Querem impor a lógica do lucro na saúde pública
Por Maristela Farias
No primeiro dia do ano o povo brasileiro se despediu emocionado, mas
ainda iludido com o governo Lula, que deixava sobre a sua mesa umas
das mais amargas heranças de seu governo, que trará sérias
conseqüências na assistência à saúde do povo Brasileiro.
Duas Semanas após a Assembléia Legislativa de São Paulo aprovar a
comercialização direta de leitos públicos, o governo Lula no último
dia de sua existência burocrática, como último ato de seu
autoritarismo, edita uma medida provisória (MP 520) autorizando o
Poder Executivo a criar a denominada Empresa Brasileiro de Serviços
Hospitalares S.A.
A justificativa para criação desta empresa “pública” seria para
solucionar a crise nos Hospitais Universitários que possuem cerca de
26 mil trabalhadores terceirizados, alvo de notificação condenatória
em 2006 pelo TCU, que deu prazo até 2010, para que o governo federal
acabasse com a terceirização.
Porém o governo Lula, apesar de ter tido um prazo de quatro anos para
realizar concurso público e encerrar a terceirização, resolve através
de uma canetada regularizar a terceirização, instituindo uma empresa
pública com personalidade jurídica de direito privado para atuar em
atividade fim do Estado, regulamentando a contratação temporária da
empresa e o “processo seletivo simplificado”. Na prática, enterra o
concurso público, a única forma de ingresso em condições igualitárias
ao emprego nos serviços públicos.
Tal empresa, apesar de vinculada ao Ministério de Educação, poderá
administrar quaisquer unidades hospitalares de saúde, no âmbito do
SUS.
Os funcionários estatutários das instituições federais de ensino serão
cedidos à empresa, assim como bens móveis e imóveis públicos. Ou seja,
são os nossos recursos que construíram este patrimônio que será doado.
Apesar de inicialmente suas ações serem de propriedade integral da
União, nada impede que, a qualquer momento, seja aberto seu capital,
PODENDO RESULTAR EM UMA PARTICIPAÇÃO EXPRESSIVA DO CAPITAL PRIVADO NA
EMPRESA, visando o lucro em cima do sofrimento alheio. Isso ocorreu
com outras empresas públicas, como a Petrobras, a Vale do Rio Doce,
companhias de energia elétrica e água. Todos sabem as conseqüências
das privatizações nos serviços essenciais na vida da população pobre,
que paga caro por um serviço deficitário.
Um fato relevante previsto na MP: a autorização para a empresa
patrocinar entidade fechada de previdência privada, inclusive
entidades já existentes. Ou seja, as conseqüências que podem surgir
por atos legislativos e executivos a partir da tomada de decisão
governamental de criação desta empresa são diversas e podem resultar
em graves ataques à saúde pública e sérios problemas na manutenção da
prestação da assistência, na relação de trabalho e na autonomia das
reitorias em questão. Além disso, institui uma gestão baseada em metas
e produção. Mas saúde não se mede ou se produz, se previne, se cura e
se estimula.
É óbvio que quaisquer semelhanças não são mera coincidência. Após
grande resistência do movimento social e sindical dentro do Congresso
Nacional e em atividades expressivas nas ruas, e a histórica derrota
no Conselho Nacional de Saúde sobre a questão das Fundações Públicas
de Direito Privado colocada no PL-92, o governo Lula-Dilma apresenta
ao capital privado uma saída compatível com seus objetivos: o formato
de uma empresa que possibilitará ao governo não só a contratação de
efetivos e temporários via CLT, mas a tão sonhada autonomia financeira
e administrativa, inclusive para compras e contratações de seus
“PARCEIROS” sem a inconveniente interferência do Controle Social. É um
verdadeiro golpe não só nos movimentos sociais, mas contra o direito
da população à saúde pública e gratuita.
Fonte:
CSP – Conlutas.