“O racismo fica escancarado ao olhar mais superficial”, entrevista
Abdias Nascimento
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Ao longo de seus 96 anos, Abdias esteve presente e participou de
inúmeras passagens importantes das lutas negras do século 20, não
só no Brasil, mas também nos Estados Unidos e na África. Sua vida
é ela mesma a própria história da luta negra. |
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Joana Moncau e
Spensy Pimentel
de São Paulo (SP)
Desinformémonos.org
A luta pelo
reconhecimento dos direitos, a dignidade e a autonomia da população
negra tem heróis de muitos países, entre África e Américas. É uma luta
tão antiga quanto a diáspora negra produzida pelo vergonhoso comércio
de africanos que vigorou no Atlântico por quase quatro séculos. É por
se tratar de uma luta de tantos povos, lugares, tempos e pessoas que
impressiona tanto conhecer a vida do ativista brasileiro Abdias do
Nascimento.
Ao longo de seus
96 anos, Abdias esteve presente em e participou de inúmeras passagens
importantes das lutas negras do século 20, não só no Brasil, mas
também nos Estados Unidos e na África. Nasceu em 1914, numa época em
que ainda eram extremamente recentes as lembranças da escravidão no
país, abolida em 1888. Nos anos 1930, engajou-se numa iniciativa
pioneira, a Frente Negra Brasileira, na luta contra a segregação
racial nos estabelecimentos comerciais de São Paulo. Por sua
militância política, foi preso pela ditadura Vargas.
Nos anos de 1940,
viajou pela América Latina como artista – é escritor, ator e artista
plástico – com a Santa Hermandad Orquídea, e fundou o Teatro
Experimental do Negro, entidade que organizou a Convenção Nacional do
Negro em 1945-46. A iniciativa foi responsável pela formulação de
diversas sugestões de políticas públicas para a população negra
durante a Constituinte de 1946. Abdias ainda organizou o 1° Congresso
do Negro Brasileiro em 1950.
Militante do
Partido Trabalhista Brasileiro, foi perseguido pela ditadura militar,
instalada pelo golpe de 1964. Exilado nos Estados Unidos, travou
contato com o movimento negro no país, no auge da efervescência do
Black Power. Nos anos 1970, participou do movimento pan-africanista e
foi professor universitário na Nigéria. Nesse período, atuou em países
como Jamaica, Tanzânia, Colômbia e Panamá, mantendo contato com
lideranças como Aimé Césaire, Frantz Fanon, Léon Damas, Richard
Wright, Cheikh Anta Diop, Léopold Sédar Senghor e Alioune Diop.
Ajudou a
organizar o Movimento Negro Unifi cado (MNU), fundado em 1978, e, na
redemocratização dos anos 1980, voltou ao país, foi eleito deputado
federal e, depois, chegou a senador pelo PDT, sempre defendendo
projetos em benefício da população negra. Junto com a esposa, Elisa
Larkin Nascimento, fundou o Instituto de Pesquisas e Estudos
Afro-Brasileiros (Ipeafro), atualmente presidido por ela.
Na entrevista a
seguir, respondida por e-mail por sua esposa, Elisa, e subscrita por
ele, Abdias dá um recado à nova geração de jovens negros militantes:
“O conselho que dou para essa juventude é estudar, aprender, conhecer
e se preparar para, então, se engajar: agir, criar, interagir e
participar da construção das coisas.”
Qual a
importância de se criar o Dia Nacional da Consciência Negra? Por que o
senhor lutou para que a data fosse instituída no dia 20 de novembro,
dia da morte do líder Zumbi dos Palmares, e não no dia 13 de maio, dia
da promulgação da Lei Áurea, data antes escolhida pelo governo?
