Cercado por multidão, parlamento grego aprova plano do FMI
Num parlamento cercado por manifestantes, o primeiro-ministro
socialista conseguiu a maioria dos votos para um novo plano de
privatizações, cortes salariais e aumento de impostos, uma condição
imposta pelo FMI para emprestar mais 17 bilhões de euros à Grécia. Nas
ruas, milhares de pessoas manifestaram-se contra o novo plano de
austeridade, no segundo dia de greve geral. Foi a primeira vez desde o
fim da ditadura militar que os gregos entraram em greve por mais de 24
horas.
O plano de austeridade passou por 155 votos contra 138, tendo um
deputado do PASOK (Socialista) votado contra o seu partido e um
deputado da oposição apoiado o plano do governo.
Nas ruas, milhares de pessoas manifestaram-se contra o novo plano de
austeridade, no segundo dia de greve geral. Foi a primeira vez desde o
fim da ditadura militar que os gregos entraram em greve por mais de 24
horas.
A noite de terça-feira ficou marcada por confrontos nas ruas entre a
polícia e grupos de manifestantes e mesmo depois do anúncio da votação
têm-se repetido as cenas de violência. Milhares de policiais foram
destacados para a zona do parlamento e dispararam gás lacrimogêneo e
balas de borracha sobre os manifestantes. Depois das dezenas de
feridos nos confrontos de terça-feira, a praça Syntagma voltou hoje a
ser transformada num campo de batalha, com milhares de pessoas em fuga
e a polícia a tentar encurralá-las nas ruas mais estreitas daquela
zona da cidade. O correspondente da BBC em Atenas afirma que bombas de
gás lacrimogêneo foram atiradas para a estação do metro, fazendo
diversas pessoas cair nas escadas, sufocadas. Cerca de 500 pessoas
receberam assistência no interior da estação, com problemas
respiratórios devido à nuvem de gás que percorria o centro de Atenas.
O uso de gás lacrimogêneo em larga escala foi também tema de debate no
parlamento, com os deputados criticando as ordens dadas nesse sentido
às forças policiais e a apelarem ao fim da "guerra química" travada à
porta do edifício enquanto decorria a votação. Após a votação, os
confrontos estenderam-se até junto do edifício do ministério das
Finanças, que acabou por ficar parcialmente incendiado.
A sociedade grega já vive os efeitos do primeiro pacote de medidas que
foi posto em marcha com a primeira parcela do empréstimo e que levou
ao corte de 10% nos salários dos 800 mil trabalhadores do setor
público. Com o novo plano, ao fim de três anos de recessão, a imprensa
de Atenas calcula que cada família terá de pagar mais 2795 euros por
ano, mais ou menos o rendimento médio mensal das famílias gregas.
"Os manifestantes sentem que o primeiro memorando agravou a crise",
diz Stathis Kouvelakis, professor de economia política em Londres, que
sublinha o simbolismo das imagens de manifestações em frente ao
parlamento que têm corrido o mundo. "É o sistema político contra o
povo. Existe uma ruptura de legitimidade profunda", declarou o
investigador ao diário francês Le Monde.
A pressão da opinião pública e a irredutibilidade da oposição no
parlamento trouxeram mais expectativa quanto ao comportamento dos
deputados da maioria PASOK nesta votação, que acabou por decorrer
favoravelmente aos planos da troika. A chanceler alemã Angela Merkel
reagiu de imediato ao anúncio do resultado, classificando-o como "uma
excelente notícia". Na próxima semana, o parlamento alemão irá votar
as garantias bancárias para esta parcela do empréstimo à Grécia.
Fonte: Carta Maior
|
|