Organização dos trabalhadores permeou os debates nos três dias do
curso de formação sindical
Com a participação de docentes de cerca de 20 universidades do
país, o Curso de Formação Sindical promovido pelo ANDES-SN e ADUFPA -
Seção Sindical discutiu as origens do movimento sindical brasileiro, a
organização do mundo do trabalho, a trajetória do ANDES-SN, as
sucessivas crises econômicas e a reorganização da classe trabalhadora.
O evento, que teve
início na sexta-feira (17/6), promoveu três dias de intenso debate,
com o objetivo de potencializar a formação teórica dos docentes e
qualificar a intervenção política dos sindicalizados. O curso foi
realizado na Ilha de Mosqueiro, em Belém do Pará.
A trajetória do ANDES-SN
Durante o debate, os
professores puderam conhecer um pouco mais sobre a história do
Sindicato Nacional a partir da exposição “A construção do ANDES-SN em
oposição à estrutura sindical vigente”, feita pelo professor doutor da
Universidade Estadual de Campinhas (Unicamp), Edmundo Fernandes Dias.
Militante histórico do movimento docente, Edmundo relembrou as
articulações e cenários políticos que resultaram na criação da
Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior, em 1981, que sete
anos depois foi transformada em Sindicato. “O ANDES-SN foi construindo
resistências, ao longo dos anos, dentro das Universidades
brasileiras”, orgulha-se Edmundo, ao enumerar diversas lutas desde a
grande greve nacional da categoria no início da década de 80.
Edmundo Dias afirmou que é preciso criar condições para que cada
militante docente tenha conhecimento sobre qual é o projeto do
sindicato. “A gente quer manter vivo esse sindicato não apenas para
brincar de democracia, mas porque ele é necessário para que a
Universidade seja autônoma, tenha liberdade acadêmica e não seja uma
simples junção de papers”, defendeu.
Ao final de sua exposição, Edmundo Dias foi homenageado pela diretoria
da ADUFPA em reconhecimento às contribuições que têm dado ao movimento
docente brasileiro e ao papel desenvolvido na construção e
fortalecimento do ANDES-SN.
O mundo do trabalho
A reconfiguração do
mundo do trabalho também foi analisada no Curso de Formação Sindical
pelo professor doutor de História da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (Unioeste), Antônio de Pádua Bosi. O docente ministrou a
palestra “As transformações recentes do processo produtivo e a
reorganização da classe trabalhadora: suas formas materiais e
organizacionais”. “Houve uma recomposição do mundo do trabalho com a
redução de postos e, ao invés de enfrentar essa situação, a CUT
resolveu se adequar”, apontou Bosi.
Em sua análise, o docente da Unioeste partiu da estrutura da sociedade
para explicar as mudanças no processo de organização da classe
trabalhadora, destacando a ampliação e abertura de mercados, a
integração de economias nacionais por meio de acordos bi ou
multilaterais e o desenvolvimento de práticas e regras estruturantes
de formas de produção e acumulação do capital, entre outros aspectos.
Segundo Bosi, na medida em que articula o processo de trabalho, o
capital organiza os trabalhadores política, cultural e socialmente. O
docente avalia que as formas de auto-organização e de resistência dos
trabalhadores correspondem às formas de dominação capitalista. “Toda
reestruturação produtiva é um processo de reformulação da dominação
capitalista, principalmente de combate à autonomia e independência do
trabalhador em relação ao seu trabalho”, explicou.
A organização da classe trabalhadora
O último dia do
evento foi marcado pela exposição do professor doutor da Universidade
de São Paulo (USP), Osvaldo Coggiola, que ministrou a palestra “O
processo de luta dos trabalhadores, suas formas organizativas até o
assim chamado neoliberalismo”. Coggiola enumerou as diversas crises
econômicas ocorridas nas últimas décadas, destacando o impacto das
recessões na organização da classe trabalhadora, como nas recentes
mobilizações no mundo árabe.
Na avaliação do docente da USP, as crises capitalistas são crises de
abundância, de superprodução. “O capital tem tendência de produzir
mais mercadoria do que o mercado tem capacidade de absorver. Essa é a
natureza das crises, que são manifestações violentas da tendência de
queda das taxas de lucros”, explicou Coggiola.
Segundo ele, a recente crise econômica gerada a partir do mercado
imobiliário norte-americano, é a crise da reestruturação produtiva,
das novas tecnologias e da colonização capitalista da China. “O
problema principal dessas crises é que elas representam um fracasso de
todas as tentativas de saída das crises”, apontou.
CSP-Conlutas
O Curso de Formação
Sindical encerrou com a palestra “A reorganização da classe
trabalhadora no Brasil e a construção da CSP-Conlutas”, feita pelo
membro da Executiva Nacional da entidade, Atnágoras Lopes. O
sindicalista avaliou o cenário político brasileiro a partir da chegada
de Lula à presidência da República e a ingerência do governo na
organização sindical do país.
De acordo com ele, com a posse de Lula, a CUT avançou no atrelamento
ao aparelho do Estado. “Uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio
Vargas mostra que 45% dos cargos do alto comando dentro do governo
estão hoje nas mãos de sindicalistas, sendo que o PT mantém 47.500
filiados e sindicalistas em altos cargos”, revelou Atnágoras.
Em sua exposição, ele relembrou os fóruns da classe trabalhadora que
resultaram na fundação da CSP-Conlutas, destacou a participação da
entidade em mobilizações, como o apoio à greve dos bombeiros do Rio de
Janeiro e as paralisações nas obras do PAC, e fez um chamado à unidade
de ação e organizativa do movimento sindical, popular e estudantil.
Fonte: ADUFPA/
Max Costa