Abdias do
Nascimento –
A demanda de se instituir o Dia Nacional da Consciência Negra no dia
20 de novembro surgiu na década dos 1970 a partir do Rio Grande do
Sul, onde o saudoso poeta Oliveira Silveira militava no Grupo Negro
Palmares. O movimento negro como um todo, organizado em entidades em
vários estados do Brasil naquela época, a encampou. Eu já costumava
dizer que a Lei Áurea não passava de uma mentira cívica. Sua
comemoração todo ano fazia parte do coro de autoelogio que a elite
escravocrata fazia em louvor a si mesma no intuito de convencer a si
mesma e à população negra desse esbulho conhecido como “democracia
racial”. Por isso o movimento negro caracterizou o dia 13 de maio como
dia de reflexão sobre a realidade do racismo no Brasil.
O dia 20 de
novembro simboliza a resistência dos africanos contra a escravatura.
Essa resistência assume diversas expressões táticas e perpassa todo o
período colonial. Durante esse período, em todo o território nacional,
havia quilombos e outras formas de resistência que, em seu conjunto,
desestabilizaram a economia mercantil e levaram à abolição da
escravatura. Esse é o verdadeiro sentido da luta abolicionista, cujos
protagonistas eram os próprios negros. Eles se aliavam a outras
forças, mas, muitas vezes, foram traídos por seus aliados. Mais tarde,
entretanto, a visão eurocêntrica da história ergueria os aliados como
supostos atores e heróis da abolição. A comemoração do Dia Nacional da
Consciência Negra em 20 de novembro tem como objetivo corrigir esse
registro histórico e reafirmar a necessidade de continuarmos, nós, os
negros, protagonizando a luta contra o racismo que ainda impera neste
país.
O Memorial Zumbi,
movimento nacional que agregava entidades do movimento negro de todo o
país em torno da demanda da recuperação das terras da República dos
Palmares, ergueu essa bandeira na década dos 1980. Tive a honra de
participar desse movimento. O Memorial Zumbi instituiu a tradição de
se realizarem peregrinações cívicas anuais às terras de Palmares na
serra da Barriga, estado de Alagoas. Conseguimos, em 1989, a
desapropriação dessas terras. O objetivo era instalar ali um polo de
cultura de libertação do negro. Hoje, existe um monumento e assistimos
a cerimônias cívicas no dia 20 de novembro em que participam altas
autoridades do governo federal e estadual. Mas para nós, negros, o
monumento lembra a necessidade de continuarmos lutando pelo fim da
discriminação racial.
O senhor esteve
no exílio, de 1968 a 1981, por conta da enorme repercussão que teve a
sua “carta-declaraçãomanifesto” na qual denunciava a farsa do paraíso
racial que se dizia viver na América Latina. Como o senhor avalia a
questão da “democracia racial” no Brasil de hoje? Onde é possível
dizer que a crítica a ela colheu frutos?
O racismo no
Brasil se caracteriza pela covardia. Ele não se assume e, por isso,
não tem culpa nem autocrítica. Costumam descrevê-lo como sutil, mas
isto é um equívoco. Ele não é nada sutil, pelo contrário, para quem
não quer se iludir ele fica escancarado ao olhar mais casual e
superficial. O olhar aprofundado só confirma a primeira impressão: os
negros estão mesmo nos patamares inferiores, ocupam a base da pirâmide
social e lá sofrem discriminação e rebaixamento de sua autoestima em
razão da cor. No topo da riqueza, eles são rechaçados com uma
violência que faz doer. Quando não discrimina o negro, a elite
dominante o festeja com um paternalismo hipócrita ao passo que
apropria e ganha lucros sobre suas criações culturais sem respeitar ou
remunerar com dignidade a sua produção. Os estudos aprofundados dos
órgãos ofi ciais e acadêmicos de pesquisa demonstram desigualdades
raciais persistentes que acompanham o desenvolvimento econômico ao
longo do século 20 e início do 21 com uma fi delidade incrível: à
medida que cresce a renda, a educação, o acesso aos bens de consumo,
enfim, à medida que aumentam os benefícios econômicos da sociedade em
desenvolvimento, a desigualdade racial continua firme.
Pensando o caso
de Cuba, em específi co, como o senhor considera o fato de que um
governo dito socialista, num país de população negra tão expressiva,
aparentemente não mostra avanços na participação política dos negros?
