Osvaldo Coggiola palestrou segunda-feira (29), no Cultura na SEDUFSM


Adolf Eichmann, mentor dos campos de extermínio de judeus e de opositores do nazismo, foi preso (seqüestrado) na Argentina pelo serviço secreto israelense, no início dos anos 1960 e teve direito a um julgamento, inclusive com advogado de defesa, em território israelense. Já Osama Bin Laden, que pela quantidade de mortes que lhe são atribuídas, seria um “trombadinha do terrorismo”, se comparado aos atos perpetrados por Eichmann, acabou morto como um “cachorro”, sem direito a julgamento. E, o pior, nem os governos “ditos de esquerda” protestaram em relação a esse fato, aceitando-o com naturalidade, espinafra Coggiola.

O economista argentino e professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), Osvaldo Coggiola esteve na noite de segunda, 29, participando da 48ª edição do Cultura na SEDUFSM, que abordou os reflexos mundiais do 11 de setembro, passados 10 anos. Coggiola, que é autor de mais de 60 livros, falou especificamente sobre “O terrorismo e o 11 de setembro”, para um público de mais de 90 pessoas, que lotou o auditório do sindicato docente da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A coordenação da palestra foi do professor de História da instituição, Carlos Armani.

Para o professor da USP, nunca existiu uma conspiração terrorista internacional, que efetivamente ameaçasse o mundo ocidental, como fez parecer o governo George W. Bush para justificar a “guerra ao terror”, que em outubro de 2001 levou à invasão do Afeganistão e, em 2003, à invasão do Iraque. O que houve foi a organização de uma rede terrorista (Al Qaeda), cujo líder, Osama Bin Laden (de origem árabe), havia sido financiada pelos próprios Estados Unidos, a partir de 1979, momento em havia a resistência dos afegãos contra a invasão dos soviéticos (hoje apenas russos). Com a desocupação do Afeganistão e o fim do regime soviético, a Al Qaeda passa a combater um outro tipo de “infiel”, neste caso, os norte-americanos, em função da ingerência e dominação desses no mundo árabe.

Para Coggiola, é inegável que o número de atentados comandados por Bin Laden, especialmente os do ‘11 de setembro’, que incluíram a espetacular ação de derrubada das torres gêmeas, em Nova York, causou grande impacto. Contudo, na avaliação do historiador, a rede terrorista hoje está desarticulada e, em alguns casos, lhe seriam atribuídas mais responsabilidades do que efetivamente teria. Um sintoma disso foi a própria morte de Osama Bin Laden. No entendimento do professor, Bin Laden foi morto em um momento em que não apenas estava fora da coordenação de ataques terroristas, como também sequer o “valor simbólico” possuía mais. “Osama teria sido encontrado em uma cidade paquistanesa, dividindo uma casa com outra família, com seguranças que carregam apenas revólveres. Que perigoso líder terrorista era esse, para ser encontrado de forma tão simples e desprotegido”, questiona o professor.

Uma das demonstrações de que as ideias dos chamados extremistas islâmicos não têm a força que lhes são atribuídas, especialmente pelo governo norte-americano e por uma mídia que trabalha na “superficialidade”, Osvaldo Coggiola cita as insurreições democráticas recentes de países árabes. Ele ressalta que na Tunísia, que foi o primeiro a sofrer o levante popular, e depois no Egito, o extremismo islâmico não teve qualquer participação. “A indignação partiu especialmente de jovens, estudantes, contra os efeitos da crise econômica, do desemprego e da exclusão social como um todo”, analisa o historiador.

Um efeito político-econômico dos atentados de 11 de setembro acaba sendo pouco lembrado, conforme Osvaldo Coggiola. Ele explica que após o episódio, o presidente do banco central norte-americano (FED), Alan Greenspan, reduziu a taxa de juros, gerando um ciclo de crescimento econômico naquele país entre os anos de 2002 e 2007, que só veio a ser interrompido a partir da crise econômica de 2008/2009, que levou à quebra de instituições financeiras e a aprovação de uma ajuda governamental de 16 trilhões de dólares (1/4 do PIB mundial) a apenas 25 bancos.

Em rápidas pinceladas sobre os efeitos da atual crise econômica mundial, Osvaldo Coggiola destacou que tudo o que se afirmar no momento é incerto. O que existe de concreto, segundo ele, é que o Brasil gasta 40% de tudo que é produzido (PIB) para pagamento da dívida, o Japão compromete 220% do PIB com a dívida e a Itália gasta 120% do PIB. Para ele, esse tipo de modelo econômico é insustentável. O que vai acontecer, quando vai acontecer e que tipo de conseqüência a ampliação da crise trará, ainda é uma incógnita. Contudo, o historiador alerta para os ventos que sopram dos países árabes, da Europa e do Chile.

Nesta terça, 30, pela manhã, o professor de História da USP, que também é diretor do ANDES-SN, encerrou seu ciclo de palestras em Santa Maria, falando sobre “Os caminhos da História na América Latina”, no auditório Sérgio Pires. A mesa foi coordenada pelo professor de História da UFSM e conselheiro da SEDUFSM, Diorge Konrad, que teve também o apoio do professor Vitor Biasoli.



Por Fritz Nunes
Sedufsm - Seção Sindical

 

 


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