Proposta do MEC fere autonomia universitária e compromete qualidade da
educação dos CAp
Najla Passos
ANDES-SN
A proposta
de regulamentação dos Colégios de Aplicação - CAp apresentada
recentemente pelo Ministério da Educação - MEC fere a autonomia
universitária e pode comprometer a qualidade da educação oferecida por
essas instituições. Esta é a síntese da avaliação preliminar realizada
pela comissão instituída pelo Setor das Federais do ANDES-SN para
debater o assunto no âmbito do movimento docente. Confira a entrevista
com a 1ª vice-presidente da Regional Norte II do ANDES-SN, Sandra
Moreira, uma das coordenadoras do Setor das Federais e membro da
comissão designada para discutir os CAp:
-
De que maneira a proposta de regulamentação dos Colégios de Aplicação
apresentada pelo MEC fere a autonomia universitária?
A maioria dos
colégios de aplicação existentes no país são unidades das
universidades, cuja finalidade é fornecer campo de estágio em diversas
áreas, fazendo parte da estrutura acadêmica das universidades. Quem
estabelece as normas de funcionamento dos CAp são as próprias
universidades. Os colégios têm regimento aprovado nos conselhos
superiores. Essa portaria fere a autonomia das universidades nesse
sentido, além de tratar do ttema como se os CAp não tivessem nenhuma
regulamentação anterior, o que é uma grande falácia do MEC.
- A
submissão dos CAp aos Conselhos de Educação dos estados, municípios e
do Distrito Federal pode prejudicar a qualidade da educação oferecida
por essas instituições?
O ensino oferecido
pelos CAps segue o mesmo modelo das universidades. É um ensino de
qualidade com professores e técnicos qualificados que observam a LDB.
O Estados/Municípios implementam uma forma de avaliação própria,
diferente das universidades federais. Além disso, o governo federal
vai ficar isento de enviar recursos humanos e materiais para os CAps,
colocando essa responsabilidade nos estados ou municípios, cujos
recursos são mais restritos ainda.
- A
fixação da proporção de 1 professor para cada 20 alunos pode
prejudicar a qualidade do ensino? De que forma?
Sim, pois vai
aumentar o número de alunos em sala de aula, cujo número, hoje, é de
30 alunos - indicado por vários organismos nacionais e internacionais
de educação, para se obter qualidade no ensino - sendo que o ideal são
25 alunos por sala de aula. Além do que essa meta é superior a
verificada nas redes estaduais que é de 18/1.
-
Qual sua opinião em relação às metas exigidas?
As metas são
definidas nos Planos Institucionais das universidades e são estimadas,
pois não podem ser totalmente controladas pela instituição, visto
inúmeros fatores que interferem no cumprimento das metas. A portaria
estipula o ano de 2012 para obtenção do IDEB acima da média nacional,
sem obedecer a critérios didático-pedagógicos, e em um prazo muito
curto.
-
Quais outros problemas a proposta apresenta?
A portaria surge em
um momento que o governo anuncia corte de 2 bilhões para a educação, o
que pode pressionar os reitores a se livrarem dos problemas em relação
aos CAp. E é justamente essa diminuição gradual de investimentos na
educação e a adoção de diversas medidas para que as universidades
assumam o modelo mercadológico, que vem causando tamanha precarização
no ensino. Os colégios de aplicação das universidades integram os
projetos institucionais para atender as demandas de estágios dos
cursos da universidade e não para atender a demanda dos estados e
municípios, e mesmo assim atendem, pois são públicos. Transferir a
gestão dos CAp para estados/municípios não vai resolver a situação de
precarização do ensino, nem para o trabalho docente nem para os
alunos. O governo mais uma vez está tratando os professores com uma
total falta de responsabilidade ameaçando inclusive com corte de
financiamento e de pessoal caso as metas não sejam cumpridas. É mais
um instrumento opressor do que regulamentador. Até porque os CAp já
possuem sua regulamentação, pelos conselhos superiores das
universidades.
Fonte:
ANDES-SN