Relatório destaca perfil de atores envolvidos no trabalho escravo no
Brasil
Perfil dos
Principais Atores Envolvidos no Trabalho Escravo Rural no Brasil é o
título do novo relatório apresentado pelo escritório da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil. A partir de entrevistas com
trabalhadores, aliciadores (também conhecidos como "gatos”) e
empregadores, a pesquisa busca traçar o perfil desses atores para
auxiliar na construção de políticas públicas de combate ao trabalho
análogo ao de escravo.
As entrevistas
com trabalhadores e gatos ocorreram entre outubro de 2006 e julho de
2007 nos estados do Pará, Mato Grosso, Bahia e Goiás. O estudo
ressalta que não trabalhou com amostra estatística representativa, e,
portanto, não pode fazer generalizações. Entretanto, lembra que os
resultados revelaram características importantes sobre os atores
envolvidos no trabalho escravo no Brasil.
Para a elaboração
do relatório, a OIT entrevistou 121 trabalhadores. Os dados apontam
que a maioria apresenta idade média de 31,4 anos e 81% dos
entrevistados são negros. A renda média deles é de 1,3 salários
mínimos e, em 40,2% dos casos, o trabalhador é o único responsável
pela renda da família.
Além disso, a
pesquisa constata que 18,3% dos entrevistados são analfabetos e 45%
são analfabetos funcionais. Do total, 85% nunca fizeram curso
profissional. "A escravidão contemporânea no país é precedida, em alta
proporção, pelo trabalho infantil: 92,6% dos trabalhadores
entrevistados iniciaram sua vida profissional antes dos 16 anos. A
idade média em que começaram a trabalhar é de 11,4 anos”, observa.
O perfil dos
aliciadores é parecido. Dos sete "gatos” entrevistados, a maioria é
não branca, do sexo masculino, com idade média de 45,8 anos. Assim
como os trabalhadores, a maior parte dos aliciadores possui baixa
escolaridade. Dos setes entrevistados, dois afirmaram ser analfabetos
e nenhum fez curso profissional. "A idade média com que começaram a
trabalhar é de 10,7 anos. Todos realizaram trabalho rural não
especializado. Trabalham para médios e grandes proprietários,
recrutando pequenos grupos de trabalhadores. O âmbito de sua atuação é
regional”, revela.
Por outro lado, o
perfil dos empregadores é diferente dos dois anteriores. A maioria é
homem, branco, com idade média de 47,1 anos e com curso superior
completo. Dos 12 entrevistados, dois têm pós-graduação e apenas três
não possuem nível superior. "Resumidamente, pode-se concluir que as
características dos empregadores entrevistados guardam uma estreita
relação com os traços gerais das elites e grupos dominantes no
Brasil”, afirma.
Além do perfil
dos envolvidos, o relatório ainda analisa as políticas de combate a
esse tipo de crime no país. De acordo com a pesquisa, apesar de alguns
avanços, o Brasil ainda precisa percorrer "um longo caminho” para a
erradicação do trabalho escravo.
O informe destaca
a importância de manter e ampliar a fiscalização dos Grupos Especiais
de Fiscalização Móveis (GEFM) e de punir os responsáveis pelo crime.
Da mesma forma, ressalta a necessidade de realização de campanhas
educativas contra o trabalho escravo e de incentivo à formalização das
relações de trabalho.
"É necessário
também ampliar as ações preventivas do trabalho escravo, tais como
programas de qualificação profissional e elevação da escolaridade nas
áreas de concentração de trabalhadores escravos; a geração de novos
postos de trabalho nos muCnicípios de origem e residência dos
trabalhadores; a realização de programas de reforma agrária com apoio
à agricultura familiar para que os trabalhadores se tornem menos
vulneráveis, criando efetivamente alternativas para seu sustento e de
sua família. Considera-se ainda importante manter registros e análises
sistemáticas sobre os principais atores envolvidos no problema de
forma a aprofundar o conhecimento da questão”, finaliza.
Fonte: Adital