Marcha por moradia entrega pauta ao Planalto e denuncia atentados
Na Semana Mundial dos Sem Teto, movimentos ocupam prédios e fazem
protesto por moradia. Em Brasília, marcha entrega à Secretaria Geral
da Presidência pauta que cobra gasto de 2% da arrecadação federal em
habitação, reclama do ministério das Cidades e exige negociar despejos
por causa de obras da Copa. No Senado, movimento denuncia perseguição
e atentados contra militantes.
BRASÍLIA
– Movimentos sociais em defesa de moradia urbana aproveitam a Semana
Mundial dos Sem Teto e realizam, nesta terça-feira (4), manifestações
em todo o país, com ocupação de prédios púlicos, passeatas e protestos
contra autoridades. Em Brasília, a pauta de reivindicações foi
entregue por líderes da marcha ao ministro-chefe da Secretaria Geral
da Presidência, Gilberto Carvalho, enquanto militantes estavam em
frente ao Palácio do Planalto com faixas e bandeiras cobrando a
presidenta Dilma Rousseff, que está na Europa.
Ao mesmo tempo em que ocorria a reunião no Planalto, alguns dirigentes
do movimento participavam de audiência pública no Senado na qual
denunciaram a perseguição e a tentativa de assassinato sofridas por
militantes sem teto.
Eles entregaram ao presidente da Comissão de Direitos Humanos, senador
Paulo Paim (PT-RS), relatório descritivo dos atentados, para ser
encaminhado ao Ministério Público e ao Ministério da Justiça. O
documento também foi dado ao Ouvidor Nacional da Secretaria de
Direitos Humanos, Bruno Renato Nascimento Teixeira.
“A criminalização dos movimentos sociais é um problema muito sério,
especialmente contra militantes sem teto nos últimos meses”, disse
Guilherme Castro Bolos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem
Teto e da Frente de Resistência Urbana.
O relatório conta três casos brevemente narrados pelas próprias
vítimas na audiência. Em Manaus, o militante sem teto Julio Cesar
sofreu dois atentados por lutar contra a especulação imobiliária e a
grilagem de terras. Segundo ele, um irmão teve uma arma apontada na
cabeça para revelar seu paradeiro. “Não tenho rotina, Não durmo duas
vezes no mesmo lugar. Isso protege minha vida”, disse Julio Cesar.
Uma ameaça igual – arma contra a cabeça – foi registrada em Minas
Gerais. Contra uma menina de quatro anos, de nome Sofia. Os pais dela,
Lacerda e Elaine, participaram de uma ocupação e foram pressionados,
por homens armados, a entregar os nomes e o paradeiro dos líderes do
ato.
Um outro caso ocorreu na própria capital federal contra um coordenador
de um movimento de sem teto. O militante, de nome Edson, teve a casa
invadida por dois homens, que lhe fizeram 18 disparos. Ele sobreviveu.
Segundo o relatório, o motivo do atentado teria sido uma ocupação
comandada por Edson em Ceilândia, uma das mais pobres cidades
satélites de Brasília.
Governo
“A proteção das lideranças não é uma questão central, mas precisa ser
discutida”, disse o ouvidor Nascimento Teixeira. Segundo ele, o
“Disque 100” criado pela Secretaria de Direitos Humanos para receber
denúncias de violência contra crianças está aberto também para casos
de discriminação racial ou sexual, torturas e atentados como os
relatados na audiência pública.
Mas, disse, é preciso também que os movimentos “façam pressão sobre o
Ministério Público, o Poder Judiciário, os estados e os municípios”,
porque, do contrário, um debate como o desta terça-feira fala apenas
para quem já está engajado de alguma forma.
Assessor na Secretaria de Articulação Nacional da Secretaria Geral da
Presidência, Jeter Luiz Gomes participou do debate e disse que o ógão
“repudia toda e qualquer violência” contra os movimentos sociais.
Segundo ele, apesar de os governos Lula e Dilma terem criado e
ampliado o programa de moradias Minha Casa Minha Vida, de construção
de imóveis, o passivo na área ainda é grande, como reclama a Marcha
que se realiza nesta terça.
Pauta de reinvindicações
Aglutinados em torno do Fórum Nacional de Reforma Urbana, os
movimentos presentes à Marcha têm cinco reivindicações principais,
listadas na pauta entregue a Gilberto Carvalho.
Exigem participação popular e controle social das obras do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC). Cobram que o ministério das Cidades e
a Caixa Econômica Federal parem de tomar decisões só em “gabinetes” e
negociem a flexibilização de regras de acesso a moradias em regiões
urbanizadas.
Querem uma “urgente política de distribuição de terras” e prédios
federais para “enfrentar a especulação imobiliária” nos centros e nas
periferias das cidades. Esperam que o Congresso aprove proposta de
mudança constitucional de 2008 que impõe gastos obrigatórios com
moradia popular (2% das receitas federais e 1% das estaduais e
municipais).
Por fim, cobram que o governo discuta ameaças de remoção de famílias
de áreas em que há obras da Copa do Mundo de 2014. Os despejos
estariam acontecendo não só po causa da construção ou reforma de
estádios, mas também de obras de mobilidade urbana, por exemplo.
Fonte: Carta Maior, André Barrocal.