Marcha inédita em Brasília cobra demarcação de terras quilombolas
Manifestantes
reinvindicam demarcação e titulação de cinco mil comunidades em todo o
país. Eles reclamam que governo não reconhece 30% das terras e é
inoperante para certificar as demais. Para contornar 'esquecimento'
pela sociedade, lançam campanha nacional que vai durar dois anos.
Reivindicações foram entregues à Secretaria Geral da Presidência.
BRASÍLIA –
Uma marcha inédita bloqueou parte da Esplanada dos Ministérios nesta
segunda-feira (7). Os manifestantes foram às ruas cobrar a demarcação
de terras de quilombos. A mobilização marcou o lançamento de uma
Campanha Nacional pelos Direitos do Povo Quilombola, que por dois anos
vai tentar chamar a atenção para uma causa que seus organizadores
consideram ignorada pela sociedade.
No início da
noite, representantes da Coordenação Nacional de Articulação das
Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Contaq), entidade que articulou
a marcha, tinham conseguido também uma reunião com a Secretaria Geral
da Presidência. Eles entregariam ao principal interlocutor do governo
junto aos movimentos sociais a pauta de reivindicação do movimento.
O principal
pleito é para que haja demarcação e titulação dos cerca de 5 mil
territórios quilombolas identificados no país. De acordo com Arilson
Ventura, da Contaq, daquele total, o governo só reconhece 3,5 mil
(70%). E só a metade da área reconhecida estaria devidamente
certificada. “Apenas uma minoria das famílias quilombolas já receberam
a titulação das suas terras”, disse.
Um dos quilombos
que sofre com a falta de titularização das suas terras é o Luizes,
cravado em meio à Belo Horizonte (MG), no bairro do Grajaú. “Nossas
terras tinham 18 mil metros quadrados já reconhecidos pelo governo.
Porém, com a demora na titularização, a invasão imobiliária das
grandes construtora só nos deixou uma área de 4 mil metros quadrados.
Das 120 famílias quilombolas, 20 tiveram que ir embora”, afirmou a
líder local, Jorgina Guimarães.
Na passagem pela
capital federal, os quilombolas participaram também de uma audiência
pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos do Senado. “A
audiência foi muito boa por ter proporcionado o debate entre
parlamentares e representantes das comunidades. Não fomos lá apenas
ouvi-los, mas também apresentar nossas reivindicações e opinar sobre
as soluções possíveis”, enfatizou outra líder da Contaq, Maria
Rosalina.
De acordo com
ela, o principal entrave para o processo de titularização das terras
quilombolas seria a inoperância do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra). “Os processos são muito demorados e os
representantes do Incra alegam que não possuem quadro técnico
suficiente para agilizar a demarcação das terras quilombolas”, disse.
Rosalina
acrescenta que os manifestantes exigem também a efetivação de outras
políticas públicas complementares nos quilombos. “As carências são
muitas. Precisamos de saúde, educação, estradas, moradia, energia
elétrica, acesso à água. Queremos garantir a cidadania às comunidades
quilombolas”, resume.
Marilene Santos
Silva, do quilombo Pimenteira, no município de Camamu (BA), confirma.
“Só aqui no município, são dez quilombos. Todos eles com sérios
problemas de estrutura”, denuncia. Na comunidade em que vive, ao lado
de 64 famílias, a carência é absoluta. “Não temos estradas, nem
energia, nem moradia. E a escola é péssima”, afirmou.
A quilombola
garante que a vida na comunidade só não é mais miserável devido às
políticas públicas de transferência de renda do governo federal. No
quilombo, há plantações que garantem a subsistência básica das
famílias. Entretanto, as péssimas condições das estradas impedem a
comercialização do excedente. O quilombo Pimenteira já foi reconhecido
como tal, mas as terras ainda não foram titularizadas.
De acordo com os
organizadores, a marcha reuniu duas mil pessoas.
Fonte: Ag. Carta
Maior.