A ideologia
racial cubana é irmã gêmea da “democracia racial” brasileira. O ideal
da “Cor Cubana” acompanha a constante referência ilusória à suposta
cordialidade latina. A história recente envolve os ideais da
revolução, o engajamento militar na África durante as guerras de
libertação nacional e a atuação internacional de médicos em países
como o Haiti. A dinâmica entre o sonho e a realidade do socialismo dá
um tom distinto ao questionamento do sistema no que diz respeito à
questão racial. Entretanto, não há como negar certos fatos:
(a)
Os negros não estão presentes no poder político do regime cubano em
número proporcional à sua participação na população.
(b)
As desigualdades raciais perduraram ao longo do processo de mudança
social implantado após 1959 e continuam sendo constatadas em pesquisas
recentes.
(c)
Há uma crescente discussão da questão racial em Cuba conduzindo ao
reconhecimento de que a revolução não resolveu essa questão.
(d)
Hoje, a demanda por uma abertura democrática do regime não é o
discurso só de uma minoria elitista, branca, incrustada em Miami e
aliada aos interesses do bloqueio. Há uma oposição de origem humilde,
composta em parte por negros e mestiços que apontam processos de
exclusão e de desigualdades raciais. Não podemos mais rechaçar essa
oposição como um bando de criminosos cuja traição se basearia em
mentiras fabricadas pela direita fascistoide.
Durante o período
em que o senhor esteve exilado, pôde estabelecer o contato entre o
movimento social negro norte-americano e o da América Latina, até
então, quase desconhecido daquele. Esteve com movimentos inspiradores,
como os Panteras Negras. Atualmente, muitos desses lutadores ainda
pagam o preço da sua resistência, vários estão presos desde os anos
1970, condenados à pena de morte ou à prisão perpétua nos EUA. Como
pode ser possível que se fale tão pouco desses presos políticos?
Como sabemos, a
mídia é dominada pelo poder econômico e não lhe interessa divulgar
esses casos. Mas não é só o poder econômico, também a ideologia pode
contribuir para isso. Não é fato novo para mim. Na década de 1940,
quando o Brasil passava por um processo de redemocratização depois do
regime do Estado Novo de Getúlio Vargas, eu ajudei a fundar o Comitê
Democrático Afro-Brasileiro.
Aguinaldo Camargo
e Sebastião Rodrigues Alves participaram, além de outras lideranças, e
nós nos reuníamos na sede da União Nacional de Estudantes, a UNE, uma
organização de esquerda. O Comitê era aberto e defi niu como
prioridade imediata a luta pela libertação dos presos políticos do
regime. Entretanto, quando essa libertação foi conquistada e nós
negros queríamos tratar das questões específicas relacionadas à
discriminação racial, nossos companheiros brancos de esquerda não
aceitaram. Taxaram-nos de racistas e exigiram que fizéssemos
autocrítica. Não entramos nessa conversa, evidentemente. O Comitê
morreu de morte matada. Depois, na época em que eu voltava do exílio
no final dos anos de 1970, havia um movimento pela anistia ampla e
irrestrita. Mas a liderança esquerdista desse movimento não reconhecia
a prisão dos negros por discriminação racial como uma forma de
perseguição política. Morriam trabalhadores negros nas prisões, como
continua acontecendo hoje. Nós negros consideramos isso uma questão
política. Mas, para as forças de esquerda, presos políticos seriam
apenas os fi lhos de classe média e alta, quase todos brancos, que
roubavam bancos, jogavam bombas ou sequestravam embaixadores. Esses,
em muitos casos, efetivamente haviam cometido atos de violência,
enquanto não raro negros são presos e torturados sem terem cometido
crime algum.
Qual a
importância que o senhor credita ao hip hop, no Brasil, para o
movimento negro e para a população negra em geral? É um movimento
herdeiro das lutas que pioneiros como o senhor travaram?
