Dos professores, de todos os dias
Por Nei Alberto Pies*
“As verdadeiras questões da educação resultam de que nas escolas há
pessoas jovens, que devem ser ajudadas, tanto quanto possível, a serem
felizes. E em que a felicidade dessas pessoas, como a de todas as
outras, consiste em satisfazerem a ânsia profunda que têm de verdade,
de bem e de beleza. Não em terem coisas e conforto”. (Paulo Geraldo)
Nós, professores e professoras de todos dias, mergulhamos no complexo
desafio de humanizar crianças, adolescentes, jovens e adultos a partir
da construção do conhecimento. Os tempos mudam, mas não mudou o papel
da escola. A escola é o grande laboratório onde se geram a
socialização e convivência interpessoal, bem como a construção do
conhecimento, a partir das idéias e iniciativas inerentes à
criatividade humana.
Abençoada seja a nossa missão de educar. Abençoados sejam nossos
propósitos, mesmo nem sempre compreendidos pelos alunos, pais e
comunidade. Abençoadas sejam nossas famílias que se geram neste
contexto que exige ousadia, paciência, preparo e persistência, em
resumo, em doação à vida dos outros. Abençoada seja a nossa saúde
física e mental, pois não podemos adoecer e nem fraquejar. Abençoados
sejam todos aqueles e aquelas que, por nossas mãos, mentes e coração
aceitaram e aceitam o desafio de fazer-se gente, a partir dos seus
potenciais e da superação de seus limites. Abençoados todos aqueles
que acreditam no trabalho do professor.
Nada mais gratificante em nossa profissão do que o reconhecimento de
alunos e alunas que, mesmo tardiamente, fazem questão de afirmar que a
gente fez diferença em suas vidas. Não há como medir, no cotidiano da
vida escolar, quando e como realizamos ações ou atitudes que marcaram
positivamente a vida de um de nossos alunos. Afinal, a gente nunca foi
e nunca será gênio para adivinhar; sempre seremos visionários para
arriscar, mudar e ousar. Nisto, sempre fomos mestres.
O que entristece a nossa vida é que tanto cuidamos da vida, dos sonhos
e dos problemas dos outros, mas nem sempre somos bem cuidados.
Queríamos, sim, reconhecimento por nosso maior feito: preservar a
importância da educação e da escola para o nosso país, para o mundo.
Muitos falam de educação, mas não são professores. Arriscam palpites
sobre melhorias na educação, mas não perguntam sobre o que a gente tem
a dizer. Não se importam com nossos baixos salários, muito menos com
nossas dificuldades de lidar com as múltiplas dimensões e necessidades
presentes nos nossos alunos. Nestes últimos quesitos, lutamos
solitários. Embora não tenha mudado o papel da escola e da educação,
mudaram as exigências para que possamos construir uma boa
aprendizagem. Temos observado que nem todo aluno e nem todos os pais
vêem a escola como uma forma de inserção na vida social e científica.
Que as necessidades dos nossos alunos estão muito além para aquilo que
a escola consegue oferecer. Que escolas e professores nem sempre estão
em condições de dar conta de tudo o que está “depositado” neles.
O fato é que, a complexidade de nosso mundo é a complexidade da nossa
escola; esta complexidade está nos distintos recantos de nosso país. O
que muda de uma escola para o outra é o modo de conduzir os processos
de aprendizagem e de interação social, mediados pelo conhecimento. A
especificidade de cada escola e de cada contexto é que precisam ser
sempre avaliados, reconhecidos e apoiados.
O professor, neste contexto, está fragilizado, exposto e pressionado
por resultados e expectativas que não dependem somente de sua atuação.
Mas professores e professoras resistem bravamente. Sabem que a dureza
dos desafios cotidianos supera-se na disposição de lutar por melhores
dias na educação, mas também na sua disposição de amar e sentir
compaixão. Como escreveu Paulo Freire, “ não é possível refazer este
país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes
brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho,
inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a
sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
Nossos dias se chamam “muito trabalho”. Nosso alento, “esperança de
dias melhores”.
* Nei Alberto Pies, professor, graduado em
filosofia e com especialização em metodologia de ensino
religioso, ativista da Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo
(RS)
Fonte:
Nei Alberto Pies. Brasil de Fato.