Moçambicano e canadense contam suas experiências com Vale em seus
países
O “Intercâmbio
Tri Nacional Brasil/Canadá/Moçambique” entre trabalhadores e
comunidades atingidas pela Companhia Vale do Rio Doce ocorreu de 22
novembro a 4 de dezembro no Brasil. Teve como principal objetivo
discutir com todos os participantes sobre a política de desrespeito a
direitos trabalhistas, comunidades e meio ambiente da Companhia Vale
do Rio Doce nos países onde a empresa se faz presente.
O intercâmbio
passou pela cidade do Maranhão tendo seu término em São Paulo. A
Central Sindical e Popular (CSP) Conlutas entrevistou dois
companheiros que nos contaram um pouco da experiência desse encontro e
de como a Vale atua em seus respectivos países.
Conversamos com o
integrante do Movimento de Defesa da Terra do Moçambique, Rui
Vasconcelos Caetano, e com o canadense Randy Koch, ferroviário e
membro do sindicato dos metalúrgicos do Canadá, que aglutina diversas
organizações.
Qual a
importância desse encontro e seu principal objetivo?
Rui Vasconcelos
Caetano:
Fundamentalmente essa troca de experiência é contra um inimigo em
comum, a multinacional Vale. Empresa que viola os direitos das
comunidades e dos trabalhadores. Por isso, nesse encontro, definimos
estratégias e formas de resistência à Vale do Moçambique e dos países
explorados por ela.
Randy Koch:
Meu objetivo nesse encontro, como trabalhador ferroviário, é pesquisar
a realidade da estrada de ferro da Vale aqui no Brasil, assim como as
comunidades de seu entorno. Além de contar sobre minha vivência, já
que tenho 28 anos de experiência nos trilhos e lá no Canadá essas
ferrovias também são utilizadas com o mesmo objetivo, transporte de
minérios.
O que já foi
traçado como meta concreta nesse intercâmbio?
R.V.Caetano:
Buscaremos a intensificação desse intercâmbio, há experiências
positivas no Brasil e Canadá. No Brasil, por exemplo, a experiência de
envolver numa luta comum os movimentos sindical e popular é algo que
queremos levar como modelo. Em Moçambique a Vale é recente, queremos
capitalizar o espaço de mobilização.
R. Koch:
Principalmente a troca de experiências com os países que participaram
do encontro.
Vocês tiveram a
oportunidade de ir ao Maranhão e ver a realidade dos trabalhadores e
das comunidades atingidas pela Vale. Qual a semelhança com os ataques
da Vale ao seu país?
R.V.Caetano: Em
Moçambique, os ataques ao meio ambiente ainda não são tão visíveis
como aqui no Brasil. A Vale se instalou em meu país em 2004. O que
mais me impressionou no Maranhão foi ver a pobreza e desemprego por
onde passa a estrada de Ferro de Carajás (MA), que transporta o
minério. É algo que pode acontecer em Moçambique num futuro sombrio,
se não lutarmos. Aqui, a empresa era estatal e depois foi privatizada.
A Vale foi para Moçambique já privatizada. É importante o envolvimento
de todos nessa luta!
R. Koch: A
quantidade de pessoas que morrem na estrada de ferro do Carajás me
impressionou. É triste ver o descaso das autoridades com relação ao
assunto. No meu país as diferenças são basicamente em torno das leis
de saúde e segurança do trabalho. No Canadá o Estado se envolve, mas
aqui, pelo que pude perceber isso não ocorre. Nossas leis também não
são perfeitas, a luta é permanente e tem haver com os políticos que
estão no poder, que defendem as empresas e atacam os trabalhadores.
Toda a atividade de mineração tem aspectos negativos.
No final de
semana foi o desfecho do encontro, como foi esta troca de
experiências?
R.V.Caetano:
Desse encontro levo a saudade dos locais onde passamos e pudemos ver
um Brasil profundo e real. Vamos continuar a ter essa ligação com as
pessoas que estão envolvidas nessa causa.
R. Koch: O que me
impressionou não foi só aspecto negativo, mas também a solidariedade
das pessoas que moram nas comunidades atingidas pela Vale. Essa
experiência vou levar comigo.
Qual o verdadeiro
papel da Vale? A que essa multinacional tem submetido os trabalhadores
em país?
R.V.Caetano: É
retirar o máximo de lucro e mão-de-obra barata em Moçambique, país
onde a empresa oferece os piores salários. Só traz prejuízos e
sofrimento para as comunidades, como a desapropriação de famílias de
diversas comunidades para explorar a terra. Perda de direitos e
tradição das próprias comunidades. As compensações para essa retirada
de direitos são casas, porém, de péssima qualidade e em lugares
distantes, tudo para explorar o carvão. Existe um descontentamento
generalizado no meu país, ninguém quer a Vale lá, principalmente as
populações reassentadas pela empresa.
R. Koch: Não sou
empregado da Vale, mas posso dizer que querem rebaixar as leis que
protegem os trabalhadores da Vale no Canadá. Ao invés de nossas leis
servirem de exemplo para o Brasil é o contrário que está ocorrendo,
querem levar a flexibilização das leis que existe aqui para o meu
país.
Uma mensagem de
solidariedade aos mineiros aqui do Brasil e ao conjunto da classe
trabalhadora.
R.V.Caetano: Que
os trabalhadores do Brasil tenham muita coragem e nos passem sua
experiência, para que nós possamos distribuir para os outros. Assim,
nossa luta mobilizará cada vez mais trabalhadores.
R. Koch: Que
todos os trabalhadores se unam por melhorares condições de trabalho,
por isso é muito importante essa troca de experiências. Quando os
trabalhadores e comunidades atingidas pela Vale se unem por suas
reivindicações é mais certo que alcancem seus objetivos. Temos muita
vontade de compartilhar nossa experiência. A solidariedade
internacional é caminho para a construção de um mundo melhor.
Fonte:
CSP-Conlutas, 10/12/11.