Movimento estudantil organiza reação à ação policial na USP
Após ação que
envolveu cerca de 400 policiais, 50 viaturas e terminou com 73
estudantes detidos, movimento estudantil volta a se unir em
manifestação em defesa da autonomia universitária. A reintegração de
posse pela polícia reforça justamente o principal motivo de indignação
dos estudantes: a presença da Polícia Militar no campus. O conteúdo do
contrato da reitoria com a OM permite a atuação livre “nos termos
constitucionais e legais” de uma das polícias mais violentas do mundo.
Na manhã desta
terça-feira (8), a Tropa de Choque da Polícia Militar de São Paulo
realizou a reintegração de posse do prédio da reitoria da Universidade
de São Paulo que estava ocupada por estudantes a uma semana. Apesar
das divergências, o movimento estudantil da universidade volta se unir
hoje em manifestação em defesa da autonomia universitária.
Cerca de 400
policiais e 50 viaturas fizeram o cerco ao prédio da administração da
universidade por volta das 5 horas da manhã. Não houve resistência por
parte dos estudantes, que foram levados à 91º DP para serem fichados.
A reitoria deve indiciar todos os detidos, seguindo assim uma política
de criminalização do movimento que já vinha sendo aplicada. Desde a
última ocupação da reitoria, estudantes passaram a sofrer processos
administrativos.
O operativo de
reintegração foi acompanhado por diversos meios de comunicação, que,
apesar de não poderem registrar o momento da entrada dos policiais –
por meio do arrombamento das portas - e da revista aos manifestantes
realizada em uma sala interna do prédio – puderam filmar o espaço
depois de esvaziado. No conjunto residencial (CRUSP), a polícia atirou
bombas de gás lacrimogêneo e impedia a livre circulação de pessoas.
Na delegacia,
inicialmente a polícia pediu fiança de 1050 reais a cada um dos 73
estudantes detidos, que permaneciam em dois ônibus até o fechamento
desta matéria. Em seguida, reduziu para o valor de um salário mínimo.
Um grupo de apoiadores se manifesta no local. Uma nova assembleia deve
ser realizada na entre hoje e amanhã para pensar novas iniciativas do
movimento.
A pauta
A reintegração de
posse pela polícia reforça justamente o principal motivo de indignação
dos estudantes: a presença da Polícia Militar no campus. Desde o dia 8
de setembro deste ano, a USP firmou um convênio com a Secretaria de
Segurança de São Paulo (SSP) e a PM que autoriza a presença permanente
no local.
O conteúdo do
contrato permite a atuação livre “nos termos constitucionais e legais”
de uma das polícias mais violentas do mundo. Segundo dados da própria
SSP, um em cada cinco assassinatos são praticados pela polícia militar
em São Paulo. Além da própria atuação, o texto traça uma cooperação
desta com a Guarda Universitária.
A reação mais
organizada dos estudantes aconteceu após uma semana de intensas
batidas policiais na USP que culminou na apreensão de 3 estudantes. A
acusação de porte de maconha foi utilizada para a incursão de um
efetivo grande de soldados que entraram no prédio da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciencias Humanas (FFLCH), dia 27 de outubro. Neste
dia a polícia já utilizou bombas, cacetetes e balas de borracha.
Os estudantes
realizaram uma assembleia, decidiram pela ocupação do prédio
administrativo da FFLCH. No dia primeiro de novembro em uma nova
assembleia, o movimento decidiu pela desocupação. Após uma divergência
metodológica no final da assembleia, uma parte decidiu restabelece-la
para votar a ocupação do prédio da reitoria.
Independente das
polêmicas, o movimento estudantil como um todo defende o fim do
convênio da USP com a PM e a SSP segundo o diretor do Diretório
Central dos Estudantes (DCE), João Victor Pavesi. Ele afirma que “os
estudantes seguem com unidade para defender a autonomia da
universidade, contra a presença da PM no campus”.
João Victor
acredita que além da crítica à polícia militar, a comunidade pode
provar que tem condições de apresentar por si mesma uma proposta de
segurança para o local. Em nota, o DCE propõe a “melhoria da
iluminação, aumento do número de ônibus, itinerários e circulares,
guarda universitária constituída por funcionários de carreira, de
caráter preventivo e com formação compatível com direitos humanos,
criação de um efetivo feminino de guardas, capacitadas para o
atendimento de vítimas de assédio sexual e estupro”.
O diretor da
entidade lembra que o atual convênio foi firmado diante da repercussão
do assassinato do estudante Felipe Ramos Paiva após reação a um
assalto. A PM estava no campus no momento da morte.
O reitor
João Grandino
Rodas ficou marcado por ter sido escolhido o segundo reitor da USP que
não obteve a maioria dos votos. Com um sistema que não permite
participação estudantil na escolha dos gestores, a universidade
assistiu a indicação do governador da época, José Serra (PSDB), para
que Rodas assumisse o cargo.
Se a indicação do
nome do reitor já causou polêmica e foi considerada pelo movimento
estudantil como uma intervenção, Rodas tem outra passagem que marcou
sua atuação na universidade. No dia 22 de setembro de 2007, o então
diretor da Faculdade de Direito, autorizou a entrada da Tropa de
Choque para retirar movimentos sociais que faziam uma ocupação do
local. A manifestação era pacífica e tinha prazo de 24 horas, pois
marcava uma jornada em defesa da educação.
A parceria de
Rodas com Serra iniciou um novo período, já que a polícia não invadia
o local desde a ditadura militar. A intervenção policial também
ocorreu na PUC-SP naquele ano, pois os estudantes de lá também
correspondiam a uma onda de ocupações que atingiu mais de 17
universidades do país.
Um outro
personagem esteve presente nos casos citados. Na reintegração de posse
de 2007, enquanto os soldados apontavam armas de fogo aos militantes
localizados na sala do Estudante na Faculdade de Direito da USP, o
comandante Álvaro Camilo dirigia a operação. Sem nenhuma abertura ao
diálogo com os manifestantes, ele foi responsável por colocar em
prática o desejo de Serra e Rodas ao retirar e deter os manifestantes.
E foi agraciado em 2011, pelo também tucano Geraldo Alckmin, atual
governador. Hoje, Álvaro Camilo é comandante geral da Polícia Militar
de São Paulo, e volta a atuar com Rodas e um governador tucano contra
o movimento estudantil.
Fonte: Ag. Carta
Maior, Fábio Nassif, 8/11/11.