Reitor é declarado "persona non grata" e amplia seu isolamento na USP
Para quem imaginava um segundo semestre letivo mais tranqüilo, os
protestos na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo indicam
que a insatisfação com o reitor escolhido ainda na gestão do
ex-governador José Serra não pára de aumentar. As negociações sobre
reajuste salarial de docentes e funcionários podem ser a nova fonte de
conflitos.
SÃO PAULO
– Para quem não imaginava que a relação do reitor da Universidade de
São Paulo (USP), João Grandino Rodas, com professores, estudantes e
funcionários da instituição pudesse tornar-se ainda pior levou um
susto na semana passada.
Uma série de acusações públicas entre o reitor e a direção da
Faculdade de Direito do Largo São Francisco, unidade de origem de
Rodas, onde ele também foi diretor (2006-2010), isolou-o ainda mais da
comunidade uspiana.
A Congregação da Faculdade decidiu declarar Rodas “persona non grata”
na casa, durante reunião realizada na última sexta-feira (30). A
medida foi anunciada na noite no mesmo dia, em ato de protesto
organizado por estudantes e professores.
“O reitor tem uma história ingrata na faculdade. Quando era diretor,
transferiu a biblioteca para um prédio sem condições de
infra-estrutura, tentou batizar ilegalmente salas de aula com nomes de
pessoas que doavam dinheiro para a universidade, e até colocou a tropa
de choque dentro da unidade para pôr fim a um protesto de movimentos
sociais”, disse à Carta Maior o estudante Pedro Gabriel Lopes,
diretor do Centro Acadêmico XI de Agosto.
Em artigo publicado em jornal no dia 30, o atual diretor da Faculdade
de Direito, Antonio Magalhães Gomes Filho, escreveu que “a atual
diretoria não tem como dar continuidade a projetos mirabolantes e
desastrados”. O texto, divulgado na Folha de S. Paulo, foi
assinado também pelos presidentes do centro acadêmico e da Associação
dos Antigos Alunos da São Francisco.
A gestão Rodas enfrenta uma crise de legitimidade desde seu início. Na
eleição que o levou ao cargo, em 2009, o professor e jurista ficara
apenas em segundo lugar. Apesar isso, foi escolhido pelo então
governador José Serra, uma inversão que não ocorria desde o governo
Paulo Maluf, ainda na Ditadura Militar.
O primeiro lugar no pleito indireto realizado pelo colégio eleitoral,
ocupado majoritariamente por professores titulares, havia sido ocupado
por Glaucius Oliva, professor do Instituto de Física do campus da USP
de São Carlos e, desde janeiro de 2011, presidente do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Não demorou para que ficasse claro a dificuldade de Rodas em criar
pontes de diálogo com a comunidade universitária. Em junho de 2010,
ele teve de administrar uma greve de 57 dias e a ocupação do prédio da
Reitoria por três semanas, em protesto dos funcionários contra o fim
da isonomia salarial entre eles e os docentes.
Em janeiro de 2011, a reitoria demitiu sumariamente 271 funcionários,
sob a justificativa de que já eram aposentados e não haviam prestado
concurso público. Vários já conseguiram reintegração por medida
judicial.
Por fim, em abril deste ano, a tensão voltou a subir quando
trabalhadores de uma empresa terceirizada que prestava serviços de
limpeza para a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
realizaram uma greve contra o atraso no pagamento dos salários.
Para quem imaginava um segundo semestre letivo mais tranqüilo, os
protestos na Faculdade de Direito indicam que a insatisfação com o
reitor não pára aumentar. Os novos debates sobre reajuste salarial de
docentes e funcionários pode ser a nova fonte de conflitos.
Fonte: Carta Maior