Professores da UFT apontam motivos para greve nacional
Categoria em
Tocantins está paralisada desde o final de junho
Por Fritz Nunes / SEDUFSM; Aline Pereira / ADUR-RJ; Silvana Sá/ ADUFRJ
Os docentes da
Universidade Federal de Tocantins (UFT) estão em greve desde o dia 27
de junho, em protesto contra a morosidade do governo federal em
estabelecer negociações efetivas com o ANDES-SN para apreciar a
proposta de carreira construída pela base do Sindicato Nacional e as
reivindicações salariais da categoria.
Durante a
plenária do dia 14/7, a ex-diretora e delegada da SESDUFT no 56º
CONAD, Neila Nunes de Souza leu uma “Carta Aberta ao 56º CONAD
sobre greve dos docentes da UFT”, pela qual expôs os problemas que
os docentes de Tocantins enfrentam desde o surgimento da instituição,
em 2003. A iniciativa tem como objetivo conclamar os professores das
universidades a se somarem ao movimento grevista, pois,
a seção sindical,
durante o 29º Congresso do ANDES-SN (Belém, 2010), apresentou como
mote: “Salário digno ou greve já”. Na ocasião, a proposta não foi
aprovada.
Neila Souza
afirmou que este é o momento de greve e que é necessária a mobilização
de todos os docentes das federais para que o sindicato nacional tenha
força suficiente para pressionar o governo a atender as reivindicações
da categoria: “Se deixarmos passar esse momento, talvez não haja mais
como fazer a greve. Nossos direitos têm sido paulatinamente
retirados”, alertou.
Segundo o
documento publicizado pela Seção Sindical dos Docentes da UFT –
SESDUFT, a atual conjuntura de “arrocho salarial sem precedentes”
justifica a greve. Na avaliação feita pelos sindicalistas, essa
defasagem é explícita quando se compara a remuneração de um professor
federal com o de um pesquisador do Ministério da Ciência e Tecnologia
– MCT. Ambos os profissionais com a mesma titulação (Mestre) e a mesma
carga horária (40h) não têm salários iguais. O pesquisador do MCT
recebe 113% a mais. Em final de carreira, essa diferença aumenta para
149%.
Ainda de acordo
com o documento, mesmo os professores doutores em Dedicação Exclusiva
(DE) têm uma remuneração 25% menor do que os pesquisadores do MCT que
trabalham sob o regime de 40h semanais. E não pára por aí: se
comparada a remuneração do professor com algumas “carreiras típicas de
estado”, observa-se que um pesquisador do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada – IPEA, em início de carreira, tem um salário 76%
superior ao dos docentes.
Além do desmonte
da carreira docente promovido pelo governo federal, a categoria da UFT
também é vítima de outras distorções. “Os primeiros professores que
ingressaram na UFT (181), em 2003, o fizeram pelo regime
previdenciário antigo. Já aqueles que entraram a partir de 2004 (564)
foram contratados sob as novas regras da Previdência, sem garantia de
aposentadoria integral, paridade e isonomia salarial”, disse Neila.
De acordo com
ela, a pressão pela greve partiu da própria base. O descontentamento é
tão grande que tem sido difícil manter o quadro de docentes estável na
Universidade. “O professor entrava na UFT e logo pedia transferência
para outras instituições de ensino. O Conselho Universitário acabou
com esta possibilidade. Então, agora, os novos concursados pensam na
Federal de Tocantins como um ‘trampolim’. Depois de aprovados e
insatisfeitos com a situação, eles seguem fazendo concursos na
tentativa de construírem sua carreira em outras instituições
universitárias, em cidades que não tenham um custo de vida tão alto
quanto em Tocantins”, avaliou Neila.