Considero o hip
hop um movimento muito importante, sobretudo no aspecto da autoestima,
pois as letras de muitas músicas e a atuação social de muitos de seus
integrantes ajudam os jovens negros e as jovens negras a elevar o
conceito que têm de si mesmos e de sua comunidade. Certamente, o hip
hop cuida de muitas questões que são as versões atualizadas dos
problemas que o movimento negro tem enfrentado desde sempre, e o hip
hop oferece para a juventude uma referência, uma esperança e uma visão
diferente daquela que a sociedade dominante e os meios de comunicação
cultivam e que a juventude reconhece como mentirosa e interesseira.
Entretanto, creio que seus protagonistas tenham pouco acesso aos
referenciais históricos das lutas anteriores, e, nesse sentido, sua
condição de herdeiros seja um pouco simbólica. Por exemplo, me parece
que eles conhecem mais a história do movimento negro nos Estados
Unidos, o discurso de Malcolm X e Martin Luther King, e os
referenciais do reggae da Jamaica do que os fatos e os discursos do
movimento negro no Brasil dos séculos 20 e 21. Pode ser que eu esteja
equivocado, espero que sim!
Depois de séculos
de lutas, hoje vemos uma juventude negra que está conseguindo chegar
às universidades, ter mais oportunidades econômicas, formando uma
elite intelectual negra. Como o senhor compararia a atual situação da
juventude negra com a da época do senhor, com a da Frente Negra? Quais
os conselhos que daria a essa juventude?
As entidades
negras atualmente promovem muitas iniciativas análogas às da Frente
Negra. O Estatuto de Igualdade Racial e todos os outros dispositivos
legais, programas governamentais e instituições ou órgãos de governo
dedicados às políticas públicas de igualdade racial, por exemplo, são
conquistas concretas, frutos da atuação política do movimento negro.
Nenhum deles foi uma bênção ou dádiva dos governantes ou políticos,
muito ao contrário. Se há uma crítica ao Estatuto, é porque, em razão
da ferrenha oposição contra ele nos setores conservadores que dominam
a política brasileira, o processo de negociação de sua aprovação no
Senado impôs uma série de aparentes retrocessos na letra da lei em
relação a programas de governo já implantados como resultado da
atuação do movimento negro. Mas foi o movimento negro que conseguiu
implantar esses programas, então ele está longe de se limitar a atacar
o governo. Foi ele que inseriu na Constituição de 1988, por exemplo, o
direito das comunidades quilombos à titulação de suas terras. O
conselho que dou para essa juventude é estudar, aprender, conhecer e
se preparar para, então, se engajar: agir, criar, interagir e
participar da construção das coisas. Cada um tem seu talento e sua
área de interesse. O importante é se colocar a serviço do avanço e
dedicar-lhe as suas energias.
Muito se fala do
movimento negro no âmbito urbano, mas o Brasil assistiu, nos últimos
anos, ao crescimento do movimento negro rural, particularmente o
movimento quilombola, para o qual também o senhor teve especial
importância na garantia do direito fundiário das comunidades
quilombos. Qual a importância da questão da terra para o movimento
negro, hoje?
Como fruto da
mobilização política do movimento negro, a Constituição de 1988
estabeleceu o direito à titulação das terras das comunidades chamadas
“remanescentes de quilombos”. Em 1989, como fruto do trabalho do
Memorial Zumbi e do movimento negro como um todo, criou-se a Fundação
Cultural Palmares, que seria responsável pelo processo de titulação.
Entretanto, a Fundação é um órgão do Ministério da Cultura que não
dispõe dos recursos humanos ou fi nanceiros para executar o trabalho
de titulação. Essa tarefa passou, então, para o Ministério da Reforma
Agrária. Entretanto, a Fundação Palmares dá parecer sobre a questão
fundamental da condição quilombola, que determina o direito à
titulação. O grande argumento para negar o direito de uma comunidade é
alegar que ela não tem ou não provou que tem antecedentes históricos
que a qualifi quem como remanescente de quilombo. O processo tem sido
muito lento. Alguns anos atrás, a Fundação Palmares publicou um
levantamento em que identificou a existência de mais de três mil
comunidades quilombos em todo o país, ressalvando que certamente não
conseguiu realizar um levantamento exaustivo ou defi nitivo. A questão
da titulação esbarra, evidentemente, em poderosos interesses
contrariados que, no contexto rural, ainda exercem a violência como
forma de se impor.
