a decisão da Junta Eleitoral Central, o movimento
cidadão decidiu simplesmente manter o acampamento, ao mesmo tempo em
que ecoou um grito unânime: não nos tirarão daqui, vamos ganhar esta
revolução. Em seguida, foi lido o manifesto original do movimento em
uma dezena de idiomas. O texto aponta a classe política e os meios de
comunicação eletrônicos como os grandes aliados dos agentes
financeiros, os causadores e grandes beneficiários da crise. Advertem
que é preciso um discurso político capaz de reconstruir o tecido
social, sistematicamente enfraquecido por anos de mentiras e
corrupção. “Nós, cidadãos, perdemos o respeito pelos partidos
políticos majoritários, mas isso não equivale a perder nosso sentido
crítico. Não tememos a política. Tomar a palavra é política. Buscar
alternativas de participação cidadã é política”.
A também chamada Revolução dos Indignados acusa, pela situação atual,
o Fundo Monetário Internacional, a Organização do Tratado do Atlântico
Norte, a União Europeia, as agências de classificação de risco, o
Banco Mundial e, no caso da Espanha, os dois grandes partidos: o
direitista Partido Popular (PP) e o Partido Socialista Operário
Espanhol (PSOE), de centro-esquerda.
A reação da direita
Desde a esquerda, há tentativas de aproximação aos indignados. O líder
do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, disse que é preciso escutar
e ter sensibilidade porque há razões para a expressão desse
descontentamento e dessa crítica. O líder da Esquerda Unida, Cayo
Lara, defendeu o fim da submissão e do bipartidarismo, propiciado pela
atual lei eleitoral.
Mas o setor duro da direita política e midiática reclamou com
insistência a atuação policial para acabar com todas as mobilizações,
sobretudo na Porta do Sul, e pediu inclusive ao Ministério do Interior
para que adotasse meios violentos para assegurar esse fim. Uma das
imagens do dia (quinta-feira) foi a do ex-ministro da Defesa durante o
governo de José María Aznar, Federico Trillo, insultando com o dedo um
grupo de cidadãos da revolução dos indignados.
As desqualificações mais fortes vieram, porém, dos meios de
comunicação conservadores e da televisão pública de Madri, que
acusaram o movimento de ser comunista, socialista, antissistema e de
ter relação com o ETA. Um dos ideólogos da direita, César Vidal, foi
mais além e depois de chamar, depreciativamente os manifestantes de
“perroflautas” (tribo urbana também conhecida como ‘pés pretos’,
formada por punks, anarquistas, hippies e ‘gente desocupada’),
assegurou que estes jovens mantém contato regular com o Batasuna-ETA e
que receberam cursos de guerrilha urbana, da Segi (organização de
juventude da esquerda basca).
* O movimento cidadão tem seu próprio canal de televisão, que
transmite sem cessar as imagens da Porta do Sul (www.solttv.tv).
Tradução: Katarina Peixoto.
FONTE: Carta Maior