Vale observar,
também, que é negra a grande maioria dos sem-terras hoje organizados e
conduzindo uma luta que tem sido defi nida como um dos mais
importantes fenômenos sociais e políticos do século 21. A importância
da terra está fundamentalmente ligada ao fato de que as cidades estão
inchadas, inviabilizadas, e não dão conta de oferecer condições de
vida dignas à população que já as habita, tendo grande parte dela
migrado do interior. A economia rural baseada na agroindústria não tem
condições de sustentar a população rural, porque não oferece trabalho
em condições dignas. A produção agrícola baseada em unidades pequenas,
familiares ou comunitárias, é a única solução para o campo e ela
precisa, hoje, de subsídios e políticas de Estado para se viabilizar.
As comunidades quilombos fazem parte integral dessa solução e precisam
de subsídios específicos e de políticas específicas para o seu
desenvolvimento como unidades comunitárias rurais.
Na América Latina
em geral, a questão étnica tem ganhado uma importância fundamental nas
lutas políticas dos povos, em países como Bolívia, Equador, México –
com diferentes tons, mas sempre realçando o fator étnico sobre o fator
classe. No Brasil, o fator étnico de maior potencial é justamente o
negro. Qual o papel que o fator étnico ocupa na luta política
nacional? Será que ele poderá ocupar papel de semelhante
preponderância na luta política?
Não recorro ao
eufemismo “questão étnica” porque creio que seu uso reforça o equívoco
da suposta acepção biológica do termo “raça”. Esta é uma pista falsa
cuja manipulação abastece de grande e valiosa munição aqueles que
procuram desmoralizar e deslegitimar a nossa luta. A categoria social
de “raça” é uma realidade socialmente construída que independe das
justifi cações genéticas e biológicas. Estas constituem apenas um
pequeno episódio no milenar processo histórico de construção das
categorias sociais de “raça”, da subordinação e desumanização
ideológica de grupos raciais e da discriminação racial
institucionalizada em sociedades capitalistas plurirraciais modernas e
contemporâneas. Os grupos discriminados nessas sociedades não
correspondem a nenhuma etnia, portanto, é conceitualmente confuso e
cientificamente incorreto falar de “discriminação étnica” quando o
alvo desse tratamento vem a ser a população negra ou indígena, por
exemplo. Um negro no Brasil, na Venezuela ou na Costa Rica não é
identifi cado como ibo, acã, zulu, hutu ou ioruba, mas como negro ou
afrodescendente. Os indígenas nas Américas não são discriminados na
sua condição de maias, incas, quéchuas, aimaras, cheyenne, iroquois,
sioux, tupis ou guaranis, mas como indígenas.
Adotar o
eufemismo “questão étnica” significa, a meu ver, uma tática defensiva
que instaura a confusão conceitual entre nós e entrega os pontos aos
adversários que alegam que nós, ao defendermos os nossos direitos,
estamos sendo racistas. Ao aceitar a defi nição deles, identificando a
categoria social de raça com o critério genético biológico, nós nos
submetemos ao discurso hegemônico que desmoraliza nossa própria luta e
deslegitima nossa própria experiência histórica de opressão e
discriminação. Dito isso, creio que fica evidente que considero o
“fator racial” como uma questão eminentemente política e não a separo
de uma suposta “outra” luta política “maior”. Considero a luta por
justiça social e pela dignidade dos povos como parte integral da luta
por nações mais justas e seguras, por uma comunidade internacional
mais justa e coesa, e por um futuro de vida humana capaz de sustentar
com dignidade nossa população, nossos ambientes e nosso planeta.
(Publicado
em
Desinformémonos. Colaboraram Rafael Gomes e Gabriela Moncau /
Ilustrações
Emory Douglas ).
Obtido em Brasil de